segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Juros não puxaram a queda da inflação. Recuo é causado pela commodities

por Almir Cezar

A recente queda na taxa de inflação brasileira comprova que taxa Selic não deveria ser usada como instrumento de política monetária, questão inúmeras vezes apresentada aqui no blog.  Agora usando as palavras do professor Dércio Garcia Munhoz da Universidade de Brasília: "A Selic não altera a liquidez na economia, portanto não é instrumento de política monetária, mas os preços estão caindo por causa da queda da demanda interna e dos preços das commodities. As empresas, por causa da falta de mercado, estão reduzindo margem de lucro" [ Leia a matéria ao final ]. O Brasil ao trilhar o caminho do desenvolvimento capitalista dependente está preso a uma armadilha macroeconômica que lhe empurra a uma crônica inflação relativamente alta (em comparação ao países capitalistas centrais), onde os juros altos não ajudam a reprimi-la.

A inflação no Brasil é gerada sempre por três fatores característicos, herdados de nosso desenvolvimento capitalista dependente: demanda interna a frente da oferta, sobre-importância dos preços das commodities na economia e margens de lucros exageradas fixadas pelos oligopólios e multinacionais. Esse último fator é o menos estudado, embora seja justamente o fator mais determinante, típico de países capitalistas dependentes dentro do sistema mundial. Em resumo: no Brasil, juros altos não combatem a inflação. Como pelo contrário, na atualidade a vem mantendo alta, retroalimentando-a [para mais saber mais a sugestão é o artigo "Juros, inflação e dependência no Brasil atual" ].

A alta taxa de inflação em países industriais dependentes lhe é um traço típico, e é causado simultaneamente pela própria industrialização acelerada e pela dependência. Quanto mais cresce a economia maior é a inflação, à medida que a estrutura produtiva ainda não está completa a atender o incremento de renda dela resultante, além do mais, traz consigo a formação de grandes oligopólios nacionais e a entrada  das multinacionais no mercado doméstico. Portanto, mesmo agora no Brasil, a causa primária da inflação alta crônica é a estrutura de preços herdada do modelo de desenvolvimento, e o principal agente que a provoca são os oligopólios e multinacionais e suas altas margens de lucros, que não são superados através de mera medidas de políticas macroeconômicas, mas sim estruturais. Seria esse fenômeno é uma espécie de "armadilha" macroeconômica, inevitável aos países em desenvolvimento. Com efeitos inclusive em excessos de importações e declínio da rentabilidade das exportações de produtos primários, logo gerando gargalos na contas externas e balanço de pagamentos. Consequentemente situação que não se combate da forma convencional como diria a Economia burguesa, controlando a demanda agregada via fixação da taxa básica juros ou orçamento público "equilibrado".

Porém, quando se completa totalmente a industrialização, mas não se rompe com a dependência, como é o caso do Brasil atual, a armadilha prossegue, embora ganhando novos contornos.  A taxa de juros e o conjunto de políticas monetárias passam a ter efeitos próprios, diferentes do que as autoridades macroeconômicas com sua visão esperariam. A taxa de juros alta, além de ser inócua no combate a inflação, passa na verdade, a alimentá-la, em uma espiral contínua, à medida que os empresários repassam para a sua margem de lucro e, portanto aos preços, esse aumento nos custos financeiros. E também, a oferta agregada doméstica é sempre limita ou tem baixa potencial de reação à variações da demanda, devido a baixa propensão aos investimentos produtivo e capacidade produtiva.

Por sua vez, a taxa de juros básica (Selic) é perpetuamente fixada alta pelo Governo por uma imposição dos agentes financeiros domésticos e internacionais, que exige rentabilidade alta. E esse é o verdadeiro motivo, e não o combate a inflação, como alega o BC. A mais-valia em grande volume, extraída pelos oligopólios e multinacionais e suas altas margens de lucros, devido ao padrão de superexploração do trabalho típico de países dependentes, precisa, por um lado, ser reciclada contínua e aceleradamente pelo mercado financeiro, e por outro, consequentemente, os rentistas somente aceitam ser remunerados a altas taxas de juros, exigindo liquidez e rentabilidade maiores e crescentes. E mesmo quando a Selic é baixada, a taxa de juros direta ao consumidor e investidor produtivo continua alta, pois os bancos simplesmente aumentam o chamado spread bancário (diferença), não repassando essa redução. Em todo caso, as empresas repassam esses custos financeiros aos consumidores, pelos preços, ou aos funcionários, que para compensar esse custo alto, exige-lhes maior produtividade ou salários menores.

Em suma, os trabalhadores "pagam o pato". É preciso superar essa armadilha pondo fim ao atual padrão de desenvolvimento nacional e sua respectiva estrutura econômica. Porém essa superação se dará somente se houver uma transformação profunda da economia brasileira. A ruptura com está situação macroeconômica passa pela superação definitiva da dependência econômica: pela reforma agrária, pela nacionalização da grande indústria e sistema financeiro e pelo fim da dependência tecnológica.

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Juros não puxam queda da inflação 
Monitor Mercantil, 14/11/2011

 Economista observa que recuo dos índices é causado pela commodities 

 De acordo com o economista Dércio Garcia Munhoz, da Universidade de Brasília (UnB), com a recente desaceleração. a indústria brasileira opera em níveis inferiores ao período pré-2008. Ele defender uma queda na taxa básica de juros (Selic) e nos juros para financiamento ao consumo e ao investimento. O especialista acrescenta ainda que a queda da inflação não é estrutural.

"A Selic não altera a liquidez na economia, portanto não é instrumento de política monetária, mas os preços estão caindo por causa da queda da demanda interna e dos preços das commodities. As empresas, por causa da falta de mercado, estão reduzindo margem de lucro", destaca.

 Munhoz, que já presidiu o Conselho Federal de Economia (Cofecon), adverte que os juros retiram renda das famílias e oneram os custos das empresas, reduzindo a demanda: "O crédito às famílias já atinge US$ 1 trilhão, um recorde, e continua crescendo a cada ano. A saída adotada no período 2008-2009, quando o governo apostou no crédito, fará disparar o endividamento das famílias e as importações", salienta, reiterando a defesa da queda dos juros, que valorizaria o dólar e inibiria as importações.

 "Na Europa, o grau de arbitragem dos investidores estrangeiros sobre os países periféricos é tão grande que as receitas adotadas - corte de gastos e aumento de juros - irão agravar a recessão e prejudicar a arrecadação. É o que vai ocorrer aqui, se o governo não baixar as taxas de juros e retomar os investimentos."

Mercado reduz para 5,55% estimativa para inflação em 2012 
Do UOL Economia, em São Paulo

O mercado financeiro reviu ligeiramente para baixo sua previsão para a inflação em 2012, ao mesmo tempo em que manteva a de 2011, mostrou o relatório Focus do Banco Central (BC) nesta segunda-feira. De acordo com o documento, a estimativa para a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012 caiu para 5,55%, ante 5,56% na semana anterior. Para 2011, o prognóstico permaneceu em 6,48%. A previsão para a inflação em 12 meses também ficou estável, em 5,62%. O relatório Focus tem divulgação semanal e traz previsões colhidas pelo BC junto ao mercado para uma série de variáveis macroeconômicas. O documento mostrou ainda que o mercado manteve inalteradas as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 (3,16%) e 2012 (3,50%). Também foram mantidas as perspectivas para a Selic em 11% ao ano e 10%, para 2011 e 2012, respectivamente. Mas o mercado seguiu revisando para baixo os prognósticos para o crescimento da produção industrial neste ano e no próximo a para a relação dívida/PIB em 2011. Para a produção industrial, a estimativa de crescimento recuou a 1,37% em 2011, contra 1,55% no documento anterior. Para 2012, a previsão de alta caiu para 3,68%, frente a 3,74%. A expectativa para a relação da dívida líquida do setor público sobre o PIB neste ano caiu para 38,60%, ante 38,65% na semana anterior. A estimativa para a taxa de câmbio para os dois anos permaneceu estável em R$ 1,75 por dólar
(Com informações da Reuters)


Juro do crédito pessoal chega a 68% ao ano, seis vezes a Selic 
CAROLINA MATOS DE SÃO PAULO 21/11/2011

 O consultor financeiro Rubens Tadeu de Castro, 43, decidiu aplicar na vida pessoal os conselhos que dá às companhias de pequeno e médio portes que assessora. Há cerca de um mês, trocou dívidas mais caras --como a do cartão de crédito (juro médio de 10,7% ao mês, 238% ao ano) e a do cheque especial-- por outra mais barata. E usou parte do dinheiro emprestado para investir na empresa que possui. "Peguei R$ 70 mil por meio de refinanciamento imobiliário, com taxa de 19% ao ano [1,46% ao mês] em dez anos. Com isso, minha prestação com dívidas, que superava R$ 4.000 por mês, passou para R$ 1.300", diz Castro. Mas ainda são poucos os que fazem essa reestruturação das dívidas pessoais. E menos ainda os que se dão conta de quanto vão pagar de juros ao final do empréstimo. Das linhas de crédito consideradas pelo Banco Central para o cálculo do juro bancário médio --excluindo, portanto, financiamento imobiliário e cartão de crédito--, o cheque especial é a opção mais cara ao consumidor, com taxa de 9,17% ao mês, ou 186,7% ao ano. O crédito pessoal (sem contar o empréstimo consignado, descontado em folha de pagamento) cobra, em média, juro de 4,42% ao mês, ou 68% ao ano --seis vezes o juro básico da economia brasileira (a taxa Selic), que está em 11,5% ao ano e pode chegar a um dígito em 2012.

 SIMULAÇÕES O quadro ao lado traz simulações de empréstimos de R$ 70 mil por cinco anos --prazo em que Castro pretende quitar sua dívida-- em diversas modalidades. São situações hipotéticas, mas que ilustram as variações possíveis nos valores cobrados do cliente ao final do prazo do empréstimo, conforme o tipo de crédito e as taxas de juros de cada uma delas. No crédito pessoal (excluindo o consignado), o valor total a ser pago à instituição financeira salta para R$ 200,6 mil. E se alguém ficasse devendo R$ 70 mil constantemente no cheque especial por cinco anos --caso teórico que dificilmente aconteceria na vida real, pelo valor elevado e o prazo longo-- pagaria, ao final, mais de R$ 13 milhões. "Os juros no Brasil são muito punitivos", diz Erasmo Vieira, consultor da Planilhar Planejamento Financeiro. "É preciso saber escolher o tipo de crédito mais adequado ao propósito que se tem, e avaliar se há condições para tomar o empréstimo ou se é melhor adiar a decisão."

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