sábado, 1 de novembro de 2025

Do Boom do Agro à Nova Industrialização: o Agronegócio como Fonte de Acumulação Primitiva Nacional

Como o setor agroexportador pode financiar a reindustrialização, ampliar a complexidade produtiva e consolidar a soberania econômica do Brasil*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo
O artigo propõe o conceito de acumulação primitiva nacional, inspirado em Evguêni Preobrazhensky e adaptado à realidade do capitalismo periférico contemporâneo. A partir da análise do boom do agronegócio brasileiro, o texto demonstra que o setor agroexportador, quando articulado a uma política de planejamento e investimento público, pode atuar como fonte de financiamento produtivo e tecnológico da reindustrialização. Diferente da “doença holandesa” e da “doença egípcia”, em que o campo atua como fator de regressão estrutural, a acumulação primitiva nacional propõe a transferência consciente e planejada do excedente agrário para os setores industriais, científicos e de infraestrutura.
Com base nas formulações de Preobrazhensky, Kalecki e Furtado, o artigo articula os conceitos de coerência estrutural, crescimento garantido e soberania produtiva, defendendo a criação de um novo pacto desenvolvimentista entre Estado, agronegócio, indústria e ciência. A tese central é que o Brasil dispõe hoje dos meios materiais para um novo ciclo de industrialização verde e digital — faltando-lhe apenas a consciência da necessidade, isto é, o planejamento econômico como instrumento de transformação nacional.

Palavras-chave
Acumulação primitiva nacional; agronegócio; reindustrialização; desenvolvimento econômico; coerência estrutural; crescimento garantido; Preobrazhensky; Kalecki; Celso Furtado; soberania produtiva; Brasil.


I. Introdução – O Paradoxo do Sucesso Agrário

O Brasil vive um paradoxo estrutural. Enquanto o agronegócio alcança níveis inéditos de produtividade, rentabilidade e inserção internacional, o país como um todo experimenta uma prolongada estagnação industrial e tecnológica. A agricultura, responsável por metade das exportações e por saldos comerciais que sustentam a estabilidade cambial, tornou-se a principal âncora macroeconômica de uma economia que, paradoxalmente, perdeu sua base manufatureira e sua capacidade autônoma de inovação.

A narrativa oficial — de que o sucesso do agronegócio seria suficiente para puxar o crescimento nacional — revela-se incompleta. O setor agroexportador gera riqueza, mas essa riqueza não se converte em desenvolvimento. Gera divisas, mas não acumulação produtiva; gera renda concentrada, mas não difusão tecnológica. A questão essencial, portanto, não é “se” o agronegócio pode contribuir para o desenvolvimento, mas como transformar seu excedente externo em base de reindustrialização interna.

Essa reflexão resgata, sob novas condições históricas, uma ideia seminal de Evguêni Preobrazhensky: a “acumulação socialista primitiva”. Em A Nova Economia, o autor defendia que, nas economias em transição, o Estado devia organizar a transferência do excedente gerado nos setores mais dinâmicos ou rentáveis para financiar a industrialização e a ampliação das forças produtivas. Aqui, reinterpretamos o conceito como acumulação primitiva nacional — um mecanismo de desenvolvimento endógeno no qual o Estado coordena e canaliza os excedentes do agronegócio, da energia e da mineração para a expansão da base produtiva, científica e tecnológica do país.

Trata-se, em essência, de restabelecer a coerência entre os setores da economia — algo que Preobrazhensky via como condição da estabilidade e Kalecki, como base do crescimento garantido. Numa economia periférica como a brasileira, o problema não é a escassez absoluta de recursos, mas sua má alocação estrutural. O excedente gerado pelo campo, em vez de financiar a diversificação produtiva, é drenado pelo rentismo, pela financeirização e pelas importações de bens industriais e tecnológicos. Assim, o que poderia ser um ciclo virtuoso de acumulação torna-se uma dependência reeditada: exporta-se tecnologia incorporada e importa-se a tecnologia essencial.

Este artigo propõe que o boom agrário, longe de ser um obstáculo, pode se tornar o motor de uma nova industrialização, desde que inserido em um projeto nacional de planejamento e de investimento coordenado. Reindustrializar, aqui, não significa negar o agronegócio, mas transformar sua força de geração de divisas e inovação em base material para a reconstrução industrial, tecnológica e científica do Brasil.

O desafio é político e estrutural: como organizar, no século XXI, uma estratégia de acumulação que não reproduza a dependência, mas a supere. A resposta não está no retorno ao modelo primário-exportador, nem na simples substituição de importações; está em criar uma economia complexa, verde e digital, capaz de converter a riqueza setorial em desenvolvimento nacional.

sábado, 25 de outubro de 2025

A Doença Egípcia: um paradigma invertido da Doença Holandesa

Da reprimarização impossível à estagnação dependente: uma teoria estrutural do subdesenvolvimento e da inflação crônica nas economias periféricas*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo

O artigo apresenta o conceito de Doença Egípcia, uma categoria teórica proposta como inversão da clássica Doença Holandesa. Enquanto esta descreve o retrocesso industrial de economias que prosperam graças ao sucesso de seu setor primário, a Doença Egípcia caracteriza países que nunca completaram o processo de industrialização, mas permanecem presos à dependência de exportações primárias frágeis e instáveis. O texto demonstra que, nesses casos, a escassez de divisas, e não a abundância, desencadeia um ciclo de desvalorização cambial, inflação de custos, desinvestimento e estagnação produtiva. Inspirado nas formulações de Preobrazhensky e Kalecki, o modelo expõe como o desequilíbrio entre setores e a ausência de planejamento convertem a economia periférica em um sistema de reprodução sem acumulação, no qual o Estado administra a escassez em vez de superá-la. Aplicado ao Brasil e a outras nações do Sul Global, o conceito propõe uma releitura estrutural da inflação e do subdesenvolvimento, recolocando o planejamento, a reindustrialização e a soberania cambial como fundamentos da estabilidade e do crescimento de longo prazo.

