Almir Cezar Filho
Venho trabalhando na investigação sobre a dinâmica e os determinantes no desenvolvimento do capitalismo mundial. O professor da UFF Theotônio dos Santos foi um dos fundadores da teoria da dependência e hoje é um dos expoentes da teoria do sistema mundo. Para pensadores como ele, o desenvolvimento deve ser visto pelo ponto de vista mundial e não das partes nacionais. As regiões dos países também são tratados como um nível, um plano, do sistema econômico mundial. Os territórios são objetos e sujeitos do processo global, mais ou menos isso. O todo determina as partes. Mas as partes possuem um espaço de manobra e capacidade parcial de influência no todo.
Mas, não tão organizado assim. Digo essa parte: o todo organiza as partes. Embora pareça tão bem esquematizado, quase um determinismo. Só dá para ter um bom entendimento sobre as partes conhecendo o todo. Aí passamos ao entendimento de quanto às partes podem ter determinação sobre o todo. Não se pode dizer “as partes compõem o todo”, porque seria que o todo é a soma das partes, e não é.
Elas escolhem [dentro do possível] qual sua inserção no todo sim, mas mesmo assim as possíveis alternativas são dadas pelo todo, ao mesmo tempo, que há partes muito importantes, que são partes dominantes no todo (exemplo EUA).
Mas a questão que me intriga é a falta de capacidade de manobra que isso sugere, tipo: alinhem-se ou sintam as consequências. Parece-me que falta autonomia às partes. há autonomia relativa: há níveis de autonomia, umas maior outra menores. Mas nunca há soberania.
A experiência cubana confirma essa teoria. Os limites da revolução cubana mostram justamente isso, a autonomia relativa - embargo econômico, dependência da URSS e agora de Chavez, etc. Quantos países seriam então soberanos? Nenhum, nem os EUA, que é dependentes de petróleo do Oriente Médio, da soja do Brasil, das finanças européias, etc.
O mundo como um organismo, ou melhor, é um sistema único. Um organismo é um tipo de sistema
Pode-se até pensar assim: um cérebro [EUA, por exemplo], um sistema digestivo [árabes e seu petróleo, etc.] A analogia é interessante, e há muita correspondência disso, mas a idéia de órgão faz com que pensemos que as partes não evoluam e que tenha apenas uma função. O sistema mundo pensa os países como três tipos: centrais, semi-periferias e periferias. As semiperiferias e alguns centrais funcionam como submetrópoles.
As regiões, as regiões dentro dos Estados Nacionais, operam num outro plano, mas a lógica é a mesma. Há regiões centrais e outras periféricas, que se articulam entre si num sistema nacional, que por sua vez é uma unidade do sistema mundial. Mas podemos analisar, com os devidos cuidados o papel da região no sistema mundial.
O Rio Grande do Sul, por exemplo, possui regiões bem distintas, umas bem articuladas na economia mundo, outras nem tanto, e outras, completamente excluídas. Não que haja regiões mais ou menos integradas a economia mundo, mas sim sob formas diferentes de inserção, umas regiões mais e outras menos "globais", ou melhor, mas que em sua atual dinâmica e na dinâmica mundial, criam condições que permitem que se beneficie.
A questão: no caso de um território pouco beneficiado, como mudar, como alcançar mais benefícios? A resposta a começar: deve-se requalificar a ideia de "autonomia". A autonomia não é maior ou menor inserção, mas que a dinâmica interna seja menos dependente da dinâmica do centro. Há portanto dois caminhos para a região: criar uma convergência interna com a dinâmica ou criar mecanismos de autonomização de sua dinâmica.
A convergência à dinâmica do centro não é mais fácil ou com menor risco ou danos que a autonomização. A convergência pode não ser benéfica. Ela precisa dar num patamar de complementaridade, nem sempre fácil de ser alcançada. Também é preciso ser zeloso para as reversões na dinâmica do centro. Num dado sentido, a dinâmica do centro passa por um desenvolvimento, modificações continuadas, assim o que é complementar hoje pela periferia pode se transformar em algo obsoleto num outro momento.
Para aqueles que quiserem conhecer a Teoria do Sistema-mundo: há um grupo de pesquisa sobre teoria do sistema mundo lá UFSC, onde trabalham questões tanto de desenvolvimento, subdesenvolvimento, história econômica, território e economia política.
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