sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Modelo mantém o Brasil no subdesenvolvimento e nas crises cambiais

Até economistas pró-burgueses apontam que o atual problema brasileiro às voltas com a  apreciação cambial do real (o dólar em baixa prejudicando as exportações  e favorecendo as importações) pode trazer de volta a "velha senhora" (a crise cambial), um dos velhos males crônicas da nossa macroeconomia nacional. Esse mal é provocado pelo modelo de desenvolvimento favorável a re-primarização (economia voltada para exportação de commodities). Portanto, um mal (a crise cambial) e um padrão de produção (exportação de commodities) que sempre marcaram a configuração da economia brasileira enquanto periférica e dependente.

Em palestra, o alto cardeal brasileiro dos economistas pró-burgueses, o ex-ministro do Planejamento da Ditadura Militar, o economista João Paulo dos Reis Velos, lembra dois aspectos, primeiro se o Brasil continuar assim, agroexportador, seguiremos subdesenvolvidos, perdendo o "bonde da história", e segundo, não há dicotomia entre exportar bens de alto valor agregado ou commodities, pois com um projeto de desenvolvimento autonomo pode-se aproveitar a disponibilidade de recursos naturais e constituir um forte parque tecnológico que gere bens de alto valor agregado.

Reis Veloso alerta que manutenção do modelo leva país a crise cambial

Monitor Mercantil online, 20/10/2010

Em palestra na comemoração do 46º aniversário do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso alertou para a volta da vulnerabilidade externa, expressa no crescente déficit em transações correntes. Com juros altos e câmbio sobrevalorizado, ele não crê na inversão desse quadro.
"Estamos ameaçados da volta da "velha senhora" (a crise cambial), com as importações crescendo 46% nos primeiros nove meses do ano", advertiu.
Para o ex-ministro, a questão do Brasil não é a guerra cambial, mas a taxa de juros, que ajuda a depreciar o dólar.
"Precisamos evitar falsas dicotomias, como a opção entre commodities e a produção de maior valor agregado. O Brasil precisa fazer os dois. E os setores intensivos em recursos naturais podem ser alavanca para o desenvolvimento tecnológico", disse, defendendo a formação de grupos executivos para gerenciar o trabalho de instituições em torno de projetos estratégicos de desenvolvimento, "a exemplo do que aconteceu no Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek".
Ressaltando que "desenvolver é diferente de crescer", o ex-ministro comparou a crise de 1929, da Grande Depressão, com o cenário atual, que ele classifica como Grande Recessão.
Veloso defendeu que, tal como nos anos 30, o Brasil aproveite a crise para se desenvolver de maneira autônoma.
"Por que não somos desenvolvidos? Porque fizemos opções erradas e perdemos a corrida, que é de longa distância. Em 1820, a relação renda per capta do Brasil com os Estados Unidos era de 1 para 1,7. Nós optamos pelo modelo agroexportador escravagista. Os EUA, já em 1914, eram a maior economia do mundo. Naquele ano, a relação renda per capta passou para 6,5", resumiu.

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