quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Foram as políticas anticíclicas que provocaram a crise? O 'austericídio' como penitência

por Almir Cezar Fº

Ou foi o tal "espetáculo do crescimento" propagandeada desde 2003? A Marolinha de Lula dita em 2008?  Ou mesmo a tal Nova Matriz Macroeconômica prometida no início do primeiro governo Dilma? Foi a políticas econômica anticíclica que levou ao aperto do cinto agora? Porque é esse diagnóstico que o jornalismo econômico da grande mídia (em tabelinha com os analistas do mercado financeiro e economistas neoliberais e empregados dos grandes bancos) procura convencer a opinião pública. 

E com a entrada no comando da equipe econômica de Joaquim Levy e de Nelson Barbosa o governo Dilma comprou, e procura aplicar um receituário econômico de acordo. O que se vê agora o 'austericídio'. O discurso da austeridade fiscal, mesmo que a custa do suicídio da economia nacional, como uma espécie de penitência aos anos de suposto esbanjamento. Mas foi isso mesmo?

A presidente Dilma Rousseff admitiu, mesmo que eufemistamente,  “agora temos de usar outros instrumentos de combate”, disse a presidente, justificando a adoção das medidas de ajuste fiscal. Segundo Dilma, a sociedade se livrou de um “elevadíssimo desemprego” e de “uma redução violenta da taxa de crescimento” com a política anticíclica adotada após a crise internacional, que por outro lado sacrificou as contas públicas. Palavras ditas em um discurso, ao inaugurar terminais privados no porto do Rio (12 de março de 2015), que o governo esgotou todos os recursos possíveis para combater a crise iniciada em 2008 e que se estendeu demais para o ano seguinte. Sepultando assim de vez seu pseudodiscurso neodesenvolvimentista.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Apenas metade do crédito do país é afetado pela política monetária do BC

 Porém autoridade monetária insiste no uso equivocado da taxa Selic no combate a inflação

Na charge o presidente do BC Alexandre Tombini combatendo
o dragão da inflação com uma espingarda de rolha feita de juros.
Comprovando o baixo 'poder de fogo' do Banco Central via uso da taxa Selic no combate a inflação, apenas metade do crédito do país é afetado pela política monetária do BC. Em queda contínua nos últimos anos, a parcela dos financiamentos e empréstimos bancários diretamente afetados pelos juros definidos pelo Banco Central representa hoje pouco mais da metade do volume de crédito do país.  A queda, iniciada no final do governo Lula, põe em xeque a eficácia da política monetária.

São 50,9%, o menor percentual nas estatísticas disponíveis desde a década passada. Até 2008, algo como dois terços do crédito nacional se originavam de decisões espontâneas dos bancos, com recursos de utilização livre. No terço restante, agora metade, estavam operações sujeitas a regras e taxas impostas pela legislação. Esse grupo é composto, principalmente, por três modalidades de financiamentos – os destinados ao setor agrícola, os imobiliários e os desembolsos do BNDES. Em comum, todos se valem de recursos garantidos em lei, como parte do dinheiro das cadernetas de poupança e do Fundo de Amparo ao Trabalhador, e aplicam taxas tabeladas ou subsidiadas.

Tradicional no sistema financeiro nacional, o crédito direcionado por orientações legais ou governamentais é uma das explicações mais frequentes para as anomalias da política monetária do país, onde os juros estão entre os mais elevados do mundo. Por esse raciocínio, o BC precisa de taxas mais altas para controlar o crédito, a demanda e a inflação, porque uma grande parte dos financiamentos bancários se mantém imune a suas decisões.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sobre a abordagem kaleckiana da crise atual do Brasil ou 'greve de investimentos'

por Almir Cezar

Plantas industriais paradas. Montadora em Taubaté/SP (Foto: EBC)
Como os leitores regulares aqui do blog sabem, é evidente que não concordaria com um argumento desse, mas o argumento de que a atual crise econômica que o Brasil mergulhou a partir de 2015 seria em decorrência de 'greve de investimentos' parte da teoria de Michael Kalecki, um dos maiores economistas marxistas do século XX, em que concordo apenas em parte com suas teorias, e no fundo é bem interessante. Vamos lá:

Vários economistas brasileiros não-neoliberais  (leia AQUI) vêm se utilizando de um insight de Kalecki do artigo de 1944, Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego, sobre o pós-guerra e a possibilidade de replicação do New Deal para outros países ou recorrentemente no tempo inclusive para o próprio EUA. Para Kalecki, os capitalistas, em algum momento, ficariam contrários às políticas de crescimento econômico dos governos reformistas (Estado de Bem-estar social ou Nacional-desenvolvimentismo), mesmo que resultarem em prevenção às crises cíclicas do sistema (ou ao menos tentarem) e/ou lhes garantirem manutenção das taxas de lucros.

Apesar das políticas econômicas "anticíclicas" de fortalecimento do consumo, de fortalecimento de investimento público ou de investimento privado programado pelo Estado servirem como contrapressão à tendência de queda da taxa de lucro, também podem surgir resistências no meu do seio da burguesia.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Novos rumos à agricultura: as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)

por Almir Cezar

As grandes cidades são abastecidas diariamente pelos mesmos tipos de vegetais destinados a alimentação, o que empobrece o cardápio da população e subvaloriza a biodiversidade local, por não serem plantas nativas, em maioria.

Nossos ancestrais conheciam e usavam cerca de 5.000 tipos de vegetais e atualmente são utilizadas apenas 130 espécies, 95% das nossas exigências alimentares são cobertas por apenas 30 vegetais e mais da metade dos nutrientes vem do milho, arroz e trigo.

Assim, algumas plantas conhecidas como 'inços' ou 'daninhas' apresentam grande potencial alimentício e podem ter um papel importante como suplemento da dieta alimentar, fonte de renda complementar, fator de redução de impactos ambientais, além de ser uma medida de valorização dos recursos naturais. Estas plantas espontâneas com potencial alimentício vêm sendo cada vez mais estudadas, e são denominadas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC).