A alta taxa de juros faz a dívida pública interna subir mais que a inflação do mesmo período. Dívida sobe 1,6% para R$ 1,6 trilhões. Em grande parte parte puxada não apenas pelo aumento da taxa Selic, mas pela compra de dólar pelo BC, que além de não evitar real forte, puxa alta do débito interno. Em um quadro de alta taxa de juros interna, liquidez externa e dependência interna de recursos internacional, devido ao déficit crescente em conta corrente, é preciso rolar dívida e fazer novas emissões de títulos, mas a um custo cada vez mais alto: o endividamento acelerado do Estado e das empresas lá fora, e das famílias aqui dentro. Ganham os banqueiros e perdem os trabalhadores.
Dívida sobe 1,6% para R$ 1,6 tri
Monitor Mercantil, 25/04/2011
A dívida do governo continua crescendo acima da inflação. O estoque da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFI) avançou 1,61% em março, para R$ 1,611 trilhão, contra R$ 1,586 trilhão em fevereiro. Os investidores não-residentes têm em mãos 11,38% do total. Apenas mês passado, o volume investido por esses aplicadores subiu quase R$ 3 bilhões, para R$ 183,3 bilhões.
O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, diz que a ameaça do rating da dívida dos EUA e a crise na Europa não alteraram a demanda de investidores estrangeiros por papéis da dívida brasileira.
Para o economista Paulo Passarinho, do Conselho Regional de Economia (Corecon-RJ), porém, isso é sinal de que o Brasil continua fazendo concessões ao capital especulativo: "No atual cenário, de muita liquidez e vários países em estado de pré-falência, não estamos mal. Mesmo assim continuamos fazendo concessões, a começar pelos juros. O governo tem consciência disso, mas optou pelo modelo de abertura e câmbio flutuante", analisa, acrescentando que "a prova mais patética" talvez tenha sido o discurso da presidente Dilma na China, "quando considerou quase como um quadro natural o câmbio flutuante".
Mesmo num quadro de liquidez e dependência de recursos externos, devido ao déficit crescente em conta corrente, Passarinho diz ser possível rolar e fazer novas emissões: "Mas a um custo cada vez mais alto: o endividamento acelerado do Estado e das empresas lá fora, e das famílias aqui dentro."
Juro faz dívida subir mais que a inflação
Monitor Mercantil, 25/04/2011
Compra de dólar pelo BC, além de não evitar real forte, puxa alta do débito interno
O economista Rodrigo Ávila, da Auditoria Cidadã da Dívida, criticou o governo por não divulgar demonstrativo sobre o crescimento da dívida pública em função da acumulação de reservas.
Segundo Ávila, desde 2006, quando o Brasil intensificou a compra de dólares com títulos públicos (para evitar a emissão de reais), praticamente 100% dos US$ 300 bilhões acumulados tiveram, como contrapartida, o aumento, em reais, da dívida pública interna.
"Não se sabe ao certo quanto as operações compromissadas (como são chamadas as operações de mercado aberto, praticadas com títulos públicos em poder do Banco Central) crescem devido às compras de reservas pelo BC. Mas, no último relatório de inflação, o próprio BC reconhece que a acumulação de reservas tem causado o aumento da dívida", disse, acrescentando que outros fatores interferem, como as operações de recompra de dívida, usadas pelo governo para não emitir moeda e enxugar a dívida pública via essas operações compromissadas.
"Basta comparar o crescimento das operações compromissadas e o das reservas para constatar a íntima relação entre as duas contas, conforme ficou demonstrado na CPI da Dívida", lembrou.
"Além do diferencial de juros auferidos com a aplicação das reservas e os juros pagos sobre a dívida interna, devido à desvalorização do dólar nos últimos anos, o rendimento das reservas se tornou, na prática, negativo. Esse processo gerou prejuízo ao BC de R$ 147 bilhões em 2009", destacou.
Segundo Ávila, a Lei de Responsabilidade Fiscal impediu o BC de emitir títulos e as operações de mercado aberto são uma forma de driblar esse dispositivo. "Em 2005, o país pagou antecipadamente a dívida de US$ 15,5 bilhões que devia ao FMI, operação que significou a troca de uma dívida financeiramente mais barata (cerca de 4% ao ano) por uma dívida bem mais onerosa (cerca de 19,5% ao.ano.)."
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