Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil, 25/01/2012
Soberano indeciso
Ex-diretor do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos da França e diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique e da presidência da Associação Francesa de Economia Política, o economista André Orleán, sustentou, em entrevista, ao jornal Le Monde esta semana, o que, embora óbvio, é indizível pela maioria dos seus pares: quem governa hoje a Europa é o mercado, mas, não o mercado de bens tangíveis, mas o de capitais: "O poder político se conforma às suas prioridades e teme suas avaliações", observa, acrescentando que o mercado financeiro é um soberano indeciso e incoerente.
Fim da democracia
Orleán, que acaba de publicar o livro L´Empire de la Valeur, Refonder l´Economie, afirma que, historicamente, o primado da política sobre a economia se baseava no controle dos bancos centrais. Ou seja, os BCs eram diretamente submetidos ao poder político, o que deixou de ocorrer na Europa, onde o Banco Central Europeu (BCE) obedece apenas ao sistema financeiro internacional. Para Orléan, tal anomalia constitui-se numa ameaça de morte à democracia européia. E observa que a autonomia do BCE implica o fim da democracia na região.
Meu pirão primeiro
Até o meio-dia desta quarta-feira, mais de 30 mil portugueses já haviam assinado a petição online que pede a demissão do presidente da República, Cavaco Silva. Ele está sob pressão após cometer uma gafe ao reclamar dos efeitos dos cortes orçamentários e da recessão econômica sobre seus próprios ganhos. Estima-se que Cavaco Silva tenha um rendimento 11 vezes superior à média dos ganhos dos portugueses. Segundo o texto da petição, o presidente recebe pensões num total acumulado 10.042 euros (em 2011), "sendo uma delas através do Banco de Portugal, a qual não esteve sujeita aos cortes aplicados aos restantes cidadãos da República Portuguesa".
Ação entre amigos
O Governo de Portugal está prestes a colocar 6,6 bilhões de euros nos três grandes bancos privados do país - BCP, BES e BPI. Em troca, o Estado não vai ter direito a sequer uma ação em qualquer uma das três instituições, denunciam os jornais portugueses. A fórmula heterodoxa para permitir este escândalo - ainda maior se considerar que Portugal corta pensões e aposentadorias a partir de 600 euros - são instrumentos híbridos de capital contingente, conhecidos por CoCos, que poderão ser emitidos pelos três bancos e subscritos pelo Estado, segundo as novas regras do Banco de Portugal.
Alvo errado
Sem condições e vontade de enfrentar a banca, o Ministério das Finanças grego sai à caça de devedores de impostos: publicou uma lista com os nomes de 4.152 contribuintes que devem ao fisco quase 15 bilhões de euros em impostos. O primeiro nome da lista é Nicos Kasimatis, um empresário de 57 anos próximo do partido conservador Nova Democracia. Segundo o governo grego, Kasimatis tem uma dívida de 952 milhões de euros. Ele está preso desde 2009, condenado a 504 anos de prisão por evasão e fraude fiscal. Ex-jogadores e empresários ligados ao esporte também estão entre os nomes mais conhecidos.
De acordo com o jornal espanhol El Pais, pelo menos 15 contribuintes devem ao Estado mais de 100 milhões de euros cada um, e outros 15 são cobrados por dívidas entre 50 e 100 milhões de euros.
Na semana passada, a polícia grega já havia detido uma série de cidadãos no país, por acumularem milhares de euros de impostos em dívida.
Socialismo de mercado
O Goldman Sachs destinou, ano passado, US$ 12,22 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) para remunerar seus 33.300 empregados, 21% menos do que em 2010. Entre um ano e outro, porém, o quadro de funcionários do principal banco de investimento dos Estados Unidos foi reduzido em 7%. Cada um dos 33.300 empregados embolsou, em média, US$ 366.967 (cerca de R$ 650 mil). Ano passado, o Goldman lucrou US$ 2,51 bilhões (US$ 4,45 bilhões), 67,5% menos do que em 2010.
Socialismo de mercado - 2
O Goldman, que a exemplo dos seus congêneres do mercado financeiro, recorre ao mantra da redução de direitos sociais, dos outros, claro, "para conquistar a confiança do mercado", destina 42,4% dos seus ganhos a sua folha de pagamentos. Essa não é a única contradição entre os paradigmas defendidos pelo banco e os que ele pratica. Após a crise de 2008, o Goldman embolsou US$ 10 bilhões do contribuinte estadunidense, via Programa de Alívio para os Ativos com Problemas do Tesouro dos Estados Unidos (Tarp, na sigla em inglês). Apesar disso, pouco depois, o presidente financeiro da instituição, David Viniar, se queixava das restrições impostas aos bancos beneficiados com dinheiro público na definição da remuneração nababesca de seus executivos.
