quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Rio de Janeiro, eterna vítima de tragédia anunciada e realizada

queridos companheiros e companheiras,


estou enviando o artigo do professor Nireu Cavalcante, professor titular do curso de arquitetura e urbanismo da UFF, ele conta um pouco sobre a situacao em que vivemos no rio de janeiro, uma analise isenta e sincera.


saudacoes,
eduardo de almeida

Rio de Janeiro, eterna vítima de tragédia anunciada e realizada
Nireu Cavalcanti (arquiteto e historiador) professor da Pós-Graduação de Arq. e Urb. da UFF)

Estamos vivendo grave tragédia na cidade do Rio de Janeiro com o desmoronamento de três edifícios, no centro histórico da cidade. Além da perda material, nos revolta as perdas humanas. As autoridades farão seus discursos, anunciarão comissões para descobrir as causas e responsáveis. Como nas demais tragédias, concluirão que foi erro humano e o operário morto será o responsável pelo desmoronamento ocorrido. Na recente tragédia do bonde de Santa Tereza, o secretário de Transporte do Estado, declarou que foi o motorneiro morto o responsável! E continua no poder!

Essa tragédia é mais uma, a ser contabilizada da série perversa de assassinatos de seres humanos e destruição do Patrimônio histórico, arquitetônico, urbanístico e cultural da cidade do Rio. É mais do que sabido as suas causas e quem são os responsáveis por essas tragédias:

a) aqueles governantes de nossa cidade, estado e União, insensíveis, ignorantes e incultos políticos sem compromissos com a nossa gente, com sua história e cultura. Chegam ao poder para servirem aos interesses pontuais de grupos que têm na cidade a sua mercadoria de gananciosos lucros;

b) ausência de políticas públicas de proteção (de fato) do Patrimônio Carioca e da administração pública possuir quadro de funcionários preparados e em quantidade suficiente, para atender à dinâmica transformação da cidade, harmonizando o novo com o existente;
c) a descontinuidade administrativa -- cada governante que entra joga no lixo as propostas de seu antecessor e, com isso, os recursos públicos aplicados na sua formulação e concretização --, a ausência de Planos Urbanísticos consistentes e democráticos a serem aplicados pelas diversas administrações. A opção administrativa dos governantes do Rio é por ações pontuais, desconexas e direcionadas a parte do problema, sem a menor referência à questão do Patrimônio da cidade;
d) o servilismo da Câmara de Vereadores, propiciando que a cada gestão o prefeito conquiste a maioria dos vereadores e aprove tudo que ele deseja. Ela não cumpre seu dever de fiscalizar o Executivo; 
e) esse conluio danoso (prefeito X vereadores) serve exclusivamente aos interesses dos grupos que os elegeram -- é comum em conversas informais, os interlocutores nomearem quem manda na cidade do Rio: as empresas de transportes coletivos, inclusive os táxis; os empresários imobiliários e construtores; os grupos marginais dos bicheiros (senhores do Carnaval), traficantes de drogas e de armas;
f) as intervenções feitas na cidade, autoritariamente e sem planejamento, para atender eventos pontuais e de interesses externos não respeitam o Patrimônio da cidade e das pessoas que vivem nas áreas afetadas. A demolição do Morro do Castelo, para comemorar o Centenário da Independência do Brasil (1922) é emblemática: demoliu-se o berço histórico da cidade para gerar uma esplanada destinada aos pavilhões da Feira Internacional. O mesmo ocorreu com a abertura da Avenida Presidente Vargas (inaugurada em 7/9/1944), para homenagear o ditador Getúlio Vargas, que desejava ser o autor da maior e mais larga avenida do Brasil;
g) obras do PAN e, neste momento, as obras para as Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol. Milhares de pessoas serão desabrigadas, muitos sítios e edificações históricos serão afetados, para atender aos
interesses de grupos internacionais vendedores de grandes eventos.

Fortunas do erário serão jogadas nessas obras faraônicas e supérfluas, em um momento de crise econômica mundial, de consequências imprevisíveis. Afora essa destruição do Patrimônio feita pelo poder público,
mancomunado com seus grupos financiadores, temos o efeito de fenômenos naturais, principalmente as grandes chuvas torrenciais comuns na cidade do Rio. A cada ocorrência dela, ficamos apreensivos e angustiados com a possibilidade de ruir os prédios antigos, de favelas serem arrasadas e, principalmente, quantos serão os seres humanos tragados.

Agrava essa possibilidade de tragédias o fato de que, na cidade do Rio, a maioria das edificações serem levantadas sem assistência de profissionais capacitados para isso. Torna-se mais grave no caso de reformas.

Por outro lado, as instalações prediais se diversificaram e exigem capacidade cada vez maiores para a moderna demanda de usuários de aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos e de climatização dos ambientes. Infelizmente, essas instalações, em muitos casos, são feitas sem projeto e cuidados necessários para protegê-las. Assim, temos redes elétricas misturadas com rede de gás, telefonia etc., potencialmente fontes de acidentes, a exemplo dos bueiros que estão explodindo em nossa cidade. Tudo isso sem controle e fiscalização dos órgãos públicos responsáveis.

Infelizmente, viver ou circular pela cidade do Rio de Janeiro é se expor à zona perigosa de minas explosivas.
Somos viventes de diária e noturna roleta russa. 

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