Palavras-chave:

Doença Egípcia; Doença Holandesa; subdesenvolvimento estrutural; inflação de custos; dependência; planejamento econômico; industrialização tardia; Preobrazhensky; Kalecki.


I. Introdução – O Paradoxo da Periferia e a Inversão da Doença Holandesa

A expressão “Doença Holandesa” tornou-se, nas últimas décadas, um dos conceitos mais difundidos para descrever o dilema de países que, após descobertas ou valorização de recursos naturais, sofrem os efeitos colaterais de seu próprio sucesso. O boom das exportações de commodities provoca a valorização cambial, reduz a competitividade das manufaturas e leva à reprimarização da estrutura produtiva. Em essência, trata-se de uma patologia do êxito: o país industrializado é traído por seu setor primário pujante.

Entretanto, nas economias periféricas e dependentes, o fenômeno assume contornos inversos. O problema não é o “excesso de sucesso” das exportações, mas sua fragilidade estrutural. Aqui surge o que denominamos Doença Egípcia — uma versão invertida da Doença Holandesa. Não se trata de uma regressão a partir de uma base industrial consolidada, mas de um bloqueio histórico que impede a industrialização de se completar. A “doença”, portanto, nasce não do apogeu, mas da insuficiência.

A metáfora egípcia é reveladora. O Egito antigo foi uma das civilizações mais sofisticadas do ponto de vista agrário, mas cuja produtividade agrícola sustentava um Estado extrativo e elites improdutivas, incapazes de converter o excedente social em acumulação produtiva. A abundância relativa não se transformava em progresso técnico, mas em monumentos e privilégios. Da mesma forma, nas economias periféricas contemporâneas, o excedente proveniente do setor primário — mesmo modesto — é canalizado para o consumo das elites, a especulação financeira e o serviço da dívida, não para a transformação estrutural da base produtiva.

Enquanto na Doença Holandesa o câmbio valorizado corrói a competitividade industrial, na Doença Egípcia o câmbio desvalorizado reflete a ausência de base industrial capaz de reagir à desvalorização. O resultado é um círculo vicioso: a queda dos preços das commodities reduz as reservas internacionais e desvaloriza a moeda; a moeda fraca encarece importações de insumos e maquinário; os custos industriais sobem e o investimento declina. Surge, assim, uma inflação estrutural de custos, não compensada por expansão produtiva — uma estagnação inflacionária de natureza dependente.

A Doença Egípcia é, portanto, a patologia da periferia que nunca se industrializou plenamente, mas que experimenta as desvantagens cambiais e estruturais da dependência primário-exportadora. Ao contrário da doença holandesa, que se manifesta como uma perda de complexidade após um ciclo virtuoso, a egípcia é o sintoma de uma ausência estrutural de complexidade. É a doença de economias onde o Estado arrecada sobre a base agrária ou mineral, o capital lucra pela intermediação financeira e a sociedade paga o preço da desindustrialização sem jamais ter vivido seu auge.

sábado, 18 de outubro de 2025

Crescimento, Inflação e Coerência Estrutural: uma síntese Preobrazhensky–Kalecki para o desenvolvimento brasileiro

 Entre o fiscal e o monetário: um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário para economias em desenvolvimento*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo

O artigo propõe um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário, fundamentado na síntese entre Evgeni Preobrazhensky e Michał Kalecki. A partir de uma releitura marxista das relações entre produto efetivo e produto potencial, o texto demonstra que a estabilidade de preços não depende da contração fiscal ou monetária, mas da compatibilidade estrutural entre os ritmos de expansão setoriais. O modelo formaliza o produto agregado como a soma das respostas diferenciais da produção (YΣ=1/dXiY_{\Sigma} = \sum 1/dX_i), identificando um ponto ótimo de coerência (Y^0\hat{Y}_0) em que o crescimento da renda coincide com a capacidade produtiva sem gerar inflação.Essa formulação integra o teorema de Preobrazhensky sobre inflação e desproporção nos países em desenvolvimento e a taxa de crescimento garantido de Kalecki (g=s/vg = s/v, resultando em uma equação composta (gNI=s/βivig^{NI} = s / \sum \beta_i v_i) que expressa a taxa de expansão compatível com a estrutura produtiva real. Aplicado ao caso brasileiro, o modelo revela que a inflação recente decorre não de déficits fiscais, mas de gargalos produtivos intersetoriais — a superposição de cadeias de oferta descompassadas. O artigo conclui propondo substituir a atual política de metas de inflação por uma meta de coerência estrutural, que combine planejamento produtivo, investimento coordenado e mensuração periódica do crescimento não inflacionário. Essa abordagem redefine o papel da política macroeconômica, colocando o planejamento e a proporcionalidade produtiva como fundamentos da estabilidade e do desenvolvimento sustentável em economias periféricas.

