sábado, 7 de janeiro de 2012

Kassab e Alckimin militarizam cracolândia para dá-la a especulação imobiliária

por Almir Cezar

baculejo em viciados pela ROTA (tropa de elite da PMSP)
A quatro dias atrás, o ano de 2012 começou com o inicio da operação policial integrada entre o governo do estado e a prefeitura municipal que tenta acabar com cracolândia no centro da cidade de São Paulo através da expulsão dos usuários de drogas e prisões e da demolição de edifícios abandonados. Para a área do centro apelidada de "cracolândia" há anos se anuncia, pelos sucessivos políticos, inúmeros planos de revitalização (Projeto "Nova Luz", etc), contudo ficando apenas nas intenções, e se limitando a medidas que na verdade, apenas consistem em entregá-la a empreendimentos imobiliários, sedentos de novas áreas no centro da cidade.

O que há de fundo na ação da dupla Kassab-Alckimin é "especulação imobiliária”, e não “interesse público” e “bem comum” ao militarizar uma pequena área da centro usada pelos usuários de crack, dispersando-os pela cidade. Prosseguem na velha tradição de nossas elites e políticos de "revitalização como sinônimo de expulsão de pobres de uma região e que "problema social é questão de polícia".  Por fim, a ação na Cracolândia, vem dando poucos resultados concretos, em três dias de operação, não se viu nenhuma atenção especial ao drama dos dependentes de crack. Nada que indique que eles, em vez de ficarem vagando pelas ruas, vão ter um caminho para seguir na vida, com assistência social e tratamento de saúde. Em suma, o que parece é que o plano, na verdade, era simplesmente, recapturar a área para o setor imobiliário, e empurrar os moradores de rua para áreas mais periféricas da cidade.

Operação policial acaba com cracolândia no centro de São Paulo

04/01/2012 - 21h00 | Daniel Mello| Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Depois de dois dias de operação policial na região conhecida como cracolândia, no centro da capital paulista, o tráfico de drogas no local desapareceu. Também foi possível perceber que o número de pessoas fumando crack diminuiu. Esta tarde, a reportagem da Agência Brasil percorreu as ruas antes ocupadas por traficantes e dependentes químicos e localizou apenas um grupo de pouco mais de dez usuários, em uma esquina da Praça Júlio Prestes.
O tenente Flávio Martinez, do 13º Batalhão de Polícia Militar (PM), disse que até o momento os resultados da ação são positivos. “Não tem mais aquela aglomeração tão grande de indivíduos usando entorpecentes”, ressaltou ao fazer um balanço da operação que envolve cem policiais militares, três bases móveis, 12 viaturas, 11 motos, além do apoio da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Desde ontem (3), foram feitas 350 abordagens, que resultaram em três prisões e três recapturas de foragidos da Justiça. Também foram apreendidas 40 pedras de crack, dois chassis de moto e duas pistolas de brinquedo. Além disso, o trabalho é acompanhado por uma equipe que faz a limpeza das ruas e prédios abandonados, e já retirou mais de 7,5 toneladas de lixo da região. A operação é mantida 24h e deve continuar por pelo menos 30 dias.
O especialista em segurança pública e pesquisador da Fundação Getulio Vargas, Guaracy Mingardi, alerta que, apesar do aparente sucesso da ação, a tendência é que os usuários simplesmente se desloquem para outros pontos da cidade. “Essa operação funciona do ponto de vista da urbanização, retomada da cidade. Mas, na verdade, estanca aquele foco, mas não impede o nascimento de outros”, disse Mingardi que foi subsecretário Nacional de Segurança Pública.
No entanto, para o tenente Martinez , a polícia está preparada para essa migração do uso e tráfico de crack. “Estamos trabalhando com a migração, em um primeiro momento, no entorno da Nova Luz. Então, todos os bairros adjacentes da Nova Luz tiveram o policiamento intensificado desde ontem”. Mas, de acordo com o oficial, ainda não foram detectados focos de aglomeração de usuários da droga.
Para combater o problema de forma mais efetiva, Guaracy Mingardi defende uma atuação voltada para a prisão dos traficantes. “Você tem que trabalhar com investigação, [prender] o traficante de médio porte, [prender] o distribuidor local, para diminuir a quantidade de crack circulando”.
As ações têm que ser combinadas, na opinião de Mingardi, com grandes campanhas de prevenção ao uso decrack, programas de redução de danos e ampla oferta de tratamento aos viciados. “ Se você trabalhar nessas coisas, vai diminuir a necessidade de ações como essa de hoje”.
Edição: Aécio Amado


