Por Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho
Em julho de 2022, completou-se meio século do ambicioso "Projeto Praia Grande". Ao circular pelo Centro de Niterói, na Região Metropolitana do RJ, é possível conhecer essa história controversa: um projeto de revitalização urbana que prometia preparar a cidade para o "ano 2000", celebrar com pompa o seu IV Centenário e transformá-la em uma metrópole e polo turístico.
No entanto, o que aconteceu? Um vazio urbano persistente, uma dívida incalculável, o desaparecimento da orla histórica, muitas promessas não cumpridas e o eterno ciclo de revitalizações para recuperar a anterior.
Essa história deveria ser de grande importância agora, pois a cidade acaba de completar 450 anos desde sua fundação, e seu prefeito, o ambientalista Axel Grael (PDT), iniciou há poucos meses a implementação de um novo plano de revitalização para o Centro da Cidade, concentrado na Avenida Visconde do Rio Branco e no entorno, incluindo as quadras vazias entre essa via e o mar. Justamente as áreas resultantes da construção do fracassado aterro do outrora Projeto.
O "sonhado" Parque da Praia Grande - assim como seu homólogo, o Parque do Flamengo, na cidade do Rio - uniria uma ligação viária de alta velocidade, parque florestal, praças, equipamentos culturais e esportivos, com um projeto paisagístico e de jardinagem. Um megaempreendimento público que se estenderia pela orla da cidade, na homônima Praia Grande (hoje desaparecida justamente pelo aterro), desde a Ponta da Armação até o bairro de São Domingos.
Atualmente, ao caminhar à direita da estátua de Arariboia (à esquerda da saída da barca) e seguir além do Terminal Rodoviário João Goulart e do shopping Bay Market, é possível observar uma dúzia de quadras vazias de um lado da avenida, avançando em direção ao mar e separando o Caminho Niemeyer do restante da cidade.
Essa zona aterrada, inútil e deserta, abandonada, abriga quadras inteiras de terreno baldio, com matagais e alguns trechos funcionando como estacionamento privado improvisado. À beira-mar, o Teatro Popular de Niterói e os outros prédios do chamado "Caminho Niemeyer", mais à direita, proporcionam algum alívio ao local, porém, difícil de alcançar a pé. Rumando no sentido oposto, o deserto e a falta de sombra avançam até a Ponta D’Areia, assustando aqueles que preferem não caminhar por ali.
Se esse cenário existe em vez do Parque Praia Grande, é porque durante o aterramento, no auge da Ditadura Militar, houve a suspensão da conclusão -p tão ou mais antidemocrática do que a decisão de sua construção - resultando na destruição da paisagem natural e histórica da cidade e no surgimento dessa região aterrada negligenciada e desolada no coração do centro da cidade. Tentativas passadas de recuperação da área foram limitadas e esquecidas, resultando em empreendimentos inadequados e posteriormente demolidos, como a Vila Olímpica e os Terminais Norte e Sul.
Além disso, devido às décadas de esvaziamento econômico da cidade, as áreas de aterro da Praia Grande, cuja construção coincidiu com o início desse ciclo, permaneceram desocupadas ou subocupadas em suas partes privadas por anos. Atualmente, servem meramente como estacionamentos improvisados, formando um grande espaço de vazio urbano, contrastando com as grandes expectativas de construção de teatros, parques e museus que ficaram apenas na promessa e que o Caminho Niemeyer supostamente deveria reparar parcialmente.
Lembrando que o Caminho Niemeyer consiste em um conjunto de prédios projetados pelo arquiteto para abrigar espaços culturais e construídos pela prefeitura na década de 2000. No entanto, além dos altos custos de construção e da subsequente operação do complexo, o Caminho Niemeyer pouco contribuiu para integrar-se ao restante do Centro da cidade, parte dele deteriorado e outra parte repleta de vazios ou de áreas decadentes.
A nova revitalização parte de uma premissa equivocada, desta vez em torno do Caminho Niemeyer, que foi construído justamente para revitalizar a área. Este complexo cultural parece priorizar, em termos de mobilidade e acessibilidade, mais a conexão turística com o terminal de barcas e a cidade do Rio de Janeiro do que com as ruas e calçadas do restante do centro.
Assim, a história do desenvolvimento urbano de Niterói, como a de muitas outras cidades brasileiras, evidencia um ciclo repetitivo de revitalizações urbanas fracassadas, frequentemente abandonadas ou desviadas de seus objetivos originais. Em suma, o planejamento urbano e público em geral se manifesta na forma de revitalizações que nem mesmo se completam e precisam passar por novos projetos de revitalização.
A metáfora do "tecido de Penélope", cujo mito grego destaca esse padrão de mudanças constantes no espaço urbano, onde intervenções são iniciadas, suspensas e revisadas antes mesmo da conclusão, destaca ainda que, além da deficiência do planejamento e da própria execução, a priorização desses projetos para o embelezamento e a acumulação de capital, em detrimento dos objetivos arquitetônicos anunciados e, principalmente, da inclusão social.