A solução para a crise econômica nos países capitalistas mais adiantados, em especial na questão do desemprego, segundo o economista Lawrence Summers, não é flexibilizações trabalhistas, estímulos à inovação ou incentivos fiscais, e sim gastar com saúde e educação para criação de empregos. Vale destacar, que Summers não é um socialista ou esquerdista, mas principal conselheiro econômico do ex-presidente Bill Clinton e um convidado assíduo do Fórum Econômico de Davos, conhecido pela sanha desregulamentadora e neoliberal dos anos 1990, admitindo a verdade, mas não óbvio à cartilha pró-neoliberal dominante nas políticas econômicas.
Serviços ligados ao Estado serão fonte de emprego, diz economista
Lawrence Summers vê a criação de vagas nos setores de educação e saúde superar a nos mais dinâmicos e produtivos
Fernado Dantas, enviado especial de O Estado de S.Paulo
DAVOS - No capitalismo do século 21, em países adiantados como os Estados Unidos, os setores mais dinâmicos e produtivos não serão a principal fonte de criação de emprego, mas sim serviços como saúde e educação, ligados ao Estado. A avaliação, que vai na direção contrária ao que a maior parte dos altos executivos e empresários no Fórum Econômico Mundial acha e defende, foi feita quinta-feira, 26, por Lawrence Summers, de Harvard, um dos economista mais respeitados do mundo.
Ex-secretário do Tesouro americano do presidente Bill Clinton, ex-principal conselheiro econômico de Barack Obama e ex-presidente de Harvard, Summers trouxe para a discussão sobre a crise do capitalismo um ângulo incômodo para a elite que frequenta Davos. O que não falta aqui, nas análises sobre o alto nível de desemprego dos países ricos, são recomendações de flexibilização trabalhista e estímulos à inovação e ao empreendedorismo, para liberar o dinamismo do setor privado e a sua capacidade de produzir empregos.
Na visão de Summers, porém, essa abordagem é ilusória. "Criar riqueza é muito mais fácil do que criar empregos." O problema, para o economista, é que a revolução da produtividade na indústria faz com que hoje se produza quantidade muito maior de bens, de qualidade muito melhor, por preços menores, e empregando muito menos gente.
Assim, criou-se a contradição de que os setores mais dinâmicos da economia, com crescimento mais rápido da produtividade, e que são normalmente aqueles que mais se buscam estimular, pelo próprio carisma que possuem, são também os que menos criam empregos.
"É uma ilusão que os iPods, iPads e Kindles vão criar mais empregos para pessoas normais", disse Summers. Para ele, a economia americana está evoluindo numa direção em que a criação de emprego terá de vir muito mais de segmentos ligados ao Estado, como saúde e educação, do que do industrial.
Ele deu um exemplo dramático. Desde os anos 60, o preço relativo de uma televisão reduziu-se 50 vezes em relação ao de serviços de saúde. Ele ressalvou que era um caso excepcional mas, ainda assim, se for tomada a evolução do preço de roupas e de serviços de consumo em geral, embora muito menos drástico, há também um substancial encarecimento relativo dos serviços.
Summers fez um paralelo entre o que ocorre hoje e a transição da economia agrícola para a industrial nos países ricos. Naquele momento, de forma similar ao que ocorre agora na indústria, a evolução tecnológica permitiu que se produzissem muito mais alimentos com muito menos gente. E o contingente desempregado no campo transferiu-se para a indústria, que produzia bens de consumo em altíssima demanda pela população.
Tendência. Hoje, de maneira semelhante, os desempregados da indústria deverão se transferir para setores nos quais o atendimento à demanda da população é notoriamente insuficiente e insatisfatório, como saúde e educação. Os serviços de saúde, aliás, segundo Summers, são o segmento previsto para gerar mais empregos nos Estados Unidos nos próximos dez anos.
A transição atual, porém, apresenta um grande problema. Empregos estão sendo transferidos de um setor industrial altamente produtivo para serviços muito vinculados ao governo que apresentam dinamismo econômico muito menor. De qualquer forma, notou Summers, outra ilusão é a de que "um governo menor combina com um governo que vai criar empregos", uma aparente estocada na agenda conservadora dos republicanos.
O desafio da política econômica na atual fase do capitalismo, portanto, seria o de preservar o dinamismo dos setores de baixa criação de emprego que, por outro lado, produzem em massa bens de qualidade para a população, ao mesmo tempo em que se tenta construir uma sociedade com trabalho digno para todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário