domingo, 27 de novembro de 2011

Aprofunda-se a crise na Europa. Nem o "núcleo duro" está imune.

Aprofunda-se a crise na Europa. Nem o "núcleo duro" está imune: a Alemanha na alça de mira dos especuladores e o atoleiro chega a França. A União Europeia às vésperas de se liquefaz.

Alemanha na alça de mira dos especuladores
Laura Britt - Sucursal da União Européia.24/11/2011

Início do fim do "núcleo duro" da Zona do Euro 
Zurique - Apostas de US$ 739,5 bilhões são jogadas na eventual falência da Itália, França e Alemanha no mercado dos CDS. Os fundos especuladores - sob o nome de código "abutre" (vulture funds), deixaram a Grécia na margem e agora atacam o coração da Zona do Euro.

Suas expectativas de lucro não têm limite e estão em posição de enfrentar os "fortes" da União Européia (UE). Entraram no sistema europeu pela "porta dos fundos" graças a falta de entendimento e de decisão que predominam nos primeiros escalões da UE. Os empoados líderes do Velho Continente não decidiram, ainda, se fecham ou não a "porta dos fundos".



Assim, a França está na alça de mira. Os CDS de cinco anos para eventual seguro contra risco de falência aumentaram em 44% desde a Reunião de Cúpula da UE de 26 do mês passado. Das 157,9 unidades de base evoluiu para as 228,75 unidades.

O número de contratos "em aberto" atingiu 738. Os capitais que dividirão os investidores abutres totalizam US$ 137,3 bilhões. E anotam que as necessidades de financiamento do "forte portal" da Zona do Euro atingem US$ 53,3 bilhões e, referem-se, principalmente, a vencimentos de bônus e suas taxas de juros.

A Itália foi "invadida" pelos especuladores, que conseguiram lançar os desempenhos dos bônus de dez anos acima de 7%. Os contratos CDS que apostam na falência do país, totalizam 9.881.

Carrossel do terror 
As "jogadas" especulativas no mercado dos CDS valem US$ 20,5 bilhões e o total da dos contratos aproxima-se dos US$ 311,7 bilhões. As necessidades de empréstimos da Alemanha totalizam US$ 31,2 bilhões até o final deste ano. O CDS de cinco anos aumentou em 45% desde a Reunião de Cúpula da UE de 26 do mês passado. Das 400,96 unidades de base aumentou para 583,92.

O carrossel do terror continua seu giro passando pela Espanha, mais um país da Zona do Euro facilmente invadido. Na quinta-feira da semana passada realizou emissão de títulos de dez anos totalizando 3,56 bilhões de euros. A taxa de juro que pagou aos emprestadores atingiu 6,975%, quando a emissão anterior fora realizada com taxa de juro de 5,47%.

Quer dizer que o custo de endividamento aumenta velozmente para o país do Sul europeu, o qual dificilmente atenderá a sua dívida com taxas de juros atingindo 7%. As necessidade de empréstimo da Espanha totalizam 18,38 bilhões de euros até o final deste ano. Nas mãos dos especuladores encontram-se 7.764 contratos e desejam arrecadar US$ 16,1 bilhões, enquanto o jogo especulador da Espanha totaliza US$ 170,6 bilhões. Os CDS do país registraram aumento de 50% nos últimos 20 dias. Das 316,5 unidades de base aumentaram para 471.

Fortaleza na mira Os especuladores puseram a Alemanha na alça de mira. O país é considerado o "dono das chaves" da Zona do Euro. O CDA da economia mais poderosa da UE encontra-se em constante evolução ascendente. Ano passado encontrava-se nas 50 unidades de base, em outubro deste ano aumentou para 71 unidades e há uma semana atingiu as 95 unidades. Os especuladores estão jogando US$ 120 bilhões para arrecadar US$ 19,7 bilhões em caso de falência.

Os jogadores dos CDS não gostam segurar o contrato "morte" em suas mãos por longo espaço de tempo. Preferem revendê-lo ao próximo investidor que deseja jogar ou se proteger contra o risco, se for portador de bônus europeus. Assim, cria-se uma pirâmide especulativa que poderá atingir dimensões incontroláveis.

As recentes revelações do Goldman Sachs e do JP Morgan informam que o valor das apólices de risco que têm vendido totaliza US$ 5 trilhões. A revelação para os especialistas foi caracterizada como uma bomba que, quando explodir, destruirá tudo que já construiu o mundo econômico atual.

