quarta-feira, 2 de março de 2011

Revolução Árabe: povos nas ruas contra os planos imperialistas exigem mudanças radicais

A tônica da Revolução Árabe: povos nas ruas contra os planos imperialistas exigem mudanças radicais

Explosões em cadeia da ira popular no Mundo Árabe
Monitor Mercantil, 28/02/2011

Beirute - Os países árabes, um após outro, parecem centelhas que incendeiam as manifestações populares contra os regimes e, embora cada país possua suas próprias características, existem consideráveis características comuns: explosivo desemprego (principalmente entre jovens), exploração capitalista da mão-de-obra, endêmica corrupção e total inexistência de liberdades democráticas, políticas e sindicais.

Os regimes destacam-se pelo ativo apoio e participação aos planos imperialistas na região, considerando que situam-se em posições geoestrategicamente importantes e pela política das reestruturações capitalistas que se seguiram, liquidando em massa a riqueza de seus povos, os quais, em ritmo lento ou rápido, mergulharam na pobreza.

A hipocrisia imperialista é superlativa em todas regiões do Grande Oriente Médio, quando os ex "bons aliados", como Ben Ali ou Hosny Mubarak, tornam-se indesejáveis, quando o povo já desceu às ruas e não reivindica mais, porque agora exige, mostrando que tem força para derrubar e que não existem "poderes seculares".

Diante da eventualidade de maior radicalização, imperialistas e classes sociais urbanas evoluem oferecendo concessões a fim de dirimirem o descontentamento popular. Buscam, ainda, "novas pessoas" para o poder como, por exemplo, El Baradei para o Egito, barganhando até com o poder islamita, enquanto, simultaneamente, o utilizam como fator medo.

Embora, os povos árabes possam conseguir algumas melhorias em seu cotidiano, em meio a estas sangrentas lutas, até que ponto a conclusão final desta explosão em cadeia conseguirá o melhor resultado possível para eles é, ainda, difícil de se prever, enquanto na maioria dos casos não existe, ou pelo menos não foi projetada até agora, aquela força política, os partidos com estratégias revolucionárias que poderão desempenhar o papel da vanguarda, desdenhando o poder dos monopólios.

A resumida apresentação analítica de cada país comprova o grau de dificuldades que os povos da região enfrentarão em busca da liberdade derrubando os tiranos domésticos, rejeitando a "exportação de Democracia" oferecida pelo ex ou atual colonizador.

Tunísia "competitiva"

Com sucessivas concessões, o governo de "transição" tenta "responder aos anseios", insistentemente manifestados pelo povo nas ruas com fortes manifestações e greves, destacando que não vê "em níveis de pessoas e sequer em nível de opções políticas e econômicas, a materialização das mudanças".

É óbvio que nada até agora terminou, apesar da econômica (e de um modo geral) ajuda que as potências imperialistas dos EUA, União Européia (UE), Grã-Bretanha e França concederam ao governo de "transição", enquanto elogiaram - sem pudor algum - "a coragem do povo tunisiano" (dos 219 mortos e 510 feridos vítimas das manifestações da ira popular) ao qual permaneceram indiferentes durante décadas, apoiando o regime de Ben Alí.

Na Tunísia, dos 10,383 milhões de habitantes, o desemprego de jovens abaixo dos 25 anos atinge 55%, enquanto o desemprego no total da população chega a 30%, "a economia mais competitiva da África", de acordo com relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e "o exemplo para ser imitado", de acordo com relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), onde os indicadores floresciam (crescimento de 4,8% após uma série de privatizações), em 17 de dezembro, o vendedor ambulante Mohammad Bouazizi, desesperado, auto-imolou-se, fazendo explodir uma onda de violentas manifestações e greves por "liberdade, pão, dignidade". A educação e saúde grátis, assim como as ajudas e subsídios, não foram capazes de equilibrar a impopular tormenta contra o "socialista" Ben Ali.

Líbia contra "guinada" capitalista de Kadafi
Monitor Mercantil, Serbin Argyrovitz, Sucursal do Grande Oriente Médio.

A centelha chegou também à Líbia, com sucessivas manifestações e choques armados entre o povo, a oposição e os mercenários contratados em países da África subsaariana. O povo líbio exige, além de liberdades democráticas e individuais, cumprimento dos compromissos assumidos pelo governo de Muamar Kadafi para execução de programas habitacionais e criação de postos de trabalho para combater o endêmico desemprego que já atingiu 21%.

A nova situação para os 6,42 milhões de líbios que compõem a população do país, embora distante da miserabilidade que predomina em outros países árabes, é devida à "guinada" do regime de Kadafi às reestruturações capitalistas e às boas relações com os países imperialistas.

Uma guinada que, ao que tudo indica, teria sido a troca para a abolição do bloqueio - imposto em 1988 após o atentado terrorista contra um avião de passageiros da Pan-American sobre a Escócia, com saldo de 270 mortos, cuja autoria foi atribuída aos serviços secretos líbios.

Já havia sido antecedido o bombardeio da cidade de Benghaze pela Força Aérea dos EUA, em 1986, com saldo de 45 soldados mortos e 15 civis, em represália contra o atentado a bomba na discoteca La Belle, em Berlim, com dois soldados norte-americanos mortos e a disputa pelas águas territoriais líbias, no golfo de Sidra.

O ato de renúncia das armas de destruição em massa e a entrega dos autores do atentado contra o avião da Pan-American resultaram em restabelecimento de relações diplomáticas com os EUA (2006), uma série de investimentos do capitalismo norte-americano, italiano, espanhol, francês, britânico, russo e japonês ao país (aplicados, basicamente, na exploração de petróleo e gás natural e no rearmamento) completados, como era de se esperar, por privatização de cerca de 100 empresas estatais.

Também a União Européia (UE) concedeu importantes ajudas financeiras, ano passado, em troca dos esforços da Líbia para conter a imigração ilegal de africanos à Europa.

O Kadafi assumiu o poder em 1969, com golpe de Estado que derrubou o rei Idris. O arcabouço do regime é composto por um Conselho Revolucionário de 12 membros vitalícios e 1.500 comissões populares, cujos membros compõe-se o Parlamento.

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