Presente grego
Embora os bancos franceses (US$ 55,7 bilhões) e alemães (US$ 21,4 bilhões) sejam os mais expostos à anunciada moratória da Grécia, chama a atenção o volume de papéis gregos em mãos do sistema financeiro de Portugal. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de pouco menos de US$ 230 bilhões, o país segura um "mico" de US$ 10 bilhões em papéis da impagável dívida pública grega. Isso significa que 4,3% do PIB lusitano está pendurado no futuro da Grécia.
Caminho
A economia da Islândia cresceu 2,1% e a previsão para 2012 é alcançar um crescimento três vezes maior que o esperado para a União Européia. O desempenho coloca a pequena ilha gelada como um "mau exemplo", um pária da finança internacional. Isto porque, após o colapso financeiro, os islandeses recusaram-se a salvar os bancos privados e os especuladores - estes principalmente sediados na Inglaterra - optando por derrubar o governo conservador, que foi substituído por uma coligação de partidos de esquerda, ecologistas e sociais democráticos.
Rumo à cadeia
Vários responsáveis pelo setor bancário da Islândia deverão ir a julgamento por fraude e abuso de poder. O Parlamento nomeou uma comissão de inquérito, composta por dois filósofos e um historiador, para analisar o aspecto ético da crise. O então primeiro-ministro, que comandou a tentativa de rendição ao sistema financeiro, Geir Haarde, está sendo julgado e pode ser condenado a dois anos de prisão.
Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,18/01/2012
Socialismo de mercado
O Goldman Sachs destinou, ano passado, US$ 12,22 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) para remunerar seus 33.300 empregados, 21% menos do que em 2010. Entre um ano e outro, porém, o quadro de funcionários do principal banco de investimento dos Estados Unidos foi reduzido em 7%. Cada um dos 33.300 empregados embolsou, em média, US$ 366.967 (cerca de R$ 650 mil). Ano passado, o Goldman lucrou US$ 2,51 bilhões (US$ 4,45 bilhões), 67,5% menos do que em 2010.
Socialismo de mercado - 2
O Goldman, que a exemplo dos seus congêneres do mercado financeiro, recorre ao mantra da redução de direitos sociais, dos outros, claro, "para conquistar a confiança do mercado", destina 42,4% dos seus ganhos a sua folha de pagamentos. Essa não é a única contradição entre os paradigmas defendidos pelo banco e os que ele pratica. Após a crise de 2008, o Goldman embolsou US$ 10 bilhões do contribuinte estadunidense, via Programa de Alívio para os Ativos com Problemas do Tesouro dos Estados Unidos (Tarp, na sigla em inglês). Apesar disso, pouco depois, o presidente financeiro da instituição, David Viniar, se queixava das restrições impostas aos bancos beneficiados com dinheiro público na definição da remuneração nababesca de seus executivos.
Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,17/01/2012
Presente grego
Embora os bancos franceses (US$ 55,7 bilhões) e alemães (US$ 21,4 bilhões) sejam os mais expostos à anunciada moratória da Grécia, chama a atenção o volume de papéis gregos em mãos do sistema financeiro de Portugal. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de pouco menos de US$ 230 bilhões, o país segura um "mico" de US$ 10 bilhões em papéis da impagável dívida pública grega. Isso significa que 4,3% do PIB lusitano está pendurado no futuro da Grécia.
Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,24/01/2012
Caminho
A economia da Islândia cresceu 2,1% e a previsão para 2012 é alcançar um crescimento três vezes maior que o esperado para a União Européia. O desempenho coloca a pequena ilha gelada como um "mau exemplo", um pária da finança internacional. Isto porque, após o colapso financeiro, os islandeses recusaram-se a salvar os bancos privados e os especuladores - estes principalmente sediados na Inglaterra - optando por derrubar o governo conservador, que foi substituído por uma coligação de partidos de esquerda, ecologistas e sociais democráticos.
Rumo à cadeia
Vários responsáveis pelo setor bancário da Islândia deverão ir a julgamento por fraude e abuso de poder. O Parlamento nomeou uma comissão de inquérito, composta por dois filósofos e um historiador, para analisar o aspecto ético da crise. O então primeiro-ministro, que comandou a tentativa de rendição ao sistema financeiro, Geir Haarde, está sendo julgado e pode ser condenado a dois anos de prisão.
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