Pirâmide perigosa
As apólices de seguro CDS são, essencialmente, uma "pirâmide", em que o último paga o investidor anterior, com a corrente dos pagamentos concluindo no emitente inicial do contrato (algum organismo financeiro), o qual pagará 100% de seu valor quando falir o país para o qual foi emitido.

O valor do contrato começa muito baixo, mas, enquanto é fortalecido (por evoluções desfavoráveis ou previsões), então seu portador apressa-se a vendê-lo ao próximo interessado com certo lucro. Obviamente, o grande lucro será quando ocorrer a falência de um país, ocasião em que os últimos portadores multiplicarão seus desempenhos.

No mercado dos CDS existe um risco para os participantes, e este surge no caso que quebrar um elo bancário da corrente. As transações de compra e vende realizam-se porque existe banco emissor ou banco que compra e, em seguida, vende a um outro.

As transações entre bancos totalizam um jogo de 311,7 bilhões para o contrato de cinco anos de CDS da Itália. No caso em que um banco que participa da corrente "quebrar", a pirâmide desabará sem o CDS ser pago.

Aprofunda-se crise da dívida na Europa
França já está com um pé dentro do atoleiro


Mary Stassinákis - Sucursal da União Européia Laura Britt - Sucursal da União Européia - 23/11/2011

Bruxelas - Dia após dia os horizontes econômicos da Europa tornam-se mais sombrios. A crise de dívida, que evoluiu em clara crise de confiança do sistema dos mercados contra a capacidade da Zona do Euro de solucionar seus problemas, aprofunda-se, dissemina-se e já começou a atingir as economias - supostamente sadias - do núcleo da Europa, especificamente, a França.

Simultaneamente, a empoada liderança política européia engaiolada em tabus de idéias preconcebidas debate-se impossibilitada de assentir em uma reta e estável linha de evolução que daria uma resposta convincente aos gigantescos Frankensteins dos mercados que auto-indicados e auto-eleitos tendem a tornar-se, também, predestinados, derrubando tudo para serem, também, seguramente, soterrados sob os escombros não só da economia européia, mas da mundial.

Enquanto a divergência de pontos de vista entre a França e a Alemanha relativa ao papel e o funcionamento do Banco Central Europeu (BCE) permanece irreconciliável, a chanceler Angela Merkel recebeu no fim da semana passada em Berlim o primeiro-ministro britânico, David Cameron, para juntos tentarem conciliar a sua (deles) grande diferença (exatamente, a diferença da Europa Continental com a Grã-Bretanha, porque com o governo alemão compõem-se, também, o governo francês e os demais governos dos países integrantes da Zona do Euro) que está sob a manipulação do Frankenstein.

Merkel explicou, especificamente, a Cameron a necessidade de ser imposto um limite no funcionamento dos mercados, porque já tornou-se claro que a autogestão deles evoluiu de virtude a maldição para a economia mundial, funcionando não só como multiplicadores das diferentes crises, mas, também, autoconcebidos com suas profecias auto-realizáveis.

Taxa contra a Citi A chanceler alemã tentou promover a Cameron a idéia de adoção de uma tributação sobre as transações financeiras. A adoção de uma espécie de Taxa Tobin, isto é, aquilo que, recentemente, um ministro do Cameron caracterizou como "imposto sobre a Grã-Bretanha".

O argumento de Cameron e dos britânicos é conhecido, isto é, se esse imposto não for adotado sobre as transações do planeta inteiro, então atingirá a posição que ocupa a Citi, o centro financeiro de Londres, como centro financeiro mundial, e obrigará os banqueiros e os demais operadores em geral a migrarem para Nova York, Cingapura e demais centros de ação dos Frankensteins que triunfam no planeta.

Cameron, obviamente, discordou também da proposta de Merkel (e da Europa Continental em geral) para alavancar a complementação econômica e política da União Européia. Sabe-se até que a líder alemã esclareceu ao primeiro-ministro britânico que os países integrantes da Zona do Euro estão decididos a avançar em direção à complementação econômica e política e explicou-lhe que a modificação das convenções européias em direção a uma fiscalização mais severa dos países integrantes, institucionalizando ainda até a possibilidade de expulsão dos indisciplinados, garantirá que nenhum país-membro da União Européia explorará o trabalho e o esforço de seus parceiros, a exemplo do que fez a Grécia, segundo Merkel.

Tempo acabando
Os atrasos e os desvios dos empoados líderes europeus e, particularmente, dos alemães são proverbiais na Europa. Desta vez, contudo, o tempo não pode esperar Merkel - a qual, aliás, não sentiu ainda a ardente respiração dos Frankensteins sobre sua nuca para solucionar os teóricos problemas com seus parceiros externos e os problemas políticos com os endopartidários.

