quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Sobre a abordagem kaleckiana da crise atual do Brasil ou 'greve de investimentos'

por Almir Cezar

Plantas industriais paradas. Montadora em Taubaté/SP (Foto: EBC)
Como os leitores regulares aqui do blog sabem, é evidente que não concordaria com um argumento desse, mas o argumento de que a atual crise econômica que o Brasil mergulhou a partir de 2015 seria em decorrência de 'greve de investimentos' parte da teoria de Michael Kalecki, um dos maiores economistas marxistas do século XX, em que concordo apenas em parte com suas teorias, e no fundo é bem interessante. Vamos lá:

Vários economistas brasileiros não-neoliberais  (leia AQUI) vêm se utilizando de um insight de Kalecki do artigo de 1944, Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego, sobre o pós-guerra e a possibilidade de replicação do New Deal para outros países ou recorrentemente no tempo inclusive para o próprio EUA. Para Kalecki, os capitalistas, em algum momento, ficariam contrários às políticas de crescimento econômico dos governos reformistas (Estado de Bem-estar social ou Nacional-desenvolvimentismo), mesmo que resultarem em prevenção às crises cíclicas do sistema (ou ao menos tentarem) e/ou lhes garantirem manutenção das taxas de lucros.

Apesar das políticas econômicas "anticíclicas" de fortalecimento do consumo, de fortalecimento de investimento público ou de investimento privado programado pelo Estado servirem como contrapressão à tendência de queda da taxa de lucro, também podem surgir resistências no meu do seio da burguesia.

No auge de um ciclo econômico de alta mantido por políticas anticíclicas, os burgueses paralisam seu investimento mesmo obtendo os altos retornos, precipitando a efetivação da queda da taxa de lucro, que existe cronicamente em potência. Os burgueses agem, não apenas com impulsividade ou ambição desmedida, porém até mesmo por inteligência e cálculo, se vem forçados ou tentados a se enfrentar com essas políticas econômicas. Naquilo que Keynes chamava de "suicídio do rentista" (embora se referisse mais aos banqueiros e financistas).

Para falar de Economia gosto de utilizar-me de Evgene Preobrazhenski. Ambos falam em demanda efetiva, mas Kalecki repetindo os erros de Luxemburgo, sua autora de referência, caí no chamado problema de "crise de realização", e Preobrazhenski não.

A burguesia é uma classe que leva a humanidade historicamente à ruína. Assim, os governos reformistas ou de colaboração com a burguesia resultarão em uma tragédia, inclusive serão em algum momento abandonados por esta classe ou esta os boicotará apesar da re-estabilização da economia ou dos altos lucros.


Referência:

Michael Kalecki - Political Aspects of Full Employment1 -  [1] - Political Quarterly, 1943


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