sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

As demissões da Embraer - um "bode na sala"

O desastre aéro
Blog do Luís Nassif - 20/02/2009 - 07:50
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/20/o-desastre-aereo/

Francamente não entendi a postura da Embraer, nesse episódio de demissão de 20% de sua folha de salários.

A crise é braba, um dos setores mais afetados é a aviação. Como a Embraer trabalha com encomendas de longo prazo, é mais fácil prever os próximos anos. E a tormenta dve ter vindo pesada, para uma atitude tão drástica.

O que causa espécie é o fato de não ter buscado novas alternativas. Essa atitude drástica traz um conjunto enorme de perdas adicionais para a empresa.

Perde mão de obra especializada, difícil de preparar – apesar dos engenheiros terem sido poupados. Mais importante que isso, compromete uma relação com a comunidade e com os funcionários que foi construída ao longo de décadas.

Ontem, a televisão entrevistava alguns desses demitidos. Ainda atarantados, pessoas com trinta anos de Embraer faziam questão de elogiar a empresa, dizer que a Embraer fazia parte de sua vida, do orgulho que era trabalhar na empresa. Como toda pessoa que se sente traída, o próximo sentimento a aflorar será o de raiva.

Em muitos lugares, se procuraram soluções intermediárias, como suspensão temporária do contrato de serviço. Poderia haver um programa de realocação dos funcionários, a possibilidade de orientá-los a montar pequenas empresas de prestação de serviço. A própria Embraer tem um trabalho exemplar com a prefeitura de São José dos Campos e com a comunidade.

Em si, o episódio já choca, por ser o maior caso de demissão coletiva da moderna história das empresas brasileiras, talvez equiparável apenas ao da CSN ou outras empresas privatizadas nos anos 90. A seco, choca mais ainda.

Vou tentar conversar com a empresa durante o dia para entender suas razões.

***

Meu Comentário

Caro Nassif,

Não sou da região, sou economista e sempre trabalhei em chão de fábrica na área de custos,mas tenho inúmeros amigos por lá, que passam as informações.
Na matéria vc parece supreso com a medida da Embraer, mas para mim não é. A Embraer fez o que anda fazendo a algum tempo, agindo de força, subterfugios e guerrilha com o movimento operário da cidade de São José dos Campos.

A Embraer apesar dos lucros recordes de 2008, está já a alguns anos, porém intensificado ano passado, num cabo de guerra com o Sindicato de Metalurgicos de São José dos Campos. Esse sindicato é um dos mais combativos e organizados do novo movimento sindical brasileiro, erguido após as privatizações e a abertura econômica dos anos 90.

Não é um sindicato que agi como aqueles da Força Sindical ou da CUT pós-Lula que a qualquer pressão aceita "entregar os pontos", mas também não é que "peita por peitar" as empresas, por essa razão é muito respeitado pelo empresariado. Conseguiu arrancar das empresas muitas garantias e ano passado enfrentou uma campanha orquestrada pela Embraer e com apoio da Prefeitura da cidade e das montadoras de automoveis da região, que consistia em forçar a implantação do banco de horas, sob a ameaça de transferência de postos de trabalho para outras cidades, justo num momento de bonança da economia. O resultado dessa campanha foi a derrota pois esbarrou na resistência do sindicato.

Agora, a Embraer, ao meu ver, quer pôr o "bode na sala", fazer um grande estrago, com as demissões, e depois forçar negociar com o sindicato, recuando com as demissões, mas conseguindo a redução dos salários, suspensão de contratos ou mesmo o banco de horas.

Há também outro coisa rolando na cidade, as eleições do sindicato estão bem próxima, e parece que haverá uma chapa de oposição apoiada secretamente pelos empresários. Acho que a medida da Embraer visa impactar o imaginário dos filiados do sindicato, criando "um clima" de que é preciso trocar a direção para melhorar as "relações com a patronal".

Infelizmente, esse é o tipo de compartamento de nossa patronal no Brasil.

Agradeço pelo espaço.

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