quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Crise européia: tudo aos bancos, nada aos cidadãos

Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil, 25/01/2012

Soberano indeciso 
Ex-diretor do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos da França e diretor de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique e da presidência da Associação Francesa de Economia Política, o economista André Orleán, sustentou, em entrevista, ao jornal Le Monde esta semana, o que, embora óbvio, é indizível pela maioria dos seus pares: quem governa hoje a Europa é o mercado, mas, não o mercado de bens tangíveis, mas o de capitais: "O poder político se conforma às suas prioridades e teme suas avaliações", observa, acrescentando que o mercado financeiro é um soberano indeciso e incoerente.

Fim da democracia 
Orleán, que acaba de publicar o livro L´Empire de la Valeur, Refonder l´Economie, afirma que, historicamente, o primado da política sobre a economia se baseava no controle dos bancos centrais. Ou seja, os BCs eram diretamente submetidos ao poder político, o que deixou de ocorrer na Europa, onde o Banco Central Europeu (BCE) obedece apenas ao sistema financeiro internacional. Para Orléan, tal anomalia constitui-se numa ameaça de morte à democracia européia. E observa que a autonomia do BCE implica o fim da democracia na região.

Meu pirão primeiro 
Até o meio-dia desta quarta-feira, mais de 30 mil portugueses já haviam assinado a petição online que pede a demissão do presidente da República, Cavaco Silva. Ele está sob pressão após cometer uma gafe ao reclamar dos efeitos dos cortes orçamentários e da recessão econômica sobre seus próprios ganhos. Estima-se que Cavaco Silva tenha um rendimento 11 vezes superior à média dos ganhos dos portugueses. Segundo o texto da petição, o presidente recebe pensões num total acumulado 10.042 euros (em 2011), "sendo uma delas através do Banco de Portugal, a qual não esteve sujeita aos cortes aplicados aos restantes cidadãos da República Portuguesa". 

Ação entre amigos 
O Governo de Portugal está prestes a colocar 6,6 bilhões de euros nos três grandes bancos privados do país - BCP, BES e BPI. Em troca, o Estado não vai ter direito a sequer uma ação em qualquer uma das três instituições, denunciam os jornais portugueses. A fórmula heterodoxa para permitir este escândalo - ainda maior se considerar que Portugal corta pensões e aposentadorias a partir de 600 euros - são instrumentos híbridos de capital contingente, conhecidos por CoCos, que poderão ser emitidos pelos três bancos e subscritos pelo Estado, segundo as novas regras do Banco de Portugal. 

Alvo errado 
Sem condições e vontade de enfrentar a banca, o Ministério das Finanças grego sai à caça de devedores de impostos: publicou uma lista com os nomes de 4.152 contribuintes que devem ao fisco quase 15 bilhões de euros em impostos. O primeiro nome da lista é Nicos Kasimatis, um empresário de 57 anos próximo do partido conservador Nova Democracia. Segundo o governo grego, Kasimatis tem uma dívida de 952 milhões de euros. Ele está preso desde 2009, condenado a 504 anos de prisão por evasão e fraude fiscal. Ex-jogadores e empresários ligados ao esporte também estão entre os nomes mais conhecidos. 

De acordo com o jornal espanhol El Pais, pelo menos 15 contribuintes devem ao Estado mais de 100 milhões de euros cada um, e outros 15 são cobrados por dívidas entre 50 e 100 milhões de euros. 

Na semana passada, a polícia grega já havia detido uma série de cidadãos no país, por acumularem milhares de euros de impostos em dívida.

Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,18/01/2012

Socialismo de mercado
O Goldman Sachs destinou, ano passado, US$ 12,22 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) para remunerar seus 33.300 empregados, 21% menos do que em 2010. Entre um ano e outro, porém, o quadro de funcionários do principal banco de investimento dos Estados Unidos foi reduzido em 7%. Cada um dos 33.300 empregados embolsou, em média, US$ 366.967 (cerca de R$ 650 mil). Ano passado, o Goldman lucrou US$ 2,51 bilhões (US$ 4,45 bilhões), 67,5% menos do que em 2010.

Socialismo de mercado - 2 
O Goldman, que a exemplo dos seus congêneres do mercado financeiro, recorre ao mantra da redução de direitos sociais, dos outros, claro, "para conquistar a confiança do mercado", destina 42,4% dos seus ganhos a sua folha de pagamentos. Essa não é a única contradição entre os paradigmas defendidos pelo banco e os que ele pratica. Após a crise de 2008, o Goldman embolsou US$ 10 bilhões do contribuinte estadunidense, via Programa de Alívio para os Ativos com Problemas do Tesouro dos Estados Unidos (Tarp, na sigla em inglês). Apesar disso, pouco depois, o presidente financeiro da instituição, David Viniar, se queixava das restrições impostas aos bancos beneficiados com dinheiro público na definição da remuneração nababesca de seus executivos.


Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,17/01/2012 

Presente grego
Embora os bancos franceses (US$ 55,7 bilhões) e alemães (US$ 21,4 bilhões) sejam os mais expostos à anunciada moratória da Grécia, chama a atenção o volume de papéis gregos em mãos do sistema financeiro de Portugal. Com um Produto Interno Bruto (PIB) de pouco menos de US$ 230 bilhões, o país segura um "mico" de US$ 10 bilhões em papéis da impagável dívida pública grega. Isso significa que 4,3% do PIB lusitano está pendurado no futuro da Grécia.


Marcos Oliveira e Sergio Souto | Monitor Mercantil,24/01/2012

Caminho
A economia da Islândia cresceu 2,1% e a previsão para 2012 é alcançar um crescimento três vezes maior que o esperado para a União Européia. O desempenho coloca a pequena ilha gelada como um "mau exemplo", um pária da finança internacional. Isto porque, após o colapso financeiro, os islandeses recusaram-se a salvar os bancos privados e os especuladores - estes principalmente sediados na Inglaterra - optando por derrubar o governo conservador, que foi substituído por uma coligação de partidos de esquerda, ecologistas e sociais democráticos.

Rumo à cadeia
Vários responsáveis pelo setor bancário da Islândia deverão ir a julgamento por fraude e abuso de poder. O Parlamento nomeou uma comissão de inquérito, composta por dois filósofos e um historiador, para analisar o aspecto ético da crise. O então primeiro-ministro, que comandou a tentativa de rendição ao sistema financeiro, Geir Haarde, está sendo julgado e pode ser condenado a dois anos de prisão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário