terça-feira, 23 de agosto de 2011

Industrialização, subdesenvolvimento e dependência

por Almir Cezar

Este artigo é continuação do artigo Desenvolvimento e Subdesenvolvimento

"Operários", pintura de Tarsila do Amaral. Retrato do
da industrialização acelerada do Brasil, um país dependente
A dependência, ou melhor, como romper com ela, colocou-se progressivamente na pós-Segunda Guerra até o início dos anos 1980 como centro do debate sobre desenvolvimento econômico nacional. A intelectualidade crítica, heterodoxo e de esquerda lutava para que a sociedade nacional se desenvolva, pois o desenvolvimento era entendido como uma ruptura com a dependência, e esta com a transição (ou a abertura da transição) da construção de um novo tipo de padrão societário para a economia nacional.

Desenvolvimento e industrialização

O conceito de desenvolvimento era entendido de duas maneiras. Na primeira, como movimento societário global ou transição entre sucessivas etapas históricas em uma formação social e econômica. As sociedades menos desenvolvidas seriam aquelas que por estarem em etapas mais atrasadas ou inferiores teriam como consequência ao seu dispor condições sociais menos plenas aos seus indivíduos e menor poder e autonomia ao seu Estado e mercado nacional, sendo o inverso manifestava-se nas sociedades mais desenvolvidas.

No outro entendimento, a ideia era que as sociedades mais ou plenamente industrializadas eram as mais desenvolvidas, até porque, sua população, mesmo a mais pobre, gozava de condições sócio-econômicas bem superiores ao dos demais países, e seu Estado Nacional, gozava de poder e prestígio, ou no mínimo maior grau de autonomia no sistema mundial dos Estados, algo que também era visível nos movimentos da economia, menos suscetível as forças e ações do mercado internacional. 

Sendo assim, portanto, os países industrializados, simultaneamente eram modelo de desenvolvimento (de caminhada histórica) e etapa a ser alcançada. Consequentemente, as sociedades não-industrializadas deveriam “mimetizar” as estruturas e instituições econômicas e sociais nacionais a fim de alcançar e/ou tornar-se semelhante às essas sociedades, assim, a industrialização era concebida como condição necessária para o desenvolvimento.

Os produtos manufatureiros possuem maior valor agregado, isto é, permitem maior lucratividade a seu setor produtor, e também, envolvem para sua produção uma série maior de segmentos produtores (maior número de “peças”), fazendo com que se tenha custos maiores e múltiplos; e ainda, gera um efeito irradiador de desenvolvimento econômico ao longo de toda a cadeia produtiva. Em suma, a troca de um vestido somente seria igual à de umas dezenas de litros de vinhos, e lhe é preferível.

Nesse sentido, industrialização e desenvolvimento tornaram-se paulatinamente iguais, ou processos sincrônicos e determinantes. Países que não se industrializaram não se desenvolveram plenamente no modelo e na forma capitalista. Os países não industrializados seriam portanto subdesenvolvidos, ou seja, com um desenvolvimento atrofiado, deformado, aquém, em suma, "sub".

Dependência e subdesenvolvimento 

Também, o desenvolvimento era visto combinadamente como um fortalecimento do Estado e do mercado nacional, isto é, o aumento da autonomia nacional, e consequentemente a industrialização seria a ruptura e a superação da dependência.

Então uma sociedade desenvolvida era uma sociedade industrial, e desenvolvimento simultaneamente era entendido como industrialização. Assim, a industrialização era encarado como superação da dependência. E o fim da dependência viria com a industrialização, e esta portanto, traria a autonomia econômica nacional, e daí a autonomia política.


 A dependência seria então a incapacidade dos agentes nacionais de terem controle do processo de geração do excedente social, sendo que somente as sociedades mais desenvolvidas seriam plenamente autônomas nesse sentido. Haveria, portanto, dois grupos de economias nacionais no Capitalismo, aqueles que seriam capitalistas centrais, autônomas em sua dinâmica e desenvolvimento, e os capitalistas periféricos, dependentes. Os países centrais seriam países desenvolvidos, os países periféricos seriam dependentes e subdesenvolvidos.

Ao longo do desenvolvimento capitalista no século XX, os capitais e a produção foram se transferindo territorialmente, em parte no objetivo de encontrar por um lado, maior remuneração e lucros e, por outro, mão-de-obra e matérias-primas mais baratas, porém mantendo a acumulação de capitais no país sede do capital (Europa Ocidental, Japão e EUA). Nessa tendência vários países ex-coloniais e semi-coloniais se industrializaram (Brasil, México, Argentina, Coréia do Sul, Índia, China, etc), ganhando alguns inclusive um certo peso estratégico ao Capitalismo.

Contudo, apesar de se industrializarem, muitos deles continuaram periféricos e dependentes, acrescentando ainda mais um dilema à teoria do desenvolvimento, cuja melhor expressão é a teoria marxista do desenvolvimento.

Leia a sequência: Exploração, desigualdade e crescimento

Leia ainda: A quarta fase da dependência econômica do Brasil e o renascimento da Teoria Marxista da Dependência

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Um comentário:

  1. Porque o capitalismo nos EUA alcançou o nível de capitalismo central enquanto no Brasil ficou no nível de capitalismo periférico, sendo que ambos os países tem historicamente a mesma idade, praticamente?

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