Tentar mostrar o PT como corrupto e que acharca os empresário é a última da grande imprensa do Brasil em sua luta inter-burguesa pelo controle do Estado. Nessa tentativa não medem escrupulos, são derrubados os hipócritas auto-limites éticos das mídia, são violados o rigor jornalístico, em seu afã desesperado para impor seus candidatos (PSDB e DEM/PFL) como "partido do capitalismo brasileiro" a frente do Estado no próximo período, ao invés do PT.
Uma campanha sistemática, que obrigou pela primeira vez, o próprio PT e Lula a fazer uma crítica veemente à grande imprensa, mas que em verdade não crítica os fundamentos desse comprometimento com o seu adversário, os compromissos econômicos - até porque seu partido em essência não luta contra a raiz do problema (e em parte até o reproduz). A grande imprensa é um negócio capitalista, e portanto, recebe recursos ou possui negócios e interesses vinculados com um ou outro setor econômico que está participando das eleições.
Vale lembrar que, durante os anos FHC do PSDB e DEM, os grandes grupos de mídia (FolhaSP, OEstadoSP, OGlobo, Abril, etc) muito se beneficiaram das privatizações adquirindo ou participando da compra de empresas de telefônia, banda larga, provedor de internet, telefonia móvel e TVs por assinatura. E também, os governos estaduais sob a cabeça dos dois partidos são extremamente beneficiados com vultosas verbas oficiais publicitárias e contratos duvidosos de assinatura de revistas e jornais e apostilas escolares. Está é a raiz principal da adesão a candidatura do PSDB-DEM ou rejeição da candidata do PT e do governo federal atual.
Apesar da grande mídia ser um setor empresarial beneficiado com o bom andamento dos negócios do setor industrial e comercial da economia capitalista, através do aumento dos anunciantes e consumidores de jornais, revistas e assinaturas e consequentemente, deveria ficar ao lado desse, mas não é assim. O tom do recado permanente da grande mídia, burguesa por natureza, sempre foi de repulsa ao PT e a Lula, embora com momento de tolerância. Tolerância em razão do papel de cooptação de ambos sobre movimento social a fim de não enfrentar o grande capital nacional. Uma tolerância sempre no "fio da navalha", pois Lula/PT poderiam perder o controle ou ser empurrados a se enfrentar com o capital. Contudo, como agora, não há riscos aos grandes negócios, muito pelo contrário, tornam-se desnecessários e incomodos. Ainda mais esse PT, defensor do grande Estado, intervencionista, comprador. Sendo portanto, necessário restituir o "natural estado das coisas", sem PT e estado interventor, mesmo que esse tenha dando muito lucro as empresas e bancos. Daí o apoio ao candidato do status quo anterior à 2002, ainda mais quando esse a frente do governo de SP sempre deu uma ajudinha a essas empresas...
Por sua vez, por um lado, apesar do governo, o Lula e o PT que agora tanto reclamarem da postura da grande imprensa, até porque os ataques são duros e prejudiciais a sua candidata, em verdade, nunca se enfrentaram com essas empresas. Nunca apoiaram ou fortaleceram veículos menores e a imprensa alternativa, regional e a operária-sindical. E, pior, nunca deixaram de dar recursos públicos subsidiados aos grande grupos em situação pré-falimentar ou fizeram nova concorrência pública pelo sinal de TV. Nunca atacou a oligopolização do setor ou tentou estabelecer um controle social como manda a Constituição de 1988 e é padrão em todos os países desenvolvidos. Nunca critiram a imprensa por esta atacar os movimentos sociais e tentar criminalizá-los. Nunca criticaram a campanha da mídia de defesa dos valores capitalistas, neoliberais e pró-mercadistas. Nunca durante a campanha questionaram a falta de democracia dos grande veículos de imprensa que simplesmente esconderam os outros candidatos, especialmente os de esquerda (PSTU, PCB e PCO), a não ser os dois, três ou quatro que lhe interessaram. Mas quando esta mídia prejudica sua candidata, fazendo uma saravaida diária de denúncias, a postura é outra.
Por outro lado, o PT e Lula ousaram reclamar da imprensa. Uma ousadia. Essa mesma imprensa capitalista e oligopolista ,que se esconde atrás das liberdades democráticas, do direito à liberdade de imprensa, para fazer o que bem entende, para atacar e caluniar livremente os movimentos sociais e quaisquer que firam seus interesses, e defender seus interesses econômicos e propagandear sua visão sobre a política. E para grande imprensa um ataque a si é como se fosse um ataque a liberdade de imprensa. Portanto, Lula, o PT e sua candidata são "totalitários" e são contra a liberdade e acharcam empresários.
O PT/Lula/Dilma bem que merecem esses ataques. Contudo, o eleitor brasileiro, especialmente os trabalhadores e pobres não merecem ler esse tipo de matéria.
Não merecemos ler, Miriam Leitão. Essa propagandista dos banqueiros e privatistas, atacar com pseudo-denúncias o PT, especialmente e justamente aonde e por onde o PSDB mais se utilizou, da ajuda seletiva do BNDES às grandes empresas. Essa mesma comentarista econômica - que parece que não estudou em uma faculdade de economia do mundo real, que sempre proclama coisas a partir de teorias que qualquer economista desconhece, tudo para defender os interesses aos quais está ela e o veículo de imprensa em que trabalha está alinhado - durante anos FHC/PSDB/DEM nunca criticou a corrupção desses, o uso político do BNDES ou comentou as milhares de acusações de tráfico de influência dentro dele, a farra das privatizações subsidiadas, a "Pasta Rosa", etc.
