Reunião dos chefes de Estado das 19 maiores economias do mundo e a UE termina sem qualquer medida contra a guerra cambial
EUA e China sustam ação contra guerra cambial até 2011
Monitor Mercantil, 12/11/2010
Seul (Coréia do Sul) - Por pressão de Estados Unidos e China, a cúpula do G20 concluída sexta-feira em Seul não afastou a ameaça de uma guerra cambial. E adiou para o fim de 2011 alguma resolução prática sobre alguma correção no valor do dólar e o iuan, principais beneficiárias da guerra cambial.
"A guerra cambial não acabou, mas passou a ser discutida", destacou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após o fim da cúpula.
Os negociadores do G20 se debateram durante quatro dias para reduzir suas diferenças e alcançar um entendimento mínimo a ser anunciado pelos líderes neste sábado.
"O acordo de Seul é melhor do que desacordo", ressalvou o presidente da França, Nicholas Sarkozy, que assume a presidência do grupo em 2011.
Para o Brasil, os principais avanços foram a legitimação do controle de capitais para reduzir o fluxo de recursos externos que levam à valorização do real; a ampliação da representação dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional e o reconhecimento de que os países desenvolvidos terão de ser "vigilantes" em relação aos efeitos negativos de suas políticas monetárias sobre o restante do mundo.
Já os ministros de Finanças dos maiores países da União Européia (UE) divulgaram declaração isolada salientando que o mecanismo de resolução das crises européias, que pretende dividir com os credores privados o custo de novos resgates financeiro, só entrará em vigor em 2013.
G20 dá aval para país controlar capital
Monitor Mercantil, 12/11/2010
Brasil pressionou por introdução de cláusula, mas, até agora, só elevou IOF
O comunicado assinado pelos líderes do G20 admite o uso de controle de capitais por países emergentes que enfrentem a valorização indesejada de suas moedas em razão do aumento do fluxo de recursos externos, exatamente o caso do Brasil.
O dispositivo foi incluído por pressão da delegação brasileira, com a intenção de legitimar medidas defensivas que começaram a ser adotadas pelo governo mês passado e que podem ser ampliadas, caso a pressão pela alta do real continue.
"Isso é absolutamente inédito", celebrou o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, após a conclusão da cúpula.
A expressão controle de capitais, porém, não consta do texto, no qual foi substituída pelo eufemismo "medidas macroprudenciais".
Mas, na prática, o efeito é o mesmo: permitir que países levantem barreiras contra a entrada indesejada de capital externo, especialmente o de caráter especulativo.
A medida defensiva tem o objetivo de amenizar a apreciação da moeda local e impedir que surjam "bolhas", em razão da alta artificial do preço de ações ou commodities.
Até pouco tempo, o uso de controle de capitais era um anátema para o pensamento único que controla a economia internacional. Enquanto vários analistas progressistas ouvidos pelo MM nos últimos anos recomendavam esse caminho, os neoliberais insistiam em defender o fim das barreiras para o fluxo de recursos.
A situação começou a mudar, porém, após a crise asiática de 1997. Com a crise de 2008, que foi seguida, este ano, pelo aumento da liquidez internacional, com a consequente valorização das moedas dos países emergentes, cresce a pressão pelo controle de capitais.
Enquanto o Brasil lançou mão de medidas cosméticas, com o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa, outros países já controlam a entrada de dólares especulativos
G20 termina em fracasso em Seul
DA REDAÇÃO, Opinião Socialista online, 12/11/2010
• Como era esperado, terminou em fracasso a reunião do G-20 realizada nesses dias 11 e 12 de novembro em Seul. Após dois dias de discussões, os chefes de Estados das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia divulgaram um documento que não aponta qualquer perspectiva de resolução para a guerra cambial travada entre os países.
Entre as ações anunciadas pelo vago comunicado final está a criação um sistema para detectar desequilíbrios financeiros e cambiais. Tal medição ficaria a cargo do FMI, e os critérios que os países deverão seguir seriam definidos em 2011. A falta de acordo entre os chefes de Estado, porém, joga essas medidas na coleção “boas intenções” logo esquecidas, ao lado de tantas outras anunciadas na sucessão de reuniões e cúpulas entre 2008 2d 2009, como a regulação do sistema financeiro.
Por outro lado, a ideia de que os EUA se submeteriam a uma autoridade externa, mesmo que seja o FMI, não deixa de ser ingênua. Para se ter uma ideia, o próprio EUA haviam se comprometido, em reunião realizada pelos ministros das finanças do G20 duas semanas antes do encontro de cúpula, a não alimentar a guerra entre as moedas. Poucos dias depois, anunciava o megapacote de 600 bilhões de dólares, desvalorizando ainda mais o dólar.
Impasses
Atrás das palavras vazias estava o impasse que marcou toda a reunião. O problema que monopolizou a reunião permanece: a guerra cambial como uma forma disfarçada de protecionismo. Na prática, o G-20 não só não tomou qualquer medida contra as manipulações do câmbio, como em parte legitimou o vale-tudo nas moedas.
A declaração final apenas “sugere” que os países se abstenham de mexer no câmbio, ao mesmo tempo em que permite “medidas macroprudenciais cuidadosas” aos países que se sentirem afetados. Ou seja, fica tudo como está. Coisa que não é nada desvantajosa aos EUA, que permanece tendo controle absoluto na emissão da moeda de reserva internacional e continua fazendo o que bem entende.
Novo momento da crise
A atual guerra cambial expressa um novo momento da crise econômica internacional. A crise explodiu no final de 2007, levando pânico aos governos e mercados. Para enfrentá-la, lançou-se mão de pacotes de ajuda aos bancos que consumiram trilhões de dólares. Se por um lado essa ajuda evitou um crash como o de 1929, por outro ele colocou vários países, incluindo as principais potências, à beira da bancarrota.
Nesse novo momento da crise, os países tentam debelar a crise através de ataques aos trabalhadores, como ocorre em praticamente toda a Europa, e de protecionismo comercial com o câmbio. Cada país tenta elevar suas exportações depreciando sua moeda e tornando os produtos mais baratos no mercado externo.
Foi justamente o protecionismo que transformou o crack de 1929 na longa recessão que se estendeu por toda a década de 1930. A crise econômica nos EUA e na Europa e o impasse expresso na última reunião do G-20 mostram que o fantasma de 29 continua bem vivo.
Adorei esse texto. Esta' bem detalhado e opinativo. Me ajudou na minha pesquisa, o que e' muito bom. Obrigada.
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