quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Selic alta traz de volta a 'velha senhora', a crise cambial

Juros altos, dólar em baixa: Brasil às vesperas de uma possível crise cambial

Limiar&Transformação, 21/10/2010

Copom mantém a Selic em 10,75% a.a., a maior taxa básica do mundo, sem necessidade

A manutenção pelo Copom do Banco Central da Selic (taxa básica de juros) em 10,75% a.a.(ao ano) traz a ameaça da volta da vulnerabilidade externa, expressa no crescente déficit em transações correntes. Com juros altos e câmbio sobrevalorizado, as chances de inversão desse quadro diminui muito.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira, manter pela segunda vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 10,75% ao ano. O índice vigora desde 21 de julho, data da penúltima reunião do colegiado. Em curto comunicado, o BC afirmou apenas que tomou a decisão "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação".

Isso significa que, para o brasileiro os juros bancários, seja para financiamento, empréstimo ou cheque especial, devem se manter no mesmo patamar, de 6,74% ao mês, o menor valor em 15 anos. Contudo, é a maior taxa real de juros do mundo. E que a atividade econômica ficou estável em agosto em relação ao mês anterior. Isso significa que a geração de riquezas continuou no mesmo ritmo entre um mês e outro, como mostrou nesta quarta-feira (20) um indicador do Banco Central. Desde janeiro, a economia acumula crescimento de 9,11% em relação ao mesmo período do ano passado.

Atualmente, a inflação está em 4,70%, dentro da meta do governo, que é de 4,5% para 2010, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo – ou seja, pode chegar a 6,5% ou atingir 2,5%. Portanto, sem necessidade, e gerando em consequência estagnação (no mês passado, foram gerados 246.875 postos formais, número menor que agosto (299 mil) e também inferior ao registrado no mesmo mês de 2009 (252 mil), segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)), maior endividamento das famílias (em setembro, cresceu pelo 5º mês seguido o número de quem não pagou dívidas) e, pior, a ameaça de crise cambial.

juros altos ameaçam trazer a ‘velha senhora’ de volta

O resultado é que o Copom joga contra o real ao manter a taxa de juros básica no alto. A Selic deveria ter caido de modo a desestimular investimentos externos em aplicações financeiras e reduzir a valorização do real em relação ao dólar.

Novamente, o Copom peca pelo "conservadorismo" (traduzindo, sob a justificativa de precaução,defende os interesses dos banqueiros e rentistas em detrimento dos demais setores da sociedade), ao não retomar o processo de queda nos juros em um ambiente mundial de taxas de juros reduzidas. A manutenção dos juros básicos da economia em nível elevado pode levar a graves problemas para o futuro próximo, propiciando aumento das importações e redução da geração de empregos no país.

Assim, a economia brasileira fica sujeita a ameaça da volta da "velha senhora", como é conhecida a crise cambial pelos economistas, com as importações crescendo 46% nos primeiros nove meses do ano, propiciado pelo valor baixo do dólar.

Por sua vez, a questão do dólar baixo no Brasil não é a guerra cambial, como alega o ministro da Fazenda Guido Mantega, mas a taxa de juros, que ajuda a depreciar o dólar.

Para conter a queda do dólar no país, gerada pela forte entrada da moeda no país, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), na última segunda-feira (18). O governo, que havia elevado de 2% para 4% o imposto há duas semanas, voltou a adotar nova alíquota, desta vez de 6%, como forma de reduzir a pressão sobre a taxa de câmbio. O governo também aumentou de 0,38% para 6% a alíquota do IOF cobrado sobre a margem de garantia dos investimentos estrangeiros no mercado futuro. O BC também tem atuado com as compras de dólares no mercado à vista. Neste mês, até o dia 15, essas compras elevaram as reservas internacionais em US$ 4,242 bilhões. Contudo com isso, apesar fizeram "cosquinha" nas cotações, o dólar segue em baixa.

Os desequilíbrios entre as moedas de diversos países, batizados de “guerra cambial” pelo ministro Guido Mantega, foram inclusive o tema central da última reunião do FMI na capital americana. Muitos países são acusados de desvalorizar a moeda para tornar as exportações mais baratas e competitivas no mercado internacional, prejudicando as economias com moedas mais valorizadas. Um dos principais alvos das críticas é a China, acusada principalmente pelos EUA de manter sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada. O Brasil, porém, tem concentrado as críticas nos EUA, acusado pelo governo brasileiro de provocar desequilíbrios ao aumentar a emissão de dólares, o que torna a moeda norte-americana mais barata. O desequilíbrio mais importante é a expansão monetária norte-americana, usada para combater o baixo crescimento e o desemprego ainda elevado nos EUA. Que leva por sua vez, que muitos países rebaixem o valor de suas moedas.

O Banco Central (BC) deveria retomar imediatamente o ciclo de cortes da Selic, de forma a atingir o objetivo mais preocupante do governo e da economia brasileira neste momento: a valorização do real ante o dólar, e não que a taxa de inflação convirja para a meta. E a Fazenda deveria aplicar controle de capitais.

ALERTA: MANUTENÇÃO DO MODELO LEVARÁ O PAÍS A CRISE CAMBIAL

O que é a Selic?

A Selic é chamada de taxa básica porque é usada como referência pelos bancos para estabelecer os juros cobrados nos empréstimos entre bancos e nas aplicações em títulos públicos federais. A taxa funciona ainda como um piso para a formação dos demais juros cobrados no mercado para financiamentos e empréstimos - que são influenciados também por outros fatores, como o risco de que quem pegou o dinheiro emprestado não pague a dívida e a margem de lucro dos bancos.

É a partir da Selic que as instituições financeiras definem também quanto vão pagar de juros nas aplicações dos seus clientes. Ou seja, a taxa básica é o que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo para empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos, a um custo muito mais alto. Por isso os juros que os bancos cobram dos clientes é superior à Selic.

Contudo, a Selic também é a taxa minima paga pelo governo nas aplicações que os bancos fazem em títulos públicos federais. Então quanto maior a Selic maior a remuneração aos bancos nos títulos públicos, isto é, maior o pagamento pela dívida pública, e portanto, a transferência dos recursos públicos para os bolsos dos rentistas e banqueiros.

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