por Almir Cezar
É um prazer saber que o blog Limiar & Transformação, e em especial meus artigos, têm leitores regulares, e ainda mais saber serem de alto nível. Nos artigos sigo tentando sintetizar temas que venho trabalhando nos
últimos anos, uma investigação sobre desenvolvimento sócio-econômico,
crise e dinâmica capitalista de longo prazo, que por sua vez, se desdobram ou envolvem a crise e
acumulação capitalista, a reação, luta e revolução proletária, o capitalismo monopolismo e o Estado, a acumulação primitiva e o valor-trabalho. Um desses temas incluí justamente a relação entre o valor-trabalho e o desenvolvimento
capitalista nacional, os seus determinantes e tendências.
O blog Limiar & Transformação é um espaço de edição coletivo, não é um espaço de pretensão intelectual. Os artigos, matérias e entrevistas selecionados no blog apenas tentam sugerir rumos e temas aos leitor em que frequentemente a esquerda intelectual e militante tem uma resposta lenta ou deficiente. Por sua vez, os artigos de minha própria autoria são apenas reflexões ainda embrionárias sobre rumos e temas, nada muito acabado, apenas rascunhos a eventuais futuros artigos - por isso mesmo, muitas vezes sua redação aparece confusa (o qual me desculpo aos leitores), ou estão sempre sendo reescritos ou reeditados.
Em minhas pesquisas me debruço no estudo bibliográfico dos grandes teóricos envolvidos
no debate soviético sobre dinâmica capitalista e desenvolvimento
sócio-econômico, em especial Leon Tróstki e Eugeni Preobrazhenski. E de maneira
subsidiária autores marxistas da Teoria Marxista da Dependência
(destacam-se Theotonio dos
Santos, Ruy Mauro Marini e Vania Bambirra) e a Teoria dos Sistema-mundo
(destacam-se Immanuel Wallerstein, Giovanni Arrighi, Samir Amin) e na Escola
da Regulação Francesa (destacam-se Michel Aglietta e Robert Boyer).
Gostaria de salientar a importância tanto de E. Preobrazhenski, como dos pensadores da Teoria Marxista da Dependência, também chamada de TMD (ou teoria da dependência-TD ou versão marxista da teoria da dependência), extremamente negligenciada mesmo pela esquerda acadêmica. Theotonio dos Santos é uma referência pessoal, que embora não compartilhe no todo de suas conclusões teóricas e políticas, segue em mim muito forte, e surpreende-me como a esquerda e a academia brasileira pode negligenciá-lo tanto. Apesar do retorno do exílio no fim da década de 70 e início de 80 com a redemocratização, os autores da teoria da dependência, os seus três principais pensadores, todos brasileiros, tiveram grande
dificuldade de ocupar o espaço para no debate nas ciências sociais. Embora tenha contribuído para isso, o espaço acadêmico limitado pelo advento da Escola de Campinas
no decorrer da década de 1970, inclusive ganhando popularidade na
intelectualidade acadêmica e nas autoridades das políticas públicas, principalmente por sua ligação com os temas macroeconômicos, mas também, houve,
particularmente no Brasil, apesar da Anistia, dificuldade dos
intelectuais da dependência em reinserir-se em universidades e centros
de pesquisa nacionais importantes, e ainda houve uma campanha sistemática de críticas contra a
TD, em que colaborou antigos membros, como Fernando Henrique Cardoso.
Sobre
Preobrazhenski, poucos no Brasil trabalham a partir do pensamento e
obra. As raras exceções são o professor João Antonio de Paula do UFMG-Cedeplar, que
inclusive foi um dos primeiros que li sobre Preobrazhenski.Um outro foi o
Valério Arcary do IFESP. E o Leôncio Martins Rodrigues, aposentado da
USP.
Porém, em língua inglesa você encontrará vários autores que trabalham com ou a partir de Preobrazhenski, como Richard B. Day, Raaj K. Sah, Joseph E. Stiglitz, Alexander Erlich, Maurice Dobb, Paul M. Sweezzy, Paul A. Baran, etc.