Palavras-chave: 

Preobrazhensky; Kalecki; crescimento garantido; inflação estrutural; coerência interdepartamental; planejamento econômico; Brasil.

Introdução – Crescimento, Inflação e a Falácia do Desequilíbrio Fiscal

Nas últimas décadas, o debate econômico brasileiro tem sido sequestrado por uma falsa oposição entre responsabilidade fiscal e expansão produtiva. À política fiscal atribui-se a origem das pressões inflacionárias; à política monetária, o papel de guardiã da estabilidade. Sob essa narrativa, o crescimento seria, por definição, inflacionário; e a austeridade, sinônimo de sensatez. Contudo, a experiência recente do país — inflação persistente mesmo com juros recordes e baixo dinamismo — revela que algo fundamental está errado nesse raciocínio.

A inflação brasileira contemporânea não nasce do “excesso de gasto público”, mas dos gargalos estruturais de uma economia heterogênea, dependente e desproporcional. Em vez de se propagar de cima para baixo pela demanda, ela emerge de dentro do sistema produtivo, das descompensações entre setores e departamentos, que limitam a expansão da oferta e elevam os custos antes mesmo que o consumo popular se recupere. A política monetária restritiva, ao inibir o investimento justamente nos elos mais frágeis — energia, logística, indústria de base e agricultura —, apenas aprofunda o desequilíbrio que pretende corrigir.

É nesse ponto que o pensamento de Evgeni Preobrazhensky e Michał Kalecki recupera toda a sua atualidade. Ambos demonstraram que o equilíbrio entre crescimento e estabilidade de preços não depende do freio da demanda, mas da compatibilidade entre os ritmos de expansão dos setores e departamentos da economia. Em Preobrazhensky, essa compatibilidade material expressa-se no equilíbrio entre os Departamentos I (meios de produção) e II (meios de consumo); em Kalecki, na proporção entre poupança, investimento e capacidade produtiva, que define a taxa de crescimento garantido.

Partindo dessa dupla herança teórica, este artigo propõe um modelo interdepartamental de crescimento garantido e não inflacionário, no qual o produto efetivo YΣY_{\Sigma} resulta da soma das respostas diferenciais setoriais dXidX_i, e o ponto ótimo Y^0\hat{Y}_0 representa a coerência estrutural entre o produto efetivo e o potencial. O modelo sintetiza o teorema de Preobrazhensky sobre a inflação em economias em desenvolvimento e a equação kaleckiana do crescimento g=s/vg = s/v, mostrando que o crescimento sem inflação decorre da proporcionalidade entre investimento, capacidade e estrutura produtiva — e não da contração da demanda.

A aplicação dessa abordagem ao caso brasileiro permite reinterpretar a atual conjuntura: a inflação decorre menos do fiscal e mais da superposição de gargalos produtivos; a estabilidade não virá de juros altos, mas da recomposição das proporções materiais do desenvolvimento. Ao restituir a economia política ao terreno da totalidade concreta, o modelo propõe uma nova racionalidade macroeconômica para países periféricos — uma racionalidade do planejamento e da coerência estrutural, que recoloca o crescimento, e não a austeridade, como fundamento da estabilidade de preços e do equilíbrio social.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O que a mídia não te explica sobre Reforma Administrativa (live no canal "Economia É Fácil")

🚨O canal Economia É Fácil recebe o professor Robson Raymundo Silva para debater sobre o projeto de Reforma Administrativa —  que ameaça desmontar o serviço público e precarizar o Estado brasileiro.

Reforma Administrativa volta à pauta e ameaça o serviço público — o que está em jogo do Brasil
Vamos conversar sobre:
🏛️ A proposta de PEC da Reforma que volta ao Congresso
📉 As medidas de ataque à estabilidade e aos direitos dos servidores
✊ A resistência da classe trabalhadora e da educação pública
📅 Nesta 5ª feira, 16/10 – 21h


💬 Participe pelo chat e compartilhe com seus contatos!

#ReformaAdministrativa #EconomiaÉFácil #ServiçoPúblico

sábado, 11 de outubro de 2025

O Tempo dos Ciclos: Irregularidade, Tendência e Transição na Dinâmica do Capitalismo

Entre a repetição e a transformação: 
como o movimento cíclico revela o tempo histórico do capital e anuncia seus limites.*

Por Almir Cezar Filho**

Resumo

Os ciclos econômicos não são meras oscilações estatísticas, mas expressões da própria lógica contraditória do capitalismo. Através de períodos de expansão e crise, o sistema reconfigura suas condições de reprodução, revelando uma regularidade que se manifesta por meio da irregularidade. Este artigo analisa, sob a ótica marxista, a natureza dialética dos ciclos: suas sobreposições temporais, suas tendências estruturais e suas mutações históricas. Da “irregularidade regular” à financeirização contemporânea, buscamos compreender o ciclo como forma temporal do capital — e o planejamento socialista como sua negação consciente.

Introdução – O Movimento como Forma da Contradição

Desde que Marx descreveu o ciclo industrial como “a forma viva do movimento do capital”, o pensamento crítico reconhece que a economia capitalista não se desenvolve de modo linear, mas pulsante, alternando prosperidade e colapso, avanço e retração. A repetição das crises não é um desvio, mas uma necessidade interna da acumulação: o capital só se renova destruindo parte de si mesmo, purgando os excessos que sua própria lógica produz.

