“Música é uma conversa”, diz Wilson das Neves. “É por isso que a gente ri um pro outro quando está dando certo. O cara pergunta: ‘Por que vocês riem?’ Se você não entendeu, não vai entender música. É difícil de explicar”.
Ao incluir a observação do baterista no início de “As Batidas do Samba”, o diretor Bebeto Abrantes está, na realidade, fazendo uma provocação. Se concordasse totalmente com o músico, não teria se dado ao trabalho de realizar este belíssimo documentário, destinado justamente a explicar o samba, as suas origens, a sua história e a sua transformação.
Por outro lado, Abrantes (foto) reconhece que a melhor maneira de fazer isso é pela conversa e pela música. Com estreia prevista para esta segunda-feira, às 18h30, no Canal Brasil, “As Batidas do Samba” costura uma história fascinante por meio, basicamente, de papos em torno de instrumentos musicais e cerveja.
Um personagem central em “As Batidas do Samba” é o percussionista Marçalzinho, cujo talento foi além do samba e o tornou muito requisitado, no Brasil e no exterior, por artistas pop. Com a ajuda de Monarco (foto no alto), lembra-se do avô e do pai. O primeiro, o lustrador de móveis Antonio Marçal (1902-1947), compôs, em parceria com Bide, sambas que fizeram a história, como “Agora É Cinza”. O segundo, Mestre Marçal (1930-1994), foi diretor de bateria da Portela por 22 anos.
É Marçalzinho quem conduz o espectador em “As Batidas do Samba” a alguns de seus melhores mergulhos, como no quilombo em Valença, onde escravos desenvolveram o semba, um gênero musical africano que, de alguma forma, daria posteriormente no samba.
Num momento comovente, Marçalzinho abre o apartamento onde guarda dezenas e dezenas de instrumentos de percussão. Num cantinho, conserva os poucos que o pai usou em sua vida. “Ele me dizia: ‘Não sei pra que tanto instrumento se com uma cuíca e um tamborim eu criei vocês’.”
Cabe também a Marçalzinho conduzir uma das últimas entrevistas do filme, com os integrantes do Fundo de Quintal, em Ramos. O grupo, nascido nos anos 70, é responsável por influenciar todos os grupos de pagode que iriam surgir na sequência.
O samba se transforma permanentemente nestes seus mais de cem anos de vida, mostra o documentário. É uma música “sem prazo de validade”, como diz Monarco, referindo-se aos sambas de Marçal e Bide, mas que vale para o gênero como um todo.
O bem-humorado Wilson das Neves (foto ao lado) dá algumas aulas no filme. A melhor é ao descrever o papel da bateria numa escola de samba. “Se a bateria para, cadê a escola? Você pode ter 500 carros alegóricos, milhões de Adrianes Galisteu na frente, não resolve nada se a bateria parar”. Bingo!
Samba é questão de hereditariedade, mas também de contágio, ensina Bebeto Abrantes com o seu ótimo filme.
Em tempo: A exibição de “As Batidas do Samba” inaugura uma mostra de 15 filmes de Carnaval no Canal Brasil. A programação pode ser vista aqui. O filme também entra em cartaz na próxima sexta-feira, dia 10, na Sala Ponto Cine, em Guadalupe, zona norte do Rio.
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