O prolongamento da crise econômica mundial, aliada a uma sucessão geracional turbulenta na cúpula do PC, faz com que a China comece dar sinais de instabilidade política, com a ampliação da perseguição aos dissidentes e rumores de golpe de Estado, especialmente com e o suspeitíssimo afastamento do dirigente Bo Xilai. As suspeitas se reforçaram com as recentes campanha de "limpeza" na internet, promovida inclusive para abafar as notícias na rede. O mercado financeiro se alarma.
China fecha sites e faz detenções após rumores de golpe de Estado
Jornal do Brasil, 31 de março de 2012
A polícia chinesa prendeu um total de 1.065 suspeitos e apagou mais de 208 mil mensagens prejudiciais durante a campanha anti-internet que leva adiante desde meados de fevereiro, anunciou neste sábado a agência de notícias oficial chinesa.
Os operadores de mais de 3 mil sites de internet receberam advertências durante esta campanha, que tem por alvo, segundo a agência Nova China, o contrabando de armas, o tráfico de drogas e de produtos químicos perigosos, assim como a venda de órgãos humanos e de informações pessoais.
Recentemente, a China acelerou sua campanha de "limpeza" da internet, na qual muitos veem censura política.
O governo chinês anunciou neste sábado grandes restrições de utilização dos microblogs, o fechamento de vários sites e a prisão de pessoas acusadas de ter propagado rumores de golpe de Estado na China.
Neste sábado, os dois principais serviços de microblogs chineses, Sina Weibo e Tencent QQ, suspenderam a possibilidade para os internautas de fazer comentários on-line, oficialmente para lutar contra os "rumores perniciosos".
Os dois grupos afirmaram que esta medida ficará em vigor até o dia 3 de abril, num momento em que as autoridades demonstram um nervosismo crescente diante da onda de críticas que circulam nos microblogs.
Instabilidade política
A instabilidade política na China, e também o medo de uma desaceleração da economia chinesa, têm contribuído para derrubar índices das bolsas em todo o mundo, como ocorreu na quarta-feira, dia 22. No início deste mês, o Partido Comunista Chinês (PCC) destituiu Bo Xilai, um popular líder e governador de Chongqing, capital do aglomerado urbano que mais cresce no mundo - com cerca de 30 milhões de habitantes - a sudoeste do país.
Xilai era contra as políticas de modernização e as contínuas aberturas do regime comunista, que tem caracterizado o governo do presidente Wen Jiabao. Popular na ala conservadora do partido, o governador pretendia ocupar uma das nove cadeiras que exercem a liderança do país.
A saída de Xilai enfraquece ainda mais esta “oposição” conservadora, segundo o professor de História Econômica Pedro Paulo Bastos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A expulsão dele significa um enfraquecimento ainda maior e a derrota de uma corrente, que não deve produzir arranjos mais sérios. A ala majoritária e modernizante continuará dominando e governando o país”, analisa.
Na China, os governantes das províncias têm muito mais autonomia e poder do que nos estados brasileiros, afirma o especialista. Assim, através de medidas alinhadas às políticas de Mao Tsé-tung, Xilai conseguiu se popularizar na classe mais conservadora do país. Bastos afirma ainda que a sua fama de “caçador de mafiosos” também lhe rendeu apoio.
“Mas aparentemente estas políticas de combate a máfia eram feitas para desmoralizar o antecessor dele. Ainda existem denúncias de que Xilai se utilizou de artifícios extremamente arbitrários, como torturar empresários para conseguir as concessões que ajudaram a província a prosperar”, analisa.
Bastos relembra que o chefe de polícia acabou se refugiando na Embaixada dos Estados Unidos há algumas semanas, com medo de ser executado pelo líder.
“Existem rumores de que Xilai pretendia mesmo ‘eliminar’ o chefe de polícia para acabar com as evidências de que ele ordenava tortura e maus tratos aos seus inimigos”, acredita.
Crise?
Os especialistas concordam que ainda é muito cedo para avaliar se a China está sofrendo uma crise política. O sociólogo Williams Gonçalves, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que dissidências dentro do partido são normais e que o PCC não funciona na “unanimidade”.
“As oposições no país são dentro do partido. De qualquer jeito, eu não acredito que nós tenhamos uma crise política, e sim uma divergência. A China já passou por momentos ainda mais decisivos, no começo da década de 90, quando a própria população se manifestou publicamente”, exemplificou.
A grande projeção deste caso no ocidente se deve a popularidade de Xilai e sua pretensão de liderar a China e comandar o PCC, afirma o especialista.
“Como as províncias tem um grau de autonomia muito grande, uma liderança regional tem enorme projeção, pois sua capacidade de tomar decisões é grande. A popularidade de Xilai realmente poderia o elevar a um líder ainda mais forte em âmbito nacional”, analisa.
Bastos concorda e afirma que o mercado acionário reagiu negativamente muito mais por temor à uma desaceleração chinesa do que os transtornos políticos divulgados, que ainda não representam ameaça ao país.
“Nós temos acesso à poucas informações dos movimentos políticos na China e não se conhece os meandros dos conflitos internos. Então, quando uma notícia destas sai causa um certo frenesi. Porém, não se pode afirmar qualquer crise”, conclui.
Apuração: Carolina Mazzi
Com informações da AFP
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