PIB da região com 17 países cresceu apenas 0,8%, número puxado pelo crescimento da Alemanha e França. A política monetária do BCE, comandada pelos banqueiros alemães, transfere as perdas da crise econômica mundial para seus parceiros na UE (sua semiperiferia). Enquanto isso, Portugal entra no "socorro" e a Grécia está às portas da moratória. Superendividamente da periféria da Zona Euro, com os sacrifícios de seus trabalhadores, é o combustível da recuperação da Alemanha.
A economia da Zona do Euro (17 países que usam a moeda) cresceu 0,8% no primeiro trimestre sobre os três últimos meses de 2010. Mas o resultado não é homogêneo. Mais uma vez há uma Europa que vai bem (Alemanha e seus vizinhos) e outra muito mal (países do Sul). Maior economia do bloco, a Alemanha foi a que mais cresceu: 1,5%. O país já recuperou tudo o que perdera desde a crise global de 2008. E deve crescer 2,6% em 2,6%. Fortes performances das economias da Alemanha e da França impulsionaram o crescimento da zona do euro para acima do esperado por analistas no primeiro trimestre. Os números enfatizaram também a diferença entre o desempenho dos países do bloco.
O Produto Interno Bruto (PIB) da região com 17 países cresceu 0,8% no primeiro trimestre sobre o quarto trimestre de 2010, informou a agência de estatísticas Eurostat nesta sexta-feira, impulsionado por uma alta de 1,5% da economia alemão e de 1% da francesa. Economistas previam para a zona do euro um avanço de 0,6%. Alemanha e França são responsáveis por quase metade do PIB do bloco. Ambos os países recuperaram-se após um desempenho bastante modesto no quarto trimestre, quando o clima frio abateu a produção. Analistas de instituções financeiras inclusive apontam que há uma boa chance de o crescimento do PIB da zona do euro alcançar 2% em 2011 pela primeira vez desde 2007. Em um relatório separado, a Comissão Européia previu que a zona do euro crescerá 1,6% neste ano, com inflação acima do teto do Banco Central Europeu (BCE), a 2,6%.
A Alemanha deve continuar sendo um dos motores. Assessor econômico do governo, Wolfgang Franz disse à TV alemã ARD que a economia do país pode se expandir 3% ou mais neste ano. Os analistas são um pouco menos otimistas sobre a França, dizendo que o primeiro trimestre provavelmente foi o pico do crescimento, já que os cortes do governo terão seus impactos na economia.
Comissão Européia: Portugal irá desacelerar 2,2% em 2011
Em outro extremo estão outros países da UE, especialmente os chamados PIIGS. A Comissão Européia previu que a economia de Portugal irá desacelerar 2,2% em 2011, acima da projeção anterior de contração de 1% feita no outono do ano passado - no Hemisfério Norte. Para 2012, a Comissão Européia espera contração de 1,8% da economia portuguesa, uma inversão de direção da expectativa do ano passado de expansão de 0,8%.
A dívida do governo deve atingir 102% do PIB este ano, segundo a comissão, e ampliar-se para 107% do PIB em 2012, resultando em um rápido aumento dos pagamentos de juro. Os vencimento relacionados a juro devem se tornar o item de gasto com o crescimento mais acelerado durante esses dois anos e um grande limite à rápida redução do déficit, disse a comissão.
"A prevista ampliação da deterioração das condições do mercado de trabalho, dos cortes significantes dos salários do setor público, a aceleração temporária dos preços ao consumidor após elevação do imposto de valor agregado e uma oferta limitada de crédito pelos bancos para as pessoas físicas, devem pesar fortemente sobre os cidadãos", disse a comissão no relatório de primavera. comissão estima que a taxa de desemprego chegará a 12,3% no ano que vem.
A comissão previu também que o déficit orçamentário de Portugal ficará em 5,9% do PIB este ano, 4,5% do PIB em 2012 e a 3% do PIB em 2013, as mesmas metas estabelecidas pelo pacote de ajuda da União Européia e do FMI.
Grécia às portas moratória
A agência de classificação financeira Standard & Poor"s (S&P) reduziu em dois graus a nota da Grécia, de "BB-" para "B". A empresa alegou que a mudança se deve á crescente probabilidade de o país reestruturar sua dívida. Ou seja, decretar que não pagará a íntegra da dívida, obrigando os investidores a dividirem as perdas com os gregos, que têm tido seus direitos sociais e trabalhistas retirados.
Embora as agências de risco enfrentem forte crise de legitimidade por sua atuação desastrosa antes da crise, a decisão deve ajudar a operar os mercados, obrigando a Grécia a pagar juros mais altos para rolar sua dívida. Na prática, ao encarecer o pagamento, também deixa o país mais perto da moratória.
