sábado, 7 de fevereiro de 2009

Desenlance do movimento ou teleologia

Recebi esse comentário de meu grande amigo e colaborador aqui do blog Limiar, Serrano, à respeito do texto postado no último dia 05, quinta-feira, A Economia e a Revolução: Por uma Teoria Marxista do Desenvolvimento Econômico-Social e da Dinâmica Capitalista. Ele cita uma passagem e respeitosamente faz uma crítica, que respondi, e tomei a liberdade de expor nosso sadio e marxista debate.


Almir,

(...)

"O desenlace da contradição do movimento econômico histórico capitalista é a revolução e a economia sob controle do Estado Operário, assim o próprio “movimento” (as tendências, as leis, as dinâmicas, as estruturas e as modificações estruturais do capitalismo) é entendido a partir do seu “desenlace” (a revolução proletário e o socialismo)."

Nesse trecho você comete um equívoco (resvalando quase numa teleleologia): uma contradição possuisempre múltiplas possibilidades de resolução (depende do lado vitorioso) e não necessariamente será o proletariado à ser vitorioso! Obviamente o desenvolvimento das forças produtivas necessitam da revolução socialista, mas não podemos esquecer da possibilidade histórica da vitória da burguesia, derrota da humanidade. Por isso, as tendências que se desenvolvem nunca são apenas as da revolução, mas as da contra-revolução: ao mesmo tempo que aparecem elementos de socialização, aparecem de fascistização. É possível, e atualmente o mais provável, que o destino seja a decadência social e econômica e esses elementos já aparecem.

Abraços, Serrano.


Carlos,
(...)
Sobre a questão do "desenlace do movimento": a idéia aqui é a análise das formações a partir da formação que lhe é (ou são) sucedânea e superior. É como se antecipar o movimento de alguém pelo movimento já realizado anteriormente por aquele que lhe é mais velho ou antecessor. Por exemplo, é mais fácil compreender a anatomia de um símio após o conhecimento da anatomia humana. Aí acrescentamos - fazendo a inferência - que a economia proveniente de um Estado Operário é superior a uma economia de um Estado burguês, onde pela natureza jurídica-política a produção nacional fica sujeita à anarquia da produção e cegueira das incertezas devido a propriedade privada e a livre-concorrência.

Do ponto de vista marxista, é ou não é superior, uma economia estatal proletária a uma economia capitalista? Se concluirmos que é a economia estatal proletária é superior - mesmo quando erguida numa formação social periférica, onde as forças produtivas estão em um nível menor do desenvolvimento e as relações de produção capitalistas convivem com relações de modo de produção antecessores do capitalismo ou num patamar menos sofisticado do que das formações sociais centrais, como era o caso da Rússia pré-soviética – podemos, através da investigação das relações lá existentes, apreender a fundo as relações do capitalismo, numa perspectiva muito melhor. É nisso que falo.

Independentemente, de que, na sequência histórica, possa ocorrer reversões no movimento na formação social em particular [analisada], ou mesmo que, tendências históricas latentes ("o vir a ser") não se realizem ou sofram de uma outra direção do desenvolvimento, processo em geral, que se dá muito mais consciente pelos sujeitos sociais do que pela dinâmica regular daquela formação. Aí, encontramos a URSS, a investigação sobre ela, apesar da restauração capitalista, é importante para entender não apenas o processo de transição ao socialismo, que a URSS inaugurou, foi primogênita e, de certa forma, foi precoce. Mas sim, também, a URSS é importante para entender o próprio desenvolvimento do capitalismo do século XX, dos países periféricos e centrais, nas décadas antes, durante e depois, da vigência do regime soviético.

Além do mais, Marx e Engels, e o demais marxistas fidedigno ao método, sempre diziam que há grandes chances do rumarmos ao socialismo, mesmo que, a chance à barbárie esteja sempre presente. Mas antes de tudo, foi preciso para o advento do socialismo, vir a ter existido o capitalismo, para destruir as relações de produção feudal e asiática, que aprisionavam as forças produtivas à estado estacionário, ao mundo tradicional, que não revoluciona a vida social humana, como fez o capitalismo.

Fazendo uma piada: O capitalismo é a genitora do socialismo (e a revolução seu parto) – mesmo que o neném possa nascer morto, sempre há chance de novos nenéns, até porque o capitalismo é uma genitora muito fértil.

Abraços, Almir

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