Cada ciclo, no entanto, não é mera repetição do anterior. Ele se dá sobre novas bases técnicas, sociais e geográficas. A superprodução do século XIX não é a mesma de 1929, tampouco a de 2008. Cada uma reflete o modo histórico como o capital reorganiza suas contradições fundamentais — entre produção e realização, trabalho e valor, capital e vida. O ciclo é, portanto, a forma concreta da contradição em movimento.

O olhar marxista sobre os ciclos não busca prever datas ou traçar curvas regulares, mas revelar o tempo histórico inscrito nas flutuações econômicas. Por trás das estatísticas de crescimento e recessão, pulsa a dinâmica real de valorização e desvalorização do capital, isto é, o processo pelo qual a sociedade burguesa tenta perpetuar-se diante de seus próprios limites. O que as escolas econômicas chamam de “recuperação” nada mais é que a reconstrução temporária das condições de exploração.

Neste sentido, estudar os ciclos é estudar a própria historicidade do capitalismo. Cada oscilação, cada crise, cada fase de expansão é parte de uma totalidade maior — o processo contraditório de reprodução de um modo de produção que precisa se reinventar para não sucumbir. Mas há um limite: a regularidade da irregularidade só se sustenta enquanto as contradições puderem ser deslocadas, e não superadas. Quando o capital atinge o ponto em que a crise se torna permanente, abre-se a possibilidade de um novo tempo histórico: o da transição consciente, o da planificação social, o do fim da anarquia do valor.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Artigos sobre Teoria do Desenvolvimento Capitalista - uma lista de leitura

O blog "Limiar e Transformação Econômica" é um espaço dedicado à análise marxista das transformações e crises do capitalismo contemporâneo. Editado por Almir Cezar Filho, economista e servidor público, o blog busca contribuir para um jornalismo econômico contra-hegemônico e para a educação popular em economia.

Os principais temas abordados no blog incluem:

  1. Crises do Capitalismo: Análises profundas sobre as crises econômicas sob a perspectiva marxista, explorando suas causas e consequências globais.
     Clique aqui: limiaretransformacao.blogspot.com.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Rolou ou não "química" entre Lula e Trump?

 🚨 AO VIVO HOJE!
O Economia É Fácil recebe Cyro Garcia para analisar a conjuntura internacional e nacional:
🌎 Shutdown nos EUA, dólar em queda e crise global
🇧🇷 Protestos barram 'PEC da Bandidagem', Bolsonaro condenado e Tarcísio se lança candidato
🗓 Quinta, 02/10 – 21h


✊ Participe e compartilhe!

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

"A Servidão do Caminho": Economia de Mercado, Pós-Modernidade e Servidão - o Paradoxo Neoliberal

Não vivemos no caminho da servidão, mas sim, na servidão do caminho...

Por Almir Cezar Filho

Em O Caminho da Servidão, Friedrich Hayek acusava o socialismo, o intervencionismo econômico, o Estado de bem-estar social e o planejamento estatal de conduzirem a uma "servidão": a perda das liberdades civis e a ascensão de regimes totalitários. Para Hayek, e para seus pares como Von Mises e Milton Friedman, qualquer tentativa de submeter a dinâmica do mercado à ação coletiva racional implicaria inevitavelmente na erosão da liberdade individual. No entanto, a realidade que emergiu nas últimas décadas mostra-se um espelho invertido dessa tese. O desmonte dos instrumentos de regulação estatal, a demonização do planejamento, a precarização do Estado social e a expansão desmedida da lógica mercantil não produziram liberdade, mas sim uma nova forma de servidão: a servidão ao capital financeiro, às corporações transnacionais e ao poder punitivo do Estado autoritário.

Sob a hegemonia da ideologia do livre mercado, vivemos a degradação da malha social, a desindustrialização, a explosão das crises financeiras, a inflação das commodities, a concentração de riquezas e a corrosão da esfera pública. O "mercado" — como abstração ideológica que naturaliza relações sociais e apaga conflitos — se tornou dogma inquestionável. Entretanto, esse fundamentalismo mercadológico se traduz, na prática, em anomia, precariedade e despotismo. A promessa de liberdade se converte em serviço informal, vigilância digital, escravidão por dívida e judicialização da política. O que era para ser um antídoto contra o totalitarismo, revelou-se seu fermento.

domingo, 14 de setembro de 2025

Rede, Valor e Capitalismo: Por uma Economia Sintrópica e Inteligente - A Economia & a Revolução

Economia de Rede e Inteligência de Rede versus o Mercado e o Capitalismo
Uma crítica marxista e cibernética à ideologia do mercado e à entropia do capitalismo, em defesa de uma economia colaborativa, sintrópica e baseada em redes inteligentes.

por Almir Cezar Filho

Resumo

Este artigo propõe uma crítica radical à concepção do mercado como ordem espontânea natural, analisando a economia a partir do paradigma das redes complexas e da cibernética. A partir de conceitos como entropia, sintropia, planejamento, colaboração e economia participativa, argumenta-se que o capitalismo — entendido como mercado generalizado de fatores de produção — não expressa a inteligência coletiva, mas sim sua degradação. Ao invés de um sistema espontaneamente eficiente, o mercado impõe desigualdade, opressão e desperdício. A superação de sua entropia exige redes colaborativas, inteligência sintrópica e planejamento democrático. Propõem-se, como alternativas sistêmicas, os modelos da Economia Participatória (ParEcon) e da Economia Baseada em Recursos.