Até Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (Bird), advertiu que "os europeus deverão apressar-se em escolher uma das soluções mais indicadas para o problema, indicando uma delas para o apoio da economia européia, a exemplo da China e dos EUA, por intermédio do Fundo Monetário Internacional (FMI)".

"Agora está girando a bolinha na roleta para a Zona do Euro. O FMI pode apoiar o sistema europeu, considerando que países como a Itália avançam na adoção de medidas para estabilização da economia e de suas finanças públicas", disse Zoellick em uma entrevista à TV, preparando a opinião pública sobre o iminente envolvimento do FMI na específica crise italiana.

Enquanto isso, a Grécia ressuscitou e os demais parceiros fazem o que lhes é possível para que o FMI penetre cada vez mais profundamente nos assuntos europeus. Recentemente circulou, também, mais um cenário de envolvimento do FMI que prevê a solução do enigma de financiamento dos super-endividados parceiros pelo Banco Central Europeu (BCE) por intermédio do Fundo (considerando que o FMI é um organismo financeiro, embora não europeu, e considerando que o governo de Berlim não deseja rejeitar a transformação do Fundo Europeu de Estabilização - EFSF - em banco e, obviamente, não deseja a emissão de eurobônus).

Conselhos dos mais velhos
É evidente que o ritmo das evoluções é atingido pela Alemanha, enquanto a França já está com um pé dentro da crise e dispõe de um presidente "acabado". A Itália e a Espanha estão ambas com os dois pés dentro da crise, enquanto, adicionalmente, possuem pendências políticas para solucionar.

A economia européia encontra-se com os dois pés na crise e marcha, proximamente, à queda. O sistema bancário europeu, indiscutivelmente responsável pelo agigantamento e autonomia dos Frankensteins, encontra-se já nas mãos dos monstros - na sexta-feira passada anunciou-se que os bancos europeus deverão prescrever cerca de 270 bilhões de euros, resultado das "operações" que realizavam enquanto a crise crescia.

Por outro lado está claro que o cronograma dos encontros dos parceiros europeus para encontrar solução já está predefinido: Eurogroup e Ecofin, nos próximos dias 29 e 30 deste mês; reunião de cúpula dos empoados chefes de Estado e de governo da UE em 9 do mês que vem. A política do governo de Berlim, por ora, parece mais mergulhada no atoleiro. Porém, anotem que as vozes da lógica são ouvidas no interior da Alemanha.

Proposta pela Europa
As mais emblemáticas destas são aquelas dos ex-ministros de Relações Exteriores do país Hans-Diedrich Genser e Klaus Kinkel, os quais, em carta conjunta, formularam apelo ao Partido dos Democratas-Livres (FDP) para bloquear a proposta contra a criação do Fundo Permanente de Estabilidade (European Stability Mechanismo/EDM) que deverá ser apresentada ao Parlamento Federal alemão.

A proposta foi apresentada pelo deputado do FDP Frank Sefler. Genser e Kinkel respondem ao "esquentado" Sefler: "O FDP foi e deverá permanecer um partido europeu e deverá contribuir com todas as suas forças ao esforço da Europa para superar o período de fraqueza que está atravessando".

Anotem que o FDP é o partido porta-voz do mundo empresarial alemão e é tradicionalmente o regulador das evoluções no cenário político alemão, enquanto, simultaneamente, encontra-se alinhado politicamente com um dos dois maiores partidos, o Democrata-Cristão, para a formação de coalizões governamentais. Tradicionalmente, o ministro de Relações Exteriores de cada governo alemão é filiado a este partido.

Não espera-se evolução positiva na nova reunião de cúpula
Zurique - Como se não passasse sequer um dia desde a última Reunião de Cúpula da União Européia (UE), mês passado, os empoados chefes de Estado e de governo dos 27 países-membros da UE marcaram nova reunião para o dia 9 do mês que vem.

Os encontros preparativos e os levantamentos das pretensões de cada governo sucedem-se uns após outros e espera-se que atingirão o auge nas duas próximas semanas. Os custos de endividamento dos países integrantes da Zona do Euro aumentam perigosamente e dia após dia novos países estão sendo postos na alça de mira da especulação internacional.

O Banco Central Euopeu (BCE) - agora sob nova direção - atua com epicurismo comprando títulos estatais quando os spreads atingem o "vermelho". Já os governos nacionais apressam-se a tranquilizar os mercados impondo mais frugalidade e mais medidas fiscais.

