por Almir Cezar
Prof. Theotonio dos Santos, em 2008 (Foto: Wikicommons) |
No Brasil tem uma classe dominante, que acha que o país é inferior e incapaz de debater à altura as grandes questões do sistema mundial. Essa classe dominante virou uma “burguesia compradora” – intermediadora entre atividades produtivas doméstica e o mercado internacional, especialmente atuando no sistema financeiro interno para esse papel. Sua finalidade é intermediar a dependência de nosso país. Logo é incapaz de um projeto nacional de reafirmação.
As políticas macroeconômicas brasileiras, em muitos aspectos refletem isso, nos últimos anos a preocupação permanente e central é impedir a expansão da demanda agregada e o consumo popular. Vive-se a política de "stop and go" - a cada leve expansão do PIB, vem ações de restrição da expansão, alta dos juros, que freiam a demanda agregada.
Enquanto a maioria esmagadora da população consume muito pouco, e essa elite se farta em consumir jatinhos, helicópteros e champanhes, todos comprados com os recursos obtidos com a remuneração dos ativos aplicados no mercado financeiro. É preciso, restringir a parcela da Demanda nacional, a comprimir perpetuamente, para ampliar o excedente econômico disponível, para transferi-lo para o mercado financeiro e para o capital internacional, ampliar essa parcela para essa finalidade.
Tal ideologia deve-se ao fato que esse grupo econômico, dirigente do Estado brasileiro, além de ser uma "burguesia compradora", foi educado no exterior, não tem ligação ideológica com seu país. O triste é que essa ideologia vem impregnando na Academia brasileira, reproduzindo os padrões, ditos "aceitáveis e modernos". Assim, as camadas médias da sociedade, educadas nas universidades brasileiras, passam a absorver a posição ideológica da elite, fator contribuído pela ação consciente da Mídia, que é favorável a tais padrões.
O curioso é que nos últimos anos, situação acelerada com os últimos eventos, tal pensamento monetarista, de restrição permanente ao consumo e de papel meramente financista do Estado, entrou em decadência nos EUA e UE, e agora com a crise econômica atual entra numa crise terminal. Os setores conservadores lá fora já pensam diferentes, inclusive vêm a importância do papel econômico do Estado e de proteção ao consumo das camadas populares.
Contudo, nossa elite absorve lentamente essa mudança, em parte também, devido sua própria condição objetiva de "burguesia compradora", que se mantém apesar da crise. Por isso, que as autoridades econômicas brasileiras (especialmente o Banco Central), apesar do agravamento do quadro da crise, continuam com essa ênfase em manter a taxa de juros altas, essa preocupação com o ajuste fiscal do Estado, etc, em suma, com a estabilidade dos indicadores macroeconômicos nominais (taxas de juros, inflação, câmbio, relação dívida do Governo/PIB) em detrimento dos indicadores reais (níveis de emprego, PIB, etc).
Sem burguesia nacional, não há como ter "projeto nacional", como defendem setores da esquerda brasileira. Assim, toda a luta pró-independência econômica do Brasil tem que ser uma luta anti-sistêmica, e até mesmo, anti-capitalista.
(*) Macroeconomia é a parte da Economia que trata dos aspectos agregados da economia nacional. Não se fala em juros na loja da esquina, do supermercado do bairro, mas na taxa de juros de todo os sistema bancário. Não se fala de desemprego do tio, do vizinho, mas no nível geral de desemprego da economia, e assim sucessivamente.
Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho - economista graduado pela UFF e mestrando pela UFU
Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho - economista graduado pela UFF e mestrando pela UFU
BOM DIA Almir!
ResponderExcluirFoi bastante gratificante ler sua matéria, pude tirar algumas dúvidas que tinha sobre o assunto. obrigado