Introdução


A inteligência das colmeias, das florestas, das células e das sociedades humanas é, antes de tudo, uma inteligência de rede. Não se trata de uma mente centralizada emitindo comandos, mas de um entrelaçamento de interações e sinais que se propagam por múltiplos caminhos, de forma distribuída, adaptativa e, por vezes, cooperativa. A economia contemporânea — sob o véu do mercado e do capitalismo — é, em sua base, também uma rede. Mas é uma rede tensionada pela exploração, pela desigualdade, pelo comando e pela entropia.

Este artigo propõe uma crítica radical à ideia de que mercado e capitalismo são expressões naturais da inteligência coletiva. Sustenta que a economia de rede — como potencial sintrópico da colaboração social — é anterior e superior ao mercado capitalista. Para tanto, discutiremos os conceitos de rede, valor, entropia, sintropia, cooperação, cibernética e planejamento em uma perspectiva econômica crítica.

1. Rede, organismo, sociedade: o substrato da vida

Do ponto de vista biológico, um organismo é uma rede integrada de redes: tecidos são redes de células; órgãos são redes de tecidos; sistemas são redes de órgãos. O mesmo vale para a sociedade: famílias, coletivos, empresas, cidades, instituições — todos formam redes complexas de interação. Como nas colmeias, a inteligência social emerge da combinação de diferenças complementares, da partilha de recursos comuns e da constante comunicação entre seus elementos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Julgamento de Bolsonaro, Democracia em crise, imperialismo em ofensiva | ECONOMIA É FÁCIL

 Democracia em crise, imperialismo em ofensiva: como resistir? 

📝 Do julgamento de Bolsonaro no STF à repressão brutal a imigrantes nos EUA e Europa. Do massacre em Gaza à ameaça de intervenção na Venezuela. Do tarifaço de Trump à submissão do governo Lula. Estamos diante de uma ofensiva global da extrema direita e do imperialismo


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Tarifaço, ingerência e submissão: o Brasil entre Trump, STF e a classe dominante

Com Cyro Garcia | Economia É Fácil – Ao vivo na Rádio Censura Livre 📢 Assista, comente, compartilhe, inscreva-se e apoie a Rádio Censura Livre!

📍O novo tarifaço é mesmo um recuo ou um avanço na ofensiva imperialista dos EUA? 📍A Lei Magnitsky e a sanção a Moraes: o que está em jogo com a ingerência no STF? 📍Qual o papel da burguesia brasileira nessa crise: cúmplice ou vítima? 📍Qual deve ser a resposta da classe trabalhadora frente ao ataque imperialista?


sábado, 2 de agosto de 2025

Trump taxa o Brasil: ataque imperialista ou teatro eleitoral?

Assista em: https://www.youtube.com/live/-pixbT2fUjc

O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros expõe mais do que uma guerra comercial: revela a ofensiva imperialista dos EUA sobre o Brasil e o conjunto dos países do Sul Global.Nesta edição do Economia É Fácil, vamos analisar:

terça-feira, 15 de julho de 2025

Tarifas de Donald Trump contra o Brasil, limites da conciliação do governo Lula e a soberania nacional em jogo

📌 Nesta edição especial do Economia É Fácil, o historiador e militante socialista Cyro Garcia analisa, do ponto de vista da classe trabalhadora, a nova crise entre o Brasil e os Estados Unidos após o presidente Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.

▶️Como o governo Lula responde a essa chantagem imperialista? Por que a extrema direita bolsonarista comemora enquanto a esquerda institucional silencia? E qual o papel dos BRICS, da reindustrialização e da luta por soberania nesse novo tabuleiro geopolítico?



sábado, 12 de julho de 2025

99 anos do livro `"Nova Economia" de Eugeny Preobrazhensky

por Almir Cezar Filho

Eugeny Preobrazhensky
(foto colorizada)
O livro Nova Economia, como é mais conhecido, ou no original Nova Economia: uma tentativa de uma análise teórica da economia soviética (no original em russo: Novaia ekonomika: Opy t teoreticheskogo analiza sovetskogo khoziaistva) foi escrito pelo economista russo e bolchevique Eugeny Preobrajensky e publicado em 1926.

É considerada sua oppus magnus, embora seja o livro O ABC do Comunismo, coescrita com Nikolai Bukharin, a mais conhecida. O livro A Nova Economia - cujo Capítulo II foi publicado pela primeira vez em agosto de 1924, em Moscou, como um artigo científico - constituiu um dos principais textos econômicos do período. Até hoje, trata-se de uma das mais audaciosas e mais profundas obras de análise teórica da economia soviética do período dos anos de 1920, época pautada pela transição da economia russa ao socialismo, e surgimento do tema do "desenvolvimento econômico".

Por que o título "Nova Economia"?

O título alude a ideia que na URSS daquele período é preciso de uma nova teoria econômica (por isso, muitas vez a tradução se refere como "Nova Econômica") - própria aos dilemas particulares que tanto a ciência como sistema econômico de transição ao socialismo vive - e que a Economia tradicional não oferece respostas. E que, por sua vez, o Marxismo também não. A alternativas aos marxistas seriam desenvolver novas formulações teóricas, recorrendo as bases metodológicas da Economia Política marxista.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Trump impõe tarifa contra o Brasil – Chantagem imperialista e ataque à soberania

Live especial do programa Economia É Fácil 🎙️

🎯 Tema: Trump impõe tarifa contra o Brasil – Chantagem imperialista e ataque à soberania

Vamos debater o que está por trás da decisão de Trump de taxar em 50% os produtos brasileiros. Uma guerra comercial? Pressão política?
📉 Qual o impacto para a economia nacional e o projeto de reindustrialização?
✊ E qual deve ser a resposta do povo brasileiro?