Porém, as divergências ideológicas persistem e a ótica unilateral da realidade predomina nas palavras dos empoados líderes europeus (pelo menos daqueles que desempenham papel protagonista). E assim a crise aprofunda-se com análoga velocidade contrária do ritmo de reação da Europa.

O encontro da chanceler alemã, Angela Merkel, com o primeiro-ministro britânico, David Cameron, durante o último fim de semana, iluminou muitos dos aspectos desta divergência de pontos de vista dentro da UE.

Nas pressões do empoado líder britânico para "uso de todas as armas" que a Zona do Euro dispõe para enfrentar a crise, Merkel respondeu com um "meio não". Ela própria insistiu que a emissão do eurobônus (solução que deu a entender como sendo apoiada por Cameron) seria simplesmente uma fraude que "não convenceria" sequer os mercados.

"Trabalharemos para solucionar nossas diferenças", acrescentou, talvez, para aplacar o clima. Aliás, já havia sido revelado que não existe nenhum, absolutamente, ponto de convergência sobre um outro tema: a adoção de imposto sobre as transações financeiras.

A medida é apoiada, também, pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, que avançou com uma declaração que, seguramente, surpreendeu Cameron. Schäuble destacou algo que o governo de Berlim repete exaustivamente: "Que o euro estável deverá ter como apoiador uma governança comum. Uma tal moeda, contudo, seria uma atração para o total da Europa, a Grã-Bretanha incluída", atreveu-se a acrescentar.

BCE: cumprir os acordos
Entretanto, independente das meteóricas previsões e dos respeitáveis desejos dos líderes alemães, o fato permanece que a Europa não diversifica-se sequer ao mínimo diante de uma crise que assume cada vez mais e maiores dimensões, atingindo o núcleo da Zona do Euro, o qual até há pouco mantinha-se inatingível.

Semana passada apenas, a Espanha contraiu empréstimo com taxa de juro "proibitiva" (a taxa de juro dos bônus da Espanha com prazo de dez anos atingiu 7%), enquanto o spread espanhol aproxima-se das 500 unidades de base, que a Itália atingiu pela primeira vez há alguns dias. O spread italiano já oscila em níveis superiores, perto das 550 unidades, e a história repete-se de forma dramática para a Zona do Euro.

Nas crescentes pressões para uma mais ativa intervenção do BCE nos mercados de títulos, o novo presidente, Don Mario Draghi, respondeu com um blablablá que poderia ter sido resumido assim: "Não venham nos dizer o que devemos fazer".

Draghi declarou que "Frankfurt (isto é, o BCE) permanecerá fiel aos princípios e ao seu papel, quer dizer, o combate das pressões inflacionárias com as clássicas armas da política monetária (taxas de juros), mas, também, com formas heterodoxas, como a compra de bônus estatais no mercado secundário". Destacou que "as últimas divisões dos líderes europeus durante as reuniões de cúpula em corda-bamba permanecem carta vazia por causa de inércia das lideranças políticas".

Monti e líderes europeus
De fato, o acordo para o fortalecimento do EFSF permanece não funcionando, assim como a recapitalização dos bancos. Contudo, os indícios tornam impositiva a necessidade de aceleração do processo. E conforme revelam os últimos dados, os cinco maiores bancos da Itália precisarão de 6 bilhões de euros adicionais para o fortalecimento de suas bases de capital, por causa da exposição em títulos estatais italianos, cujos valores despencam incessantemente.

Já os bancos da Espanha, por outro lado, encontram-se no turbilhão da derrocada do mercado imobiliário, de acordo com o Banco Central do país, acumulando empréstimos atrasados e casas sob confisco, as quais, contudo, não podem vender.

Para a atual crise da Zona do Euro, a ascensão de "governos tecnocratas" foi considerada uma certa solução. A reação dos mercados não justificou, de forma alguma, o otimismo inicial e o tom triunfal cultivado pela imprensa internacional.

Mantendo em sua pasta as novas medidas de frugalidade, o novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, marcou encontros para os próximos dias com toda a "velha guarda" dos empoados líderes europeus.

Conforme declarou, irá nos próximos dias a Bruxelas para manter encontros com os presidentes do Conselho da Europa, Herman Van Rompuy, e da Comissão Européia (órgão executivo da UE), José Manuel Barroso Durão. Também deverá manter encontros com a chanceler Angela Merkel e com o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

Apesar de toda esta movimentação, permanece incerto até que ponto modificarão estas consultas a "negativa" guinada das evoluções na Europa.

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