Edição do dia 05/01/2012
06/01/2012 00h40 - Atualizado em 06/01/2012 00h40

Ação na Cracolândia, em SP, dá poucos resultados concretos

Em três dias de operação, não se viu nenhuma atenção especial ao drama dos dependentes de crack. Nada que indique que eles, em vez de ficarem vagando pelas ruas, vão ter um caminho para seguir na vida.

Fabio TurciSão Paulo, SP
Cracolândia, a terra do crack, mudou. Não tem mais território fixo, mas os habitantes ainda estão todos por aí. Como farrapos humanos desalojados, perambulando.
A operação que começou na terça-feira (3) posicionou 100 policiais militares nas ruas onde o Estado mal entrava. Três traficantes foram presos. A prefeitura veio limpar as ruas e recolher o lixo.
Em três dias de operação, não se viu nenhuma atenção especial ao drama dos dependentes de crack. Nada que indique que eles, em vez de ficarem vagando pelas ruas, vão ter um caminho para seguir na vida.
O comandante da operação diz que a ação é dividida em fases e que, na semana que vem, com mais segurança, começa o trabalho de assistentes sociais e enfermeiros. “Essa primeira semana é tipicamente policial, para quebrar o tráfico e impedir o uso de droga”, afirma o coronel Pedro Borges de Oliveira Filho.
Há muito tempo, o poder público bate cabeça pra combater o crack. Desde o começo dos anos 1990, a droga é vendida e consumida no centro de São Paulo, sempre migrando de uma rua para a outra, à medida que a polícia tentava reprimir. Em 2005, foi colocada na região uma base policial. Não resolveu. Agentes de saúde também já tentaram.
O crack se espalhou para outras regiões da cidade, como a avenida Jornalista Roberto Marinho, na Zona Sul, e o bairro do Jaguaré, na Zona Oeste. No ano passado, a rua Helvétia, na Cracolândia central, chegou a ser bloqueada pela multidão que consumia a droga.
O urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis, acha que, ao longo de todos estes anos, faltou continuidade nas ações. “É por isso que parece que toda ação está começando do zero. E encarando como se fosse um problema novo naquele lugar”, diz.
Para Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, a ação policial de agora interrompe um trabalho social. “O maior problema é no trabalho que já existe na rua, dos educadores, intervindo junto a essa população. Com uma medida repressiva dessas, vão por água abaixo meses, anos, de trabalho com essa população”, afirma.
O próprio comandante da Polícia Militar participa dessas operações há mais de dez anos, e diz por que acha que desta vez vai ser diferente. “Hoje, nós temos condições de manter indeterminadamente o policiamento aqui pra sufocar e quebrar a estrutura do tráfico. O Estado e a prefeitura têm estrutura social para abrigar todas as pessoas que procurarem”, explica o coronel.
O Poder Público tem a obrigação de não falhar de novo, de não decepcionar quem precisa dele.
Gilberto da Silva Matos, dependente de cocaína e álcool, soube da operação e fez a parte dele: veio pedir ajuda. “Tenho três filhos maravilhosos, uma mulher linda, uma família maravilhosa e a droga está acabando comigo. Está acabando com tudo, destruindo minha vida. Eu vim procurar ajuda”, diz.

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