12/11/2010
EUA X CHINA
A ascensão da superpotência chinesa
Recusa em valorizar iuan mostra que pressões não assustam mais
Seul - A recente trégua no conflito EUA-China, relativo com a valorização da moeda chinesa, mostra da forma mais clara possível a posição hegemônica da China. Como se sabe já há algum tempo, os EUA pressionam a China para valorizar sua moeda (iuan) a fim de ser reduzido o gigantesco superávit comercial que registra por suas exportações aos EUA, assim como, no mundo inteiro.
O total de seu superávit comercial já superou o correspondente da Alemanha e continua aumentando. A expansão econômica do país nos últimos quatro anos atinge 9% a 10% anualmente e, apesar da crise econômica mundial, esta expansão prossegue irredutível.
A estratégia de investimentos da China no exterior é eclética, aproveitando qualquer possibilidade que poderá lhe abrir uma perspectiva de crescimento e penetração exportadora.
Além disso, a China adquire a dívida externa dos EUA, assim como de outros países com déficits, com objetivo de financiar na essência suas exportações. A reivindicação deste país por participação mais importante nos organismos internacionais em analogia com sua dimensão econômica é uma evolução inevitável.
Porém, como se sabe, na China funciona um regime político-econômico próprio, que constitui fenômeno único mundialmente. O sistema político é dirigido por um único partido, o qual controla totalmente o Estado, enquanto é permitido o funcionamento de empresas privadas nacionais e estrangeiras sob determinadas restrições, as quais não impedem a livre especulação.
A força-motriz de crescimento deste capitalismo sui generis encontra-se no baixo custo da mão-de-obra e em sua capacidade de adotar novos métodos tecnológicos e inovações que são importadas no país pelas empresas multinacionais européias e norte-americanas.
Tecnologia própria
Contudo, nos últimos anos, a China não se limita mais à adoção de tecnologia estrangeira importada, mas já começou a desenvolver - com sucesso - tecnologia nacional, investindo maciçamente em pesquisa científica.
Paralelamente, dedica gigantescos volumes de recursos à educação dos jovens em todos os graus e, principalmente, na educação superior. Simultaneamente, incentiva de forma bem sucedida os estudos dos jovens chineses nas melhores universidades do mundo.
Por outro lado, as condições de trabalho dos trabalhadores e as remunerações muito baixas, apesar dos consideráveis aumentos ano passado, a indiferença com a proteção do meio ambiente e a previdência social assemelha-se às condições que predominavam nos países europeus no período denominado de "prioritário acúmulo de capital".
Observando o crescimento da China, formulam-se, pelo menos, duas perguntas críticas: a primeira diz respeito ao futuro deste ineditismo mundial, em que um regime político comunista convive com o galopante crescimento do sistema econômico capitalista com todas as características positivas e negativas que acompanham este crescimento.
Já a segunda refere-se à dinâmica deste sistema inédito. Isto é, se no interior do sistema político-econômico chinês existem dados de uma dinâmica "imperialista" ou se a dimensão do país e as possibilidades de crescimento que são oferecidas em seu interior são capazes de evitar disposições expancionistas. Aguardem, as próximas décadas, quando encontrarão respostas a estas perguntas.
Lee Wong
Sucursal do Sudeste Asiático.
Primeiro-ministro Wen Jiabao admira Adam Smith
Seul - Os líderes da China envidam qualquer esforço possível para combater os riscos do protecionismo. O comércio com o Ocidente desempenha papel primordial na economia do país. E, desagradando a esquerda da vida política chinesa, o primeiro-ministro Wen Jiabao tem se referido, frequentemente - no âmbito de conversações e em encontros com seus colegas - ao liberal Adam Smith.
Em sua recente visita a Londres, revelou ao jornal Financial Times que carrega sempre consigo a obra do famoso filósofo econômico, A teoria dos sentimentos morais. Conforme explicou o premiê chinês, "a mensagem importante que traz esta obra é que a desigual distribuição dos frutos do crescimento econômico é "moralmente triste" e ameaça a estabilidade da sociedade".
Este ponto-de-vista encontra eco absoluto na própria China, onde poucos desfrutam os benefícios de seu galopante crescimento. E Jiabao destaca, exatamente, esta opinião de Adam Smith para provar aos seus parceiros que está sendo problematizado por esta fraqueza da estrutura social de seus pais.
Cortes nos gastos
É óbvio que o Governo da China não deseja perder tempo em disputas, iguais àquelas que estão sendo travadas no Ocidente, com relação a formas para se enfrentar a crise econômica e social.
O programa do governo chinês para a reforma do setor de assistência médico-hospitalar prevê aumento de gastos de 1% para 4%. Os gastos para obras de infra-estrutura serão reduzidos de 45% para 38%, enquanto os gastos com meio ambiente serão, também, reduzidos de 9% para 5%.