🎥 Assista agora: 🔗 https://youtube.com/live/0urpU4fajVc

Com apresentação de Almir Cezar Filho
📡 Pela Rádio Censura Livre — mídia independente e popular!

#TrumpTireAsMãosDoBrasil #EconomiaÉFácil #CensuraLivre #Live #Imperialismo #BolsonaroNaPrisão #SoberaniaNacional

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Crise na Avibras: a indústria brasileira vai morrer? | ECONOMIA É FÁCIL

Com Weller Gonçalves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, e apresentação de Almir Cezar.
A maior empresa de defesa do Brasil está afundada em dívidas, salários atrasados e risco de fechamento definitivo. Enquanto isso, o governo compra armas dos EUA e de Israel e vira as costas para a indústria nacional. Neste episódio do Economia É Fácil, vamos debater:
👉 Por que a Avibras chegou a esse ponto?
👉 Qual o papel da financeirização e da política de austeridade?
👉 O que essa crise revela sobre o projeto de desenvolvimento nacional?
👉 A geopolíticaE qual a responsabilidade do governo Lula?

✅ O futuro da reindustrialização e da soberania brasileira
✅ A dependência militar e tecnológica
✅ O papel estratégico da indústria bélica
✅ E a luta dos trabalhadores por salários e dignidade




terça-feira, 1 de julho de 2025

🎙️ 15 Anos da ERCE: História, Desafios e a Luta pela Reestruturação dos Cargos Específicos

🎙️ Live Especial – 15 ANOS DA ERCE
Nesta transmissão histórica, vamos resgatar a trajetória de criação da Estrutura dos Cargos Específicos (ERCE), que há 15 anos reúne arquitetos, engenheiros, economistas, estatísticos e geólogos do Poder Executivo Federal.
A live traz uma reflexão sobre:
🔹 A história e as motivações que levaram à aprovação da Lei 12.277/2010.
🔹 Os desafios vividos pelos servidores na implantação da ERCE.
🔹 A luta permanente pela revalorização, atualização salarial e reestruturação da carreira.
🔹 A importância estratégica da ERCE para as políticas públicas, a infraestrutura governamental e o desenvolvimento do Brasil.
🔹 A defesa de um serviço público qualificado, autônomo e comprometido com o interesse coletivo.
Com convidados especiais e a participação do público ao vivo!

Assista aqui: https://youtube.com/live/P8pCKWyab4A

🗓️ Data: 30/06 🕗 Horário: 20h 📡 Transmissão ao vivo pela Rádio Censura Livre
✊ Participe, comente e compartilhe! Valorizar o servidor público é defender o futuro do Brasil.
#ERCE #SINAEG #ServidorPúblico #ValorizaçãoJá #Economistas #Engenheiros #Arquitetos #Estatísticos #Geólogos #ServiçoPúblico #RádioCensuraLivre

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Oriente Médio: Como resolver de vez a escalada e sucessão infinita de conflitos

Neste corte do Economia É Fácil, o economista Almir Cezar Filho apresenta a Proposta Política diante da escalada militar no Oriente Médio e da ofensiva israelense contra o povo palestino.
Defende que a solidariedade internacional deve ir além das denúncias e se articular com uma estratégia revolucionária de transformação da região, pautada em quatro pontos centrais:
1️⃣ A necessidade de uma guerra total contra Israel, como resposta legítima ao genocídio e à ocupação.
2️⃣ A combinação dessa luta com uma nova Primavera Árabe, mobilizando milhões de trabalhadores e jovens contra todas as ditaduras.
3️⃣ A crítica ao caráter burguês e repressivo do regime iraniano, que instrumentaliza a causa palestina.
4️⃣ A defesa da luta revolucionária socialista no Oriente Médio, conectando a libertação nacional com a emancipação social.




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domingo, 29 de junho de 2025

A solidariedade mundial à luta do povo palestino é parte essencial da resistência

No corte do Economia É Fácil, o economista Almir Cezar Filho apresenta as propostas de solidariedade internacional e mobilizações em apoio ao povo palestino diante do genocídio em Gaza e dos ataques israelenses. Destaca a importância de ações concretas e unitárias, como:
🟢 A Flotilha da Liberdade, que rompe simbolicamente o bloqueio de Gaza e denuncia os crimes de guerra.
🟢 A Marcha Global para Gaza e a luta contra a repressão do Egito ao povo palestino.
🟢 O papel decisivo das massas árabes e da juventude no mundo todo, mobilizadas em defesa da Palestina.
O vídeo também recupera a proposta política que defende uma campanha mundial de solidariedade ativa e pressão sobre os governos cúmplices de Israel.
🔗https://youtu.be/ltP4N1cfZWc

✊ Assista, informe-se e fortaleça a luta pela Palestina livre, do Rio ao Mar!

sábado, 28 de junho de 2025

O confronto dos aiatolás do Irã com Israel é produto das contradições desse regime

