sábado, 18 de outubro de 2025

Crescimento, Inflação e Coerência Estrutural: uma síntese Preobrazhensky–Kalecki para o desenvolvimento brasileiro

 Entre o fiscal e o monetário: um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário para economias em desenvolvimento*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo

O artigo propõe um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário, fundamentado na síntese entre Evgeni Preobrazhensky e Michał Kalecki. A partir de uma releitura marxista das relações entre produto efetivo e produto potencial, o texto demonstra que a estabilidade de preços não depende da contração fiscal ou monetária, mas da compatibilidade estrutural entre os ritmos de expansão setoriais. O modelo formaliza o produto agregado como a soma das respostas diferenciais da produção (YΣ=1/dXiY_{\Sigma} = \sum 1/dX_i), identificando um ponto ótimo de coerência (Y^0\hat{Y}_0) em que o crescimento da renda coincide com a capacidade produtiva sem gerar inflação.Essa formulação integra o teorema de Preobrazhensky sobre inflação e desproporção nos países em desenvolvimento e a taxa de crescimento garantido de Kalecki (g=s/vg = s/v, resultando em uma equação composta (gNI=s/βivig^{NI} = s / \sum \beta_i v_i) que expressa a taxa de expansão compatível com a estrutura produtiva real. Aplicado ao caso brasileiro, o modelo revela que a inflação recente decorre não de déficits fiscais, mas de gargalos produtivos intersetoriais — a superposição de cadeias de oferta descompassadas. O artigo conclui propondo substituir a atual política de metas de inflação por uma meta de coerência estrutural, que combine planejamento produtivo, investimento coordenado e mensuração periódica do crescimento não inflacionário. Essa abordagem redefine o papel da política macroeconômica, colocando o planejamento e a proporcionalidade produtiva como fundamentos da estabilidade e do desenvolvimento sustentável em economias periféricas.

Palavras-chave: 

Preobrazhensky; Kalecki; crescimento garantido; inflação estrutural; coerência interdepartamental; planejamento econômico; Brasil.

Introdução – Crescimento, Inflação e a Falácia do Desequilíbrio Fiscal

Nas últimas décadas, o debate econômico brasileiro tem sido sequestrado por uma falsa oposição entre responsabilidade fiscal e expansão produtiva. À política fiscal atribui-se a origem das pressões inflacionárias; à política monetária, o papel de guardiã da estabilidade. Sob essa narrativa, o crescimento seria, por definição, inflacionário; e a austeridade, sinônimo de sensatez. Contudo, a experiência recente do país — inflação persistente mesmo com juros recordes e baixo dinamismo — revela que algo fundamental está errado nesse raciocínio.

A inflação brasileira contemporânea não nasce do “excesso de gasto público”, mas dos gargalos estruturais de uma economia heterogênea, dependente e desproporcional. Em vez de se propagar de cima para baixo pela demanda, ela emerge de dentro do sistema produtivo, das descompensações entre setores e departamentos, que limitam a expansão da oferta e elevam os custos antes mesmo que o consumo popular se recupere. A política monetária restritiva, ao inibir o investimento justamente nos elos mais frágeis — energia, logística, indústria de base e agricultura —, apenas aprofunda o desequilíbrio que pretende corrigir.

É nesse ponto que o pensamento de Evgeni Preobrazhensky e Michał Kalecki recupera toda a sua atualidade. Ambos demonstraram que o equilíbrio entre crescimento e estabilidade de preços não depende do freio da demanda, mas da compatibilidade entre os ritmos de expansão dos setores e departamentos da economia. Em Preobrazhensky, essa compatibilidade material expressa-se no equilíbrio entre os Departamentos I (meios de produção) e II (meios de consumo); em Kalecki, na proporção entre poupança, investimento e capacidade produtiva, que define a taxa de crescimento garantido.

Partindo dessa dupla herança teórica, este artigo propõe um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário, no qual o produto efetivo YΣY_{\Sigma} resulta da soma das respostas diferenciais setoriais dXidX_i, e o ponto ótimo Y^0\hat{Y}_0 representa a coerência estrutural entre o produto efetivo e o potencial. O modelo sintetiza o teorema de Preobrazhensky sobre a inflação em economias em desenvolvimento e a equação kaleckiana do crescimento g=s/vg = s/v, mostrando que o crescimento sem inflação decorre da proporcionalidade entre investimento, capacidade e estrutura produtiva — e não da contração da demanda.

