A disputa pelas narrativas, o negacionismo nas ciências e a suposta luta anti-ideologização empreendida pelos conservadores
por Almir Cezar Filho
Ao longo do século XX a humanidade foi submetida a uma espécie de desdobramento paroxístico do e de sua terrível dialética: ao invés do prometido triunfo de uma vida civilizada, racional e livre das peias da incivilização, o processo civilizatório se mostrou violento, genocida, amigo da guerra e da destruição.
Nunca um número tão grande de seres humanos foi executado em guerras ou por meios tão terríveis e vis como os campos de concentração e de extermínio, como ocorreu no século XX.
A razão ocidental, esse constructo, que era constantemente redesenhado e cujas origens também foram projetadas, desde o Renascimento, na Grécia antiga, foi derretida sob o calor dessas catástrofes. O abalo levou a uma disseminação dos saberes.
Trata-se do conhecido “fim das grandes narrativas”, não só no sentido benjaminiano, da morte do narrador, mas também da morte dos grandes discursos que procuravam dar sentido (um sentido nomológico) à humanidade e à sua história e devir.
Ao invés da fé cega na Razão e na sua capacidade de revelar a verdade, surge cada vez mais ao longo da Modernidade um outro modo de pensar e de agir que desconfia dos arquivos, da memória, dos conhecimentos formais e sistematizados e da bibliografia.
Por outro lado, a História, as Ciências e Humanidades deixaram de olhar somente para as grandes figuras e passaram a ter uma visão da sociedade como um todo. Já não são mais laudatórios e acríticos.
São justamente essas novas perspectivas da análise do passado que incomodaram setores mais conservadores da sociedade, por produzirem efeitos no presente. Como na Comissão Nacional da Verdade e nas políticas de ação afirmativa e de direitos das mulheres.
Para esses setores, no caso da História, mais vale um falso passado conciliador que a dor latente de um passado cheio de falhas que ainda deixa marcas em nosso presente. Esses grupos entenderam que a manutenção de seus privilégios historicamente construídos depende fundamentalmente do controle da narrativa sobre o passado e de explicação da sociedade
E se aproveitam, simultaneamente, no ceticismo com o conhecimento positivo, quanto do novo conhecimento crítico, para assentar base a sua re-narrativa. Brota assim, de um lado, seu negacionismo e o conspiracionismo. Brota, de outro, sua suposta luta contra "ideologias" e "partidarismos", com suas campanhas marcartista de mordaça nos professores,
Notas:
* Na era dos arquivos, por Márcio Seligmann-Silva
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