 No corte especial do Economia É Fácil, o economista e editor do programa Almir Cezar Filho analisa as origens do confronto entre o regime dos aiatolás do Irã e o Estado de Israel, destacando que essa tensão permanente não é apenas fruto de disputas regionais, mas também das profundas contradições internas do próprio regime iraniano. 🟢 Ditadura teocrática e repressão interna contra a população iraniana. 🟢 Um projeto anti-imperialista parcial e seletivo, que não esconde alianças oportunistas. 🟢 Relações estratégicas com China e Rússia. 🟢 Intervenções e apoios a grupos armados no Iraque, Síria, Líbano e Iêmen. Entender essas contradições é fundamental para quem defende a paz e a autodeterminação dos povos sem cair na lógica de blocos autoritários que instrumentalizam causas legítimas em benefício próprio.

📼https://youtu.be/OlFqy3akimo



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sexta-feira, 27 de junho de 2025

PODCAST | Inflação desacelera. Mas bolso do brasileiro segue sofrendo


📻https://creators.spotify.com/pod/show/webradiocensuralivre/episodes/ECONOMIA--FCIL---Inflao-desacelera--Mas-bolso-do-brasileiro-segue-sofrendo-2662025-e34qflv

Hoje o noticiário econômico anunciou:
📉 “A inflação caiu! O IPCA-15 desacelerou em junho!”

Mas... e o povo?
⚡ A conta de luz subiu.
💧 A água encareceu.
🍛 Comer fora continua pesando no bolso.
🚇 O transporte não aliviou.
🩺 O plano de saúde não para de subir.

Como pode a inflação desacelerar e o salário continuar encurtando?

No Economia É Fácil de hoje, vamos te mostrar o que os dados escondem — e o que a grande imprensa não quer explicar:
📊 A inflação no Brasil não é de consumo exagerado nem de gasto público.
⚠️ É de tarifas, serviços essenciais e um modelo econômico que joga a conta nas costas da classe trabalhadora.

Vamos analisar os dados, comparar com a série histórica e discutir caminhos para um outro projeto de economia.

Fica com a gente, curta, compartilhe, se inscreva no canal da Rádio Censura Livre.
E, se está ouvindo pelo Spotify, marca como favorito e dá aquelas cinco estrelas que ajudam demais.

Porque aqui, a economia é explicada de forma crítica — e sempre do lado do povo.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Inflação desacelera. Mas bolso do brasileiro segue sofrendo | ECONOMIA É FÁCIL

📊 Inflação e o IPCA-15 de junho/2025: queda ou ilusão? O que a mídia não te explica

O IBGE divulgou que o IPCA-15 desacelerou para 0,26% em junho, mas o custo de vida continua pesando no bolso da população. Neste episódio, vamos analisar os dados por trás do índice, comparar com a série histórica e mostrar por que a sensação de carestia persiste — mesmo quando o governo tenta passar a ideia de alívio. ⚠️ Luz, água, comida fora de casa, saúde e aluguel continuam subindo. 📉 Preço do tomate caiu. Mas e o plano de saúde? E a energia elétrica com bandeira vermelha? 🎥 Ao vivo com gráficos, dados e análise crítica — porque a economia também é uma trincheira de luta. 🎙️ Com apresentação de Almir Cezar, economista e editor do Economia É Fácil. 🗓️ Quinta, 12/06 – às 21h

quarta-feira, 25 de junho de 2025

As guerras permanentes de Israel são tanto a causa como resultado de graves crises internas

Neste corte do Economia É Fácil, o economista Almir Cezar Filho analisa como a escalada militar de Israel contra Gaza e o Irã se conecta à profunda crise política, social e econômica que abala o país.
O vídeo mostra que, apesar da retórica de força, Netanyahu enfrenta uma situação cada vez mais insustentável:
🔵 Divisão interna da sociedade israelense, com protestos massivos contra o governo e seu projeto de guerra permanente.
🔵 Pressão das elites econômicas e do setor de tecnologia, temerosas do impacto do conflito sobre os negócios e investimentos.
🔵 Mobilizações de reservistas, greves e recusa de setores militares a seguir sustentando as operações.
🔵 Fuga de investimentos e empresas estrangeiras, alimentada pelo boicote internacional (BDS) e pelo desgaste diplomático.
🔵 Comparação com o regime de apartheid da África do Sul, que também enfrentou isolamento econômico antes de cair.
🔵 A crise institucional com a Suprema Corte e a possibilidade real de queda do governo.
Destaca que o cerco econômico e a resistência popular — tanto em Israel quanto internacionalmente — podem acelerar mudanças históricas na região.

 

https://youtu.be/yeIeqdX8T7g

terça-feira, 24 de junho de 2025

Gaza foi o prelúdio da ação de Israel no Irã e vive um impasse militar de Netanyahu

Neste corte do Economia É Fácil, o economista Almir Cezar Filho analisa a crise militar que Israel enfrenta na Faixa de Gaza e o fracasso do governo Netanyahu em alcançar seus objetivos estratégicos. O vídeo mostra como, apesar da brutalidade dos ataques, a resistência popular palestina permanece firme e impõe limites concretos à ocupação: 🟥 Objetivos militares declarados por Israel seguem não atingidos, mesmo após meses de bombardeios. 🟥 A dificuldade de anexar e expulsar a população torna o projeto colonial insustentável. 🟥 O isolamento internacional de Israel cresce com protestos e campanhas de boicote em todo o mundo. 🟥 A crise política e social interna se aprofunda, ameaçando a estabilidade do governo Netanyahu. Destaca que Gaza tornou-se o símbolo da luta anticolonial do nosso tempo — e que a solidariedade internacional é decisiva para derrotar o projeto de limpeza étnica.

