Resumo:
Este artigo apresenta uma resenha crítica unificada de quatro textos fundamentais de Leon Trótski – A situação mundial e a perspectiva econômica (1921), A curva do desenvolvimento capitalista (1923), Sobre a estabilização da economia mundial (1925) e Sobre a questão das tendências no desenvolvimento da economia mundial (1926). Nestes escritos, Trótski desenvolve uma teoria do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo mundial, articulando a crise da Europa após a Primeira Guerra Mundial, a ascensão dos Estados Unidos e a estagnação estrutural das forças produtivas como fundamentos de sua estratégia revolucionária internacional. A análise crítica aponta tanto a originalidade metodológica e política dos textos quanto suas tensões internas, especialmente no que se refere à expectativa de iminência revolucionária.
Palavras-chave: Trótski. Capitalismo. Crise. Revolução. Economia mundial. Desenvolvimento desigual.
Introdução
A primeira metade da década de 1920 foi marcada por intensas transformações econômicas e políticas no sistema capitalista mundial. Leon Trótski, dirigente da Revolução Russa e teórico marxista, contribuiu decisivamente para a compreensão desse processo por meio de uma série de textos que conjugam análise conjuntural, teoria do desenvolvimento e estratégia revolucionária.
O presente trabalho propõe uma resenha crítica unificada de quatro desses textos: La situación mundial y la perspectiva económica (1921), La curva del desarrollo capitalista (1923), Sobre la estabilización de la economía mundial (1925) e Sobre la cuestión de las tendencias en el desarrollo de la economía mundial (1926) - lidos de sua tradução em espanhol (CIEP Trotski, 1995). Trata-se de uma produção teórica, produzida ao longo de 5 anos, marcada pela busca de uma leitura totalizante do capitalismo mundial no pós-guerra, que recusa tanto o mecanicismo economicista quanto o impressionismo político.
1. Crise e reconfiguração imperialista
Trótski observa, em 1921, que a Primeira Guerra Mundial havia encerrado o período progressivo do capitalismo, inaugurando uma época de crises, guerras e revoluções. Para ele, o colapso da Europa, a ascensão dos Estados Unidos e o bloqueio à expansão das forças produtivas revelam o esgotamento histórico do modo de produção capitalista (TRÓTSKI, 1995a).
No entanto, a crise objetiva não se converte automaticamente em revolução. A ausência de partidos comunistas amadurecidos na Europa Ocidental impede a transformação das condições econômicas em rupturas políticas efetivas.
2. A teoria da curva do desenvolvimento capitalista
Em seu ensaio de 1923, Trótski propõe uma distinção analítica entre ciclos econômicos de curto prazo (auge-crise-depressão) e tendências de longa duração (ascenso, estagnação ou declínio). Contra uma leitura linear, ele introduz a ideia de uma “curva do desenvolvimento capitalista”, marcada por descontinuidades históricas, inflexões qualitativas e oscilações entre épocas de crescimento, estabilidade e decadência (TRÓTSKI, 1995b).
Essa concepção permite articular economia e política sem reducionismos deterministas, reconhecendo os efeitos retardatários e os deslocamentos entre base e superestrutura.
3. Estabilização ou reorganização sob dominação?
No texto de 1925, Trótski critica a ideia de uma estabilização orgânica do capitalismo. Em sua visão, os processos de reconstrução monetária na Europa – como o Plano Dawes e a volta ao padrão-ouro britânico – não representavam um novo ciclo de prosperidade, mas sim a reorganização subordinada das economias europeias sob a hegemonia dos Estados Unidos (TRÓTSKI, 1995c).
A restauração da libra esterlina, por exemplo, dependia de empréstimos norte-americanos, o que transformava a política monetária inglesa em um mero apêndice da Bolsa de Nova York.
4. Crítica à teoria das ondas longas e defesa do método dialético
Em 1926, Trótski aprofunda sua crítica à teoria das “ondas longas” de Kondratiev. Ele sustenta que os grandes períodos de expansão e retração do capitalismo não obedecem a um ritmo regular endógeno, mas são condicionados por fatores externos, como guerras, revoluções, conquistas coloniais ou reorganizações geopolíticas.
Para ele, não se trata de negar os ciclos, mas de recusar uma extrapolação estatística que disfarça o otimismo histórico em relação ao capitalismo. Trótski reafirma que o capitalismo europeu encontra-se em declínio estrutural e que a ascensão dos Estados Unidos configura uma nova forma de imperialismo financeiro e político (TRÓTSKI, 1995d).
Conclusão
A produção teórica de Trótski entre 1921 e 1926 apresenta uma notável combinação de rigor histórico, agudeza estratégica e criatividade metodológica. Ao propor a ideia de uma curva histórica do capitalismo, distinguindo ciclos e tendências, ele oferece uma ferramenta poderosa para compreender tanto os movimentos conjunturais quanto as mutações estruturais do sistema. Sua crítica ao reformismo social-democrata, ao mecanicismo economicista e às ilusões liberalizantes permanece atual.
Por outro lado, é possível notar em sua obra certa insistência na iminência da revolução socialista, mesmo após o refluxo do ciclo insurrecional europeu de 1917–1923. Essa tensão entre expectativa e realidade se manifesta na dificuldade de avaliar os limites do capitalismo sem projetar neles um colapso iminente. Ainda assim, Trótski não era um profeta do colapso, mas um analista dialético do processo histórico, que soube articular conjuntura, tendência e estratégia.
Referências
- TROTSKY, Leon. La situación mundial - Junio de 1921. Disponível em: https://ceip.org.ar/economicos/Lasituacionmundial.htm. Visto em: 16 mai. 2025.
- TROTSKY, Leon. La curva del desarrollo capitalista (21 de Junio de 1923). Disponível em: https://ceip.org.ar/economicos/Lacurvadeldesarrollocapitalista.htm. Visto em: 16 mai. 2025.
- TROTSKY, Leon. Sobre la cuestión de la “estabilizacion” de la economia mundial (Discurso del camarada Trotsky sobre el informe del camarada Varga) - 25 de mayo de 1925. Disponível em: https://ceip.org.ar/economicos/Sobrelacuestiondelaestabilizacion.htm. Visto em: 16 mai. 2025.
- TROTSKY, Leon. Sobre la cuestion de las tendencias en el desarrollo de la economia mundial - 18 de enero de 1926. Disponível em: https://ceip.org.ar/economicos/Sobrelacuestiondelastendencias.htm. Visto em: 16 mai. 2025.
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