Aqueles que mantêm-se "adidos" à esquerda têm muitas razões para desaprovar estas medidas do governo, considerando que as empresas estatais (SOEs) serão as beneficiadas. Porém, a parcela dos economistas chineses liberais teme que as SOEs receberão a fatia do leão dos recursos estatais, enquanto as pequenas e médias empresas privadas serão abandonadas ao léu.
O Instituto de Reformas e Desenvolvimento da China (China Institute for Reform and Development), em seu último relatório, analisa o desafio que apresentou a crise financeira internacional sobre as reformas do país. E concluiu, aliás, que a crise provou-se o maior desafio ao longo dos 30 anos da recente política econômica do país.
Destaca ainda que as medidas de apoio puderam atingir sua meta e aprofundaram os problemas econômicos de longo prazo, porque foram acompanhadas por mudanças que tinham como denominador o livre mercado.
Mercado interno
A pesquisa situa-se na liberalização dos preços no setor de distribuição de água, energia elétrica, nos monopólios estatais das ferrovias, nas telecomunicações e na fabricação de aviões.
Mas, se for mais cultivado o clima de protecionismo, então, a China deverá atribuir peso maior à sua política doméstica, objetivando evitar a profunda soberba dos chineses para com os estrangeiros.
O sistema chinês é absolutista. Mas a autoridade máxima do país é capaz. Ouvindo o premiê enumerando dados estatísticos sobre a crescimento tem-se a impressão de que ele lê um impessoal relatório de resultados operacionais empresariais.
Contudo, Jiabao tem planos detalhados para a melhoria de vida de seu povo, das universidades aos trens-bala. Objetivamente, qualquer um deve reconhecer os sucessos deste sistema.
LW
EUA
A América do Terceiro Mundo
Bruxelas - Arianna Huffington, conhecida jornalista e escritora, titulou seu último livro de forma bastante provocante: "A América do Terceiro Mundo". Neste livro descreve um país a caminho do subdesenvolvimento.
Em vista das eleições realizadas em meados da gestão presidencial, Arianna explica: "Trata-se de um título, de propósito, provocante, porque as palavras "América" e "Terceiro Mundo" são contraditórias em uma nação que está convencida desde sempre de que é a mais gentil, a mais rica, a mais poderosa e a mais generosa do mundo. Mas os indicadores estão no vermelho e estou soando alarme, enquanto é tempo ainda, para se interromper esta queda ao Terceiro Mundo."
Aquilo que mais predomina hoje nos norte-americanos é o sentimento do medo. "Medo de queda. Medo de que os postos de trabalho estão se perdendo para sempre. Medo de que não receberão aposentadoria. Medo de que não poderão ter assistência médica ou adquirir remédios ou ainda de não ter o que comer. Medo de terem sua casa confiscada. Medo de que a América será dividida em duas classes sociais: os ricos e todos os demais, os teúdos e os manteúdos. E finalmente, medo de que o pior não passou ainda".
Classe média acabou
Arianna situa o motivo da evolução descendente de hoje na péssima situação em que se encontra a classe média. "Está destruída. E seu desaparecimento ameaça muito mais a estabilidade deste país a longo prazo do que a crise financeira que consumiu US$ 3 bilhões em arrecadações dos contribuintes encaminhados a Wall Street".
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, Arianna Huffington explicou que, segundo sua opinião, "o Governo Obama deveria enfatizar desde o início os investimentos para a renovação das envelhecidas infra-estruturas do país, algo como se fosse um novo new deal, como aquele de Roosevelt na década de 1930".
"Trata-se de necessidade absolutamente urgente", continuou. "Nossa infra-estrutura, que,, antigamente era a força deste país, encontra-se em estado desesperador (...) Não só devemos consertar instalações arcaicas, mas devemos investir em infra-estrutura que nos apoiará na luta para as necessidades e desafios do futuro".
Refém de Wall Street
E qual é a opinião dela sobre Obama? Evitando incluir-se entre os "decepcionados" pelo presidente norte-americano, a jornalista observa: "A eleição dele permanece histórica. E é um homem brilhante. Mas desdenhou a crise dramaticamente."
"Em seu grupo integrou indivíduos como Lawrence Summers ou Tim Geithner, que enxergavam o mundo com os olhos de Wall Street e consideravam que o país acompanharia tudo desde que Wall Street fosse salva. Que equívoco!"
Arianna continua: "Não compreenderam que o problema da ocupação é estrutural, e não tomaram as análogas medidas. Por outro lado, e em antítese a suas promessas pré-eleitorais, Obama não mudou o sistema de funcionamento de Washington, e me entristece seu profundo respeito com o establishment. Entretanto, devo reconhecer de que não existe solução alternativa. Porque as propostas dos republicanos são ridículas".
Mary Stassinákis
Sucursal da União Européia.
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