🔗https://youtu.be/xdcNAj1Loy4

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Ataques de Israel e a resposta do Irã: uma nova e grave escalada de muitas décadas

Neste corte do Economia É Fácil, o economista Almir Cezar Filho analisa a crise militar que Israel enfrenta na Faixa de Gaza e o fracasso do governo Netanyahu em alcançar seus objetivos estratégicos. O vídeo mostra como, apesar da brutalidade dos ataques, a resistência popular palestina permanece firme e impõe limites concretos à ocupação: 🟥 Objetivos militares declarados por Israel seguem não atingidos, mesmo após meses de bombardeios. 🟥 A dificuldade de anexar e expulsar a população torna o projeto colonial insustentável. 🟥 O isolamento internacional de Israel cresce com protestos e campanhas de boicote em todo o mundo. 🟥 A crise política e social interna se aprofunda, ameaçando a estabilidade do governo Netanyahu. Destaca que Gaza tornou-se o símbolo da luta anticolonial do nosso tempo — e que a solidariedade internacional é decisiva para derrotar o projeto de limpeza étnica. 🔗https://youtu.be/hdKrC0Kd8Yk

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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Irã x Israel: Nova Escalada. Oriente Médio em Chamas e os Riscos ao Mundo - Quem é que lucra?

Analisamos os ataques aéreos de Israel contra o Irã, a resposta iraniana, a situação em Gaza e o papel dos EUA e outras potências na escalada militar no Oriente Médio. Qual o cenário que se desenha? Quais os interesses em jogo? E como os povos da região resistem?



🔹 1. A Nova Escalada Militar Israel x Irã
🔹 2. Crise em Gaza e Impasse Militar de Netanyahu
🔹 3. Crise Política e Social em Israel
🔹 4. A Crise Econômica de Israel
🔹 5. Papel dos EUA e Contradições no Imperialismo
🔹 6. O Regime Iraniano: Ditadura e Contradições
🔹 7. Solidariedade Internacional e Mobilizações
🔹 8. Proposta Política

📺 https://youtube.com/live/n0zp_aiQBRg

Bolsonaro e aliados no banco dos réus no STF pela trama golpista. 02 nos EUA: sanção contra Xandão?

 https://youtu.be/6gqEBHZiZcE




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quinta-feira, 19 de junho de 2025

Novo giro internacional de Lula: França (UE), Canadá (G7). Uma alternativa à dominação dos EUA? Geopolítica ou Imperialismo

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🔗https://youtu.be/mezK3myKG3M



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quarta-feira, 18 de junho de 2025

A Rússia e Ucrânia está longe de um cessar-fogo. É o imperialismo que não deixa

 📼https://youtu.be/Mb3a1AcdpuI


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segunda-feira, 16 de junho de 2025

Gaza: ONU denúncia os massacres. Europa ameaça romper com Israel. Netanyahu prossegue com guerras.

 https://youtu.be/6Dk3yRloVK4


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quarta-feira, 11 de junho de 2025

PROFESSORES EM GREVE, ESCOLA EM CRISE: QUEM PAGA ESSA CONTA?

🎙 Nova edição do Economia É Fácil
🗓 Quinta, 12/06 – às 21h
📍 Rádio Censura Livre

👨‍🏫 Entrevista com o professor Paulo Reis, da rede pública do DF, e profª Vanessa Portugal, da rede de Belo Horizonte/MG sobre:
✅ Greve, corte de ponto e repressão judicial
✅ Ataques ao Fundeb e arrocho salarial
✅ Saúde mental, assédio e metas abusivas
✅ Riscos do “apagão” de professores
✅ O papel da educação no orçamento público
✊🏾 Educação é investimento, não despesa. Valorizar o magistério é lutar pelo futuro do país!

🔗https://www.youtube.com/live/pbZRSPEwxnk?si=6rch3Rtqy0DfiFXj


#educação 
#professor 
#greve
#fundeb                  

sábado, 7 de junho de 2025

A Economia e a Revolução: os elementos básicos para uma Economia Política da Transformação Social no Século XXI

 Sínteses que permeiam uma Teoria Contemporânea Marxista do Desenvolvimento Capitalista

Por Almir Cezar Filho

Introdução

A compreensão das dinâmicas contemporâneas do desenvolvimento econômico exige, mais do que nunca, um retorno crítico e criativo à tradição marxista. Em tempos marcados por crises recorrentes, desigualdades estruturais e reconfigurações globais, a economia política não pode prescindir de uma leitura totalizante do capitalismo enquanto sistema mundial e historicamente determinado.

Este capítulo introdutório propõe reunir os fundamentos de uma teoria contemporânea do desenvolvimento econômico capitalista à luz do marxismo, articulando a dinâmica da economia com os processos políticos, a estrutura social e as determinações extraeconômicas que moldam o movimento do capital e da luta de classes.

A partir do princípio do desenvolvimento desigual e combinado — que recusa as falsas simetrias dos modelos linear-evolutivos —, buscamos uma abordagem dialética e tridimensional da realidade. O desenvolvimento não se dