A economia brasileira não está superaquecida como afirma o Banco Central, que na véspera do Carnaval aumentou a taxa Selic, muito pelo contrário, há múltiplos sinais de desaceleração, especialmente queda na inflação e no emprego na indústria. A lógica do BC é financista é não corresponde a realidade, e bem possível que deve no fundo atender aos interesses do capital financeiro detentor de dívida pública.
Às vésperas do Carnaval fomos brindados com mais uma rodada de aperto da política monetária brasileira. No intuito de seguir o regime de metas de inflação, o pensamento ortodoxo vigente no Banco Central tem optado por elevar sistematicamente a taxa nominal de juros, de modo a tentar conter a pressão de demanda sobre o crescimento dos preços futuros na economia brasileira. Entretanto, estas sucessivas elevações implicam um maior pagamento do serviço da dívida e, portanto, um acréscimo das despesas financeiras do Governo Federal.
A política monetária agressiva do Banco Central resulta em uma transferência de renda para o setor financeiro e mais 50 mil famílias de alta renda de nosso país de algo em torno de 5,4% do PIB brasileiro. Trata-se de percentual próximo a todo gasto da sociedade brasileira com a Educação, por exemplo. Cada meio ponto percentual de alta na Selic custa aos cofres públicos algo próximo a R$ 4 bi ao ano. As duas altas recentes vão custar aos cofres públicos algo em torno de R$ 8-9 bi, valor equivalente ao gasto de construção de 150 mil casas populares de R$ 60 mil cada uma.
Por sua vez, a alta da inflação não é provocada pela demanda aquecida, como se justifica o BC e é repetido pela mídia econômica burguesa. A alta recente do petróleo e de outras commodities como açúcar, carne e soja no mundo cria ainda a formação de expectativas negativas quanto ao futuro da inflação, em função do risco de um brusco reajuste dos combustíveis e seu efeito multiplicador sobre a matriz produtiva brasileira. Portanto, a intervenção do BC sobre a Selic em nada resulta efetivamente sobre a inflação.
E, em verdade, a dois dos principais sinais de demanda aquecida, emprego e inflação na indústria mostram justamente o contrário, um desaquecimento. Como pode ser visto a seguir.
Emprego na indústria tem leve queda de dezembro para janeiro
Monitor Mercantil, 11/03/2011
O emprego na indústria teve uma ligeira queda de 0,1% em janeiro deste ano, em relação ao mês anterior. O resultado é igual ao registrado em dezembro de 2010. O dado, que faz parte da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), foi divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o documento do instituto, o quadro de “estabilidade” reflete o “menor dinamismo da produção industrial observado a partir do segundo trimestre do ano passado”. O número de horas pagas pela indústria também caiu 0,1% em relação ao mês anterior, depois de crescimentos de 0,3% em novembro e dezembro de 2010.
Já o valor da folha de pagamento real cresceu 5,1% em janeiro, em relação a dezembro, depois de uma queda acumulada de 4,4% nos últimos dois meses de 2010.
Comparando janeiro deste ano com o mesmo período do ano passado, o emprego na indústria cresceu 2,7%, pela 12ª vez consecutiva. O resultado, no entanto, foi o menos intenso desde março de 2010, quando havia sido registrado um crescimento de 2,4%.
Nessa mesma comparação, o emprego avançou nas 14 regiões pesquisadas pelo IBGE, com destaque para São Paulo, com crescimento de 2,0%, Minas Gerais (4,2%), e as regiões Norte e Centro-oeste (4,4%) e Nordeste (2,1%).
Entre as 18 atividades industriais pesquisadas, 12 registraram aumento no contingente de trabalhadores. Os segmentos de maior destaque foram meios de transporte (8,2%), produtos de metal (8,9%), máquinas e equipamentos (7,4%), máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (7,6%) e metalurgia básica (9,0%).
Na comparação do acumulado dos últimos 12 meses com igual período anterior, o crescimento do emprego na indústria foi recorde. A taxa de 3,7% é a mais alta desde o início da série histórica.
IGP-M diminui na primeira prévia de março e fica em 0,48%
Monitor Mercantil, 11/03/2011
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), usado como referência para o reajuste em contratos de aluguel, ficou em 0,48% na primeira prévia de março. O índice, divulgado hoje (11) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), diminuiu em relação ao apurado no mesmo período do mês anterior, que foi de 0,66%.
No ano, o índice acumula alta de 2,29% e, nos últimos 12 meses, de 10,79%.
Os três índices que compõem o IGP-M apresentaram redução nas taxas de um levantamento para o outro. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que corresponde a 60% da taxa global, passou de 0,76% na primeira prévia de fevereiro para 0,56% na primeira leitura de março.
Dentro do IPA, as matérias-primas apresentaram a maior redução (de 2,40% para 0,52%), influenciadas pelo minério de ferro (de 5,65% para 0,52%), pela soja (de -0,70% para -5,46%) e pelo milho (de 7,69% para 1,33%). Os bens intermediários também tiveram decréscimo, de 0,73% para 0,52%; e os bens finais subiram de -0,64% para 0,66%.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que responde por 30% do IGP-M, diminuiu de 0,45% para 0,35%. Três das sete classes de despesa apresentaram diminuição na taxa: educação, leitura e recreação (de 1,63% para 0,07%), com destaque para cursos formais (que no levantamento anterior havia apresentado alta de 2,00% e nesta apuração não apresentou variação); transportes (de 1,53% para 0,80%), com a contribuição de tarifa de ônibus urbano (de 3,29% para 0,26%) e despesas diversas (de 0,88% para 0,27%), principalmente jogo lotérico (de 7,13% para 1,59%).
Ficaram mais caros os preços em vestuário (de -0,63% para 0,54%), habitação (de 0,33% para 0,58%), saúde e cuidados pessoais (de 0,36% para 0,43%) e alimentação (de -0,10% para -0,04%).
Último componente do IPG-M, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que representa 10% da taxa global, passou de 0,52% para 0,23% no período. Os preços de materiais, equipamentos e serviços subiram com menor força, passando de 0,79% para 0,44%; e o custo da mão-de-obra, que não apresentou variação depois de ter alta de 0,24% no levantamento anterior.
Para calcular a primeira prévia de março do IGP-M, a FGV coletou preços entre os dias 21 e 28 de fevereiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário