domingo, 11 de julho de 2010

A ascensão dos BRICs e o aprofundamento da superexploração do trabalho

por Almir Cezar Filho

A superexploração do trabalho amplamente disseminada na China e visível o caso das recentes greves e ondas de suicídios de operários, embora traço típico de dependência de países periféricos dentro do sistema mundial imperialista, não impede sua transformação desse países em país semiperiférico ou mesmo central, fenômenos que estamos vivenciando agora com os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China).

O grande de capital internacional precisou simultaneamente de um rearranjo no sistema mundial imperialista de Estados, ao tempo que buscou globalmente por zonas de "baixo salário" e menor composição orgânica de capital. Mesmo que para isso, precise ceder poder para esses Estados e burguesias nacionais e industrializar/desenvolver essas economias, na tentativa de compensar a lei da queda da taxa de lucros.

O inverso com relação a superexploração do trabalho também acontece: países centrais podem desenvolver amplos traços de superexploração (e o estão fazendo). Basta ver os exemplos, a onda de suicídios na FranceTelecom e as várias medidas governamentais européias de cortes salariais e direitos sociais e previdenciários, principalmente na Grécia. Isto é ocasionado à medida que, a crise estrutural capitalista vai forçando o grande capital e seus governos a adotar esse regime de acumulação para compensar a ação da lei da queda tendencial da taxa de lucros, evidenciada na crise mundial.

Essa situação pode explicar porque os países dos BRICs e vários emergentes tiveram menor impacto da crise mundial de 2008, ou pelo menos atraso em sua chegada, se comparado os países centrais (EUA, Canadá, UE e Japão). Também explica que o ciclo econômico favorável na maioria dos BRICs e as recentes melhorias na vida dos trabalhadores nesses países, caso principalmente da economia brasileira, vieram apenas da ampliação na exploração do trabalho e redução da participação da massa salarial na distribuição da riqueza.

Finalmente, é bom lembrar, desenvolvimento econômico nacional não é sinônimo de bem-estar social, são duas categorias totalmente distintas, embora sempre vinculadas. Por sua vez, vários dos países centrais no passado foram países periféricos e sua industrialização se fez a partir dos capitais externos de países centrais sedentos de lucros extraordinários (vide o caso da Alemanha ou EUA com os capitais ingleses). O capital não tem pátria, muito menos patriotismo, pode fazer em seus países o que faz nas colônias e semi-colônias, e também, traz cíclico e simultaneamente progresso e miséria, em uma permanente e sinistra ciranda.

Caberá o outro lado da moeda do sistema, o contraponto ao capital, o trabalho, romper com esse jogo doentio. E as sociedades dos BRICs se tornaram arenas centrais desse jogo, com status semelhante a Europa e EUA, e são onde possivelmente haverão as partidas mais decisivas dos próximos anos, talvez mais importantes que esses, para construção da nova sociedade pós-capitalista.

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