A nota B significa risco especulativo, o que exclui a Grécia do grupo de países mais seguros para se investir. A agência advertiu que o país está sob perspectiva negativa e que novo rebaixamento pode ser anunciado.
Um ano depois de se submeter ao programa recessivo do FMI para receber um empréstimo do fundo e da União Européia (UE), a Grécia vê sua economia despencar, alimentando a percepção de que está cada vez mais perto da moratória.
"Na nossa visão, há grande risco de que a Grécia vai tomar ação para reestruturar os termos de sua dívida comercial, incluindo os títulos do governo previamente emitidos", disse a agência Reuters, acrescentando que os países da Zona do Euro, provavelmente, pedirão aos credores que estendam o prazo de pagamento, enquanto consideram reduzir as exigências do pacote imposto à Grécia.
Por sua vez, Grécia nega que vá abandonar o euro, porém apesar do desmentido, país estuda medida
com UE, bem como reestruturar dívida. O governo grego e a União Européia (UE) negaram que a Grécia considere deixar a Zona do Euro. A informação foi divulgada pelo site da revista alemã Der Spiegel, publicação ligada ao governo alemão. A troca seria uma forma de buscar um caminho alternativo à recessiva política exigida por UE e FMI para continuar a liberar o empréstimo para o país honrar a dívida com bancos dos Estados Unidos e da Europa. Contudo, o governo alemão é um dos que mais insistem para a Grécia reestruturar sua dívida, mas o governo grego resiste, porque isso implicaria convocar os investidores a participarem das perdas.
Cresce dívida pública e déficit de orçamento em todos os países
A Convenção de Maastricht foi jogada no lixo e foram superados seus limites máximos permitidos de dívida pública e de déficit de orçamento em toda Europa, tanto nos 27 países-membros da União Européia (UE), quanto nos 17 países integrantes da Zona do Euro. Esta é a conclusão final da análise dos dados, divulgada pela Agência Européia de Estatística da UE (Eurostat).
Embora o limite máximo de déficit de orçamento permitido pela Convenção de Maastricht seja 3% do Produto Interno Bruto (PIB), já atingiu - na média - nos 27 países-membros da UE, o percentual de 6,4%. É característico que 22 dos países-membros superam o limite máximo de 3% e somente em cinco dos demais países o déficit permanece abaixo do limite máximo estabelecido pela Convenção de Maastricht. Os cinco países são os três escandinavos (Suécia, Dinamarca e Finlândia), mais o riquíssimo Luxemburgo e, que surpresa, a Estônia. Também, a situação não é nada melhor nos 17 países integrantes da Zona do Euro. Sua média de déficit do orçamento atinge 6%. Também, neste caso, 14 dos países integrantes registram déficit superior a 3% e somente três (Finlândia, Luxemburgo e Estônia) registram déficit inferior a 3%.
O triste campeão do déficit é, novamente, a Irlanda, que decolou, atingindo 32,4% de seu PIB por causa da criminosa decisão de seu governo (já expulso) de estatizar as dívidas dos bancos privados, afundando a economia do país. O segundo lugar dividem a Grécia, com 10,5%, e (quem diria) a Grã-Bretanha, com 10,4%, a qual, segundo denúncia, por escrito, da Eurostat, manipulou seus fundamentos! Seguem, a curta distância, Espanha e Portugal, com 9,2% e 9,1% respectivamente, de seus PIBs; não muito distante encontra-se a França, com 7% de seu PIB.
Não prevalece portanto o limite de 60% do PIB definido pela Convenção de Maastricht limite máximo permitido para a dívida pública. Contudo, também aqui a situação continua se agravando comprovando - de fato - de que trata-se de um muito mais profundo problema estrutural de dimensões paneuropéias e, não só por causa dos gastos dos irresponsáveis e preguiçosos gregos e demais vagabundos povos mediterrâneos que, supostamente, "vivem às custas dos laboriosos trabalhadores alemães".
Supera o percentual de 85% do PIB a dívida pública dos 17 países integrantes da Zona do Euro. Somente cinco dos países integrantes registraram dívida pública abaixo de 60% de seus PIBs, enquanto os demais 12 superam o limite permitido. No total dos 27 membros da UE, a média de dívida pública atingiu 80% do PIB. A Grécia é a "campeã", registrando o percentual de 142,8% de seu PIB, seguida pela Itália, com 119%, a Bélgica, com 96,8%, e a Irlanda, com 96,2%.
Nos últimos dois anos e meio, mais especificamente a partir da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008 e subsequente pacotes de resgate econômico empreendidos pelos EUA e seguidos por vários países inclusive os membros da União Européia, tem ficado evidente que a trilha fiscal de muitos países, mesmo de grandes potências são insustentáveis. A defasagem entre arrecadação e despesas a cada dia aumenta. Ou seja, o Estado vem se endividando cada vez mais, para dar cabo de custear suas despesas e rolar suas dívidas, numa espiral perigosíssima.