Esse viés no estudo bibliográfico reflete minhas opções políticas. Politicamente, estou alinhado ao trotskismo, uma das razões de minha aproximação a Preobrazhenski. Outra razão, é que foi durante a monografia analisava criticamente a Escola da Regulação e seu conceito e teoria sobre "regulação" e "crise". Preobrazhenski é o grande autor sobre regulação da lei do valor e intervenção estatal para o desenvolvimento econômico nacional ("A Nova Econômica") e sobre a dinâmica econômica e política ("O Declínio do Capitalismo").
Na sequência, estudei uma vinculação entre desenvolvimento e dinâmica de longo prazo, onde há uma relação entre a regulação capitalista conduzida de maneira espontânea pela lei do valor, onde os mecanismos políticos, sindicais e legais são apenas ferramentas de intervenção corretores ou limitantes a seu livre curso. A acumulação do capital vai desenvolvendo as forças produtivas, que implica forçando a implantação das relações de produção que lhe correspondem ou destruir as que a obstaculizam.
Assim a Política, enquanto "economia concentrada", como diria Lênin, apenas daria apenas à "direção", tal como numa máquina, atuam simultaneamente os mecanismos de regulação e dinâmica. A política teria uma "primazia" no desenvolvimento do capitalismo, mas não seria seu determinante. Uma primazia tendo em vista que força o desenvolvimento a "sentidos" distintos que a trajetória normal que a livre acumulação faria.
Então temos duas grandes tendências, ou melhor dizendo, grupo de tendências ou "vetores" atuando sobre a dinâmica e o desenvolvimento, a regulação e a direção, complementares entre si. Alguns dos meus artigos estão paulatinamente explicitando isso. Por sua vez, o desenvolvimento seria pautado pela dinâmica longo prazo. E, por sua vez, a dinâmica capitalista seria tridimensional, onde estariam dimensão econômica com a dinâmica econômica strito sensu, os ciclos de negócios e os setores; a dinâmica política, a luta política e intra-estatal; e a dinâmica das relações interestatais.
Aos estudantes e jovens pesquisadores
Se pretende se aventurar no Marxismo peço que tenha paciência,
tendo vista que todas os centros de pós grad no Brasil sofreram com o
vendaval neoliberal dos anos 90, que na Academia de uma ou outra forma
também se manifestou, inclusive pelas pressões curriculares. Contudo,
sempre há um ou outro centro que ainda há professores ou linhas de
pesquisas mais abertas as metodologia marxiana/marxista.
Minha graduação foi na UFF (Universidade Federal Fluminense), mas meu mestrado foi na Federal de Uberlândia. Dois excelentes centros de pensamento heterodoxos, com professores acessíveis e com militância acadêmica e política no Marxismo. A UFU tem virado um centro voltado à teoria do desenvolvimento. Outra sugestão é a Federal do Espírito Santo-UFES e de Santa Catarina-UFSC com bons professores marxianos, o primeiro ao marxismo clássico e o segundo a teoria marxista da dependência e teoria dos sistemas-mundo. Por fim, outra boa sugestão é na UFMG que há um setor marxista de alto nível.
P.S.
Segue dois pedidos aos nossos leitores, em especial que entram em contato comigo: Primeiramente, por
favor, não me chame de professor. Não estou no momento atuando como professor
universitário, estou como servidor federal com o cargo de
economista, embora continue militando na pesquisa em ciência econômica.
Em segundo lugar, tenho
contato com a direção de uma editora, e propos a eles, o que foi aceito, a
publicação do livro de Preobrazhenski "O Declínio do Capitalismo",
contudo, preciso traduzi-lo. Consegui uma cópia da versão em inglês,
porém não estou tendo tempo para fazer sozinho, e muito mais fazendo
simultaneamente com uma revisão técnica. Se eventualmente alguém quiser participar da
empreitada, ficaria muito grato.
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