A aplicação dessa abordagem ao caso brasileiro permite reinterpretar a atual conjuntura: a inflação decorre menos do fiscal e mais da superposição de gargalos produtivos; a estabilidade não virá de juros altos, mas da recomposição das proporções materiais do desenvolvimento. Ao restituir a economia política ao terreno da totalidade concreta, o modelo propõe uma nova racionalidade macroeconômica para países periféricos — uma racionalidade do planejamento e da coerência estrutural, que recoloca o crescimento, e não a austeridade, como fundamento da estabilidade de preços e do equilíbrio social.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O que a mídia não te explica sobre Reforma Administrativa (live no canal "Economia É Fácil")

🚨O canal Economia É Fácil recebe o professor Robson Raymundo Silva para debater sobre o projeto de Reforma Administrativa —  que ameaça desmontar o serviço público e precarizar o Estado brasileiro.

Reforma Administrativa volta à pauta e ameaça o serviço público — o que está em jogo do Brasil
Vamos conversar sobre:
🏛️ A proposta de PEC da Reforma que volta ao Congresso
📉 As medidas de ataque à estabilidade e aos direitos dos servidores
✊ A resistência da classe trabalhadora e da educação pública
📅 Nesta 5ª feira, 16/10 – 21h


💬 Participe pelo chat e compartilhe com seus contatos!

#ReformaAdministrativa #EconomiaÉFácil #ServiçoPúblico

sábado, 11 de outubro de 2025

O Tempo dos Ciclos: Irregularidade, Tendência e Transição na Dinâmica do Capitalismo

Entre a repetição e a transformação: 
como o movimento cíclico revela o tempo histórico do capital e anuncia seus limites.*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo

Os ciclos econômicos não são meras oscilações estatísticas, mas expressões da própria lógica contraditória do capitalismo. Através de períodos de expansão e crise, o sistema reconfigura suas condições de reprodução, revelando uma regularidade que se manifesta por meio da irregularidade. Este artigo analisa, sob a ótica marxista, a natureza dialética dos ciclos: suas sobreposições temporais, suas tendências estruturais e suas mutações históricas. Da “irregularidade regular” à financeirização contemporânea, buscamos compreender o ciclo como forma temporal do capital — e o planejamento socialista como sua negação consciente.

Introdução – O Movimento como Forma da Contradição

Desde que Marx descreveu o ciclo industrial como “a forma viva do movimento do capital”, o pensamento crítico reconhece que a economia capitalista não se desenvolve de modo linear, mas pulsante, alternando prosperidade e colapso, avanço e retração. A repetição das crises não é um desvio, mas uma necessidade interna da acumulação: o capital só se renova destruindo parte de si mesmo, purgando os excessos que sua própria lógica produz.

Cada ciclo, no entanto, não é mera repetição do anterior. Ele se dá sobre novas bases técnicas, sociais e geográficas. A superprodução do século XIX não é a mesma de 1929, tampouco a de 2008. Cada uma reflete o modo histórico como o capital reorganiza suas contradições fundamentais — entre produção e realização, trabalho e valor, capital e vida. O ciclo é, portanto, a forma concreta da contradição em movimento.

O olhar marxista sobre os ciclos não busca prever datas ou traçar curvas regulares, mas revelar o tempo histórico inscrito nas flutuações econômicas. Por trás das estatísticas de crescimento e recessão, pulsa a dinâmica real de valorização e desvalorização do capital, isto é, o processo pelo qual a sociedade burguesa tenta perpetuar-se diante de seus próprios limites. O que as escolas econômicas chamam de “recuperação” nada mais é que a reconstrução temporária das condições de exploração.

Neste sentido, estudar os ciclos é estudar a própria historicidade do capitalismo. Cada oscilação, cada crise, cada fase de expansão é parte de uma totalidade maior — o processo contraditório de reprodução de um modo de produção que precisa se reinventar para não sucumbir. Mas há um limite: a regularidade da irregularidade só se sustenta enquanto as contradições puderem ser deslocadas, e não superadas. Quando o capital atinge o ponto em que a crise se torna permanente, abre-se a possibilidade de um novo tempo histórico: o da transição consciente, o da planificação social, o do fim da anarquia do valor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Artigos sobre Teoria do Desenvolvimento Capitalista - uma lista de leitura

O blog "Limiar e Transformação Econômica" é um espaço dedicado à análise marxista das transformações e crises do capitalismo contemporâneo. Editado por Almir Cezar Filho, economista e servidor público, o blog busca contribuir para um jornalismo econômico contra-hegemônico e para a educação popular em economia.

Os principais temas abordados no blog incluem:

  1. Crises do Capitalismo: Análises profundas sobre as crises econômicas sob a perspectiva marxista, explorando suas causas e consequências globais.
     Clique aqui: limiaretransformacao.blogspot.com.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Rolou ou não "química" entre Lula e Trump?

 🚨 AO VIVO HOJE!
O Economia É Fácil recebe Cyro Garcia para analisar a conjuntura internacional e nacional:
🌎 Shutdown nos EUA, dólar em queda e crise global
🇧🇷 Protestos barram 'PEC da Bandidagem', Bolsonaro condenado e Tarcísio se lança candidato
🗓 Quinta, 02/10 – 21h


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