Não merecemos ler isso. E essa culpa é do PT e do Lula. Pelo visto, somente os trabalhadores podem, e precisam, derrotar a grande imprensa burguesa, nas urnas e nas lutas. A internet e a mídia operária-sindical são alguns meios de comunicação que ajudaram nisso. Para não precisarmos ter que ler mais tamanha hipocrisia, principalmente de alguém que em um mundo realmente democrático, não teria tamanho espaço para todo dia defender o que interessa a seu patrão e não o que interessa a seu leitor.
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O tom do recado
O Globo - MÍRIAM LEITÃO -
A pergunta feita a um empresário, numa conversa com várias pessoas, foi: “É verdade que emissários do PT telefonam para empresas avisando que sabem quem não está fazendo doações para a campanha?” O empresário respondeu: “Para mim, telefonaram e foram pessoalmente dizer que notaram que eu não tinha feito doação na última eleição nem tinha feito ainda nesta.”
Eu ouvi essa conversa estarrecedora.
Esse tipo de encaminhamento do pedido de doação, se estiver generalizado, é uma forma de ameaça.
A frase: “Notamos que você não fez doação na última eleição e ainda não fez nesta” pode ser entendida pelo que está embutido: estamos de olho em você.
O Estado, hoje, é quem concede a maioria do crédito; o BNDES aumentou de forma extravagante suas concessões de empréstimo subsidiado e a arbitrariedade de suas escolhas dos “campeões”, que o faz negar créditos a alguns e conceder em excesso a outros que, na visão do banco, estão mais aptos a vencer a competição global. A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida e morte sobre as empresas; de outro, emissários do partido do governo com uma ameaça embutida na formulação do pedido.
Hoje, um dos grandes riscos que a sociedade brasileira corre é exatamente esse poder excessivo do Estado, controlado como donataria pelo partido do governo. O Estado é o grande comprador, o grande financiador, o grande sócio em qualquer empreendimento. Como ficar contra ele? Por outro lado: ficando a favor dele, que grandes vantagens se pode ter! Os empresários só falam mal do governo se seus nomes não aparecerem; todos eles estão sendo beneficiados por alguma grande obra, algum grande contrato, alguma licença; ou sonham ser beneficiados no futuro.
Um dos maiores empresários do país foi chamado para uma conversa cheia de ameaças indiretas por ele ter feito declarações contra uma das polêmicas obras que promete ser sorvedouro de dinheiro público.
O governo cooptou movimentos sociais, sindicalistas, parte do movimento cultural, através da distribuição de benesses, patrocínios, contratos e financiamentos.
Mas a cooptação dos empresários é mais direta.
Algumas empresas não têm capacidade alguma de bancar os empréstimos que recebem, ou outras são viabilizadas por aderirem aos grandes projetos em que todo o risco é público.
Nas sombras de um Estado gigante, tudo viceja, como os intermediários de negócios, mesmo que eles não tenham delegação para entregar o que prometem. Com um Estado todo poderoso, qualquer espertalhão pode dizer que é a ligação direta com quem decide e pedir uma comissão para isso.
Mesmo que não houvesse casos de corrupção, comprovadamente ligados ao governo, ainda assim, seria o ambiente certo para a propagação dos casos nebulosos de pedidos de propina.
A redução do tamanho do Estado faz esse favor ao país: diminui os guichês nos quais se oferecem favores com dinheiro público e se pedem em troca comissões para enriquecimento pessoal ou para o partido que está no poder. A privatização tirou do Estado um sem número de cargos de distribuição política em empresas siderúrgicas, concessionárias de serviços de energia e de telefonia.
As empresas que o país decidiu manter estatais deveriam ser isoladas das pressões políticas e concederem mais acesso às suas contas e aos critérios de decisão.
Essa seria uma forma de reduzir o risco que o contribuinte e o consumidor dos serviços correm hoje com problemas como os dos Correios.
Já houve tantos casos nebulosos nos Correios no governo Lula — dos indicados do ex-aliado Roberto Jefferson até os indicados da ex-primeira-amiga Erenice Guerra — que não resta dúvida a esta altura: a melhor forma de produzir um colapso postal no país é continuar entregando os cargos de direção da estatal na mão dos políticos e seus afilhados e evitar a administração profissional da empresa. É um espanto que se consiga em tão pouco tempo provocar tanto extravio numa empresa centenária e que sempre teve reputação de eficiência.
Há quem considere que a melhor forma de evitar constrangimentos como o vivido pelo empresário que cito no começo dessa coluna é o financiamento público exclusivo de campanha. Como ser ingênuo a ponto de achar que, se o Estado der ainda mais dinheiro para os partidos, os que estão hoje viciados em caixa dois fecharão o balcão de pedidos impróprios aos empresários? O que ajuda a resolver o problema é, como tenho escrito aqui, a trindade: punição, fiscalização, transparência.
Nada é panaceia contra a corrupção, mas há formas de reduzi-la e outras de aumentála. O gigantismo do Estado é o caminho mais curto para aumentar a corrupção.
Quando ele se torna o parceiro inevitável em qualquer negócio, tudo pode acontecer.
Quando seu poder é usado para amedrontar as empresas, qualquer doação para campanhas políticas pode ser extorquida. E o que houve nos últimos anos no Brasil foi o crescimento descomunal do Estado, primeiro, à sombra do Plano de Aceleração do Crescimento e, depois, sob o pretexto de que era preciso evitar a crise econômica mundial. Conter esse gigantismo é fundamental hoje, não apenas por razões econômicas, mas para melhorar a qualidade da democracia brasileira.
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