Esse é o dilema atual dos países: a alevação do débito público, seguindo-se a uma crise financeira, é um dos principais mecanismos pelo qual uma recuperação pode ser sustentada no curto prazo. Isso ocorre via espalhamento do tipo keynesiano do consumo entre economias e pela geração de renda por meio da redistribuição de recursos entre setores, pelo Estado, financiados a custas de empréstimos contra a arrecadação e crescimento futuros. Quanto maior o débito público, subentende-se um maior aumento futuro de impostos sob fortunas e renda, o que em contrapartida, prejudica a expansão econômica, dificultando consequentemente o próprio equilíbrio fiscal.
Se, por outro lado, surge um distúrbio maior no mercado de títulos, tudo pode piorar ainda mais. Pois os financistas começam a desconfiar da capacidade de pagamento ou mesmo especular,exigindo mais em cada rolagem de dívida, especialmente em países que detêm status junto a esses de "menos seguros" para posse de ativos, coisa que ocorre com os países da periféria da Zona Euro, e não com os gigantes Alemanha e França e os países europeus mais ao Norte.
O combustível do crescimento alemão é o superendividamento dos vizinhos
Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, expostos a crise grega, além de República de Malta, República de Chipre, Eslovênia, Eslováquia e demais países "periféricos" do euro, a aderir ao euro, a moeda única, ficam impedidos em poder desvalorizar suas próprias moedas, tornando-se pouco competitivos, o que poderia alavancar as exportações obtendo os recursos e rendimentos necessários para reativar a economia e honrar compromissos externos e fiscais. Assim, a Alemanha, potencial principal alvo dessas exportações, consegue manter um saldo comercial positivo com seus vizinhos, numa megatransferência de excedente econômico. Além disso, os especuladores com medo de inverter recursos na periféria do euro, dirigem seus capitais aos ativos à Alemanha.
Para piorar a situação fiscal desses estados europeus, há uma pressão para elevar a taxa de juros por parte da Alemanha e países mais ao Norte, que veem a "necessidade" emergente de combate dentro da Zona Euro os reflexos da atual inflação mundial. Os superendividados países da periferia européia e de todos os países que tomam empréstimos pagando altas taxas de juros, pressionam contrariamente lembrando que as altas taxas de juros dificultarão, ainda mais, os esforços para gerenciar as dívidas. O Banco Central Europeu (BCE) manterá neste ano sua taxa de juro em 1% que debita para o refinanciamento dos bancos da Zona do Euro, e vigora desde maio de 2009, quando a Europa havia mergulhado na queda em consequência da crise internacional. Apesar disso, a tendência é que as taxas de juros serão novamente elevadas ainda neste ano.
A recente falência dos estados europeus com um superendividamento público após o socorro aos bancos tem um aliado. O maior responsável é a Alemanha - o Estado mais rico e poderoso da UE, e não menos com o maior sistema bancário privado - controla politicamente as instituições comunitárias da política monetária, especialmente o BCE, aplica sua receita aos países-irmãos mais pobres, a barbárie social - as reformas no mercado de trabalho, os aumentos dos impostos e o congelamento e cortes de salários no setor público estão incluídos nas mais sensíveis, sob o ponto de vista político - que estrangulam a economia e inibe o exercício de alguma política de crescimento. Política esta que constituiria o único caminho de saída da crise e da possibilidade de resgate das dívidas.
Falência da UE
A UE de hoje existe um predomínio da economia - e, acima, do sistema financeiro - sobre a política. Em outras palavras, um predomínio do Banco Central Europeu (BCE) e dos bancos alemães, embora não exclusivamente. Tem ocorrido paralisia da sonhada "Europa dos cidadãos e de uma Europa política" da social-democracia. Essa política do governo alemão apesar de levar ao suicídio das finanças públicas e mesmo do "projeto de unidade europeia", beneficia os capitalistas financistas, que tiveram severas perdas em 2008-2009, e são justamente a Alemanha e França onde são encontrados os mais poderosos. Esse é o mecanismo do neo-imperialismo do grande capital germânico: "passar pra frente" sua crise aos seus países-irmãos.
E por que outras burguesias não se levantam? Porque apesar dos prejuízos ao seu estado-nacional e do sacrifício aos trabalhadores de seus países, beneficiam-se da mesma maneira, mesmo que em menor grau. Assim, enquanto durar o controle dos capitalistas sobre a União Europeia essa situação prosseguirá. Os trabalhadores dos países da periféria da Zona Euro seguirão espoliados. Uma unidade européia de verdade só é possível sem os capitalistas a frente do poder.
Com informações: Monitor Mercantil online, Agência Reuters, Agência Estado
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Alemanha cresce à custa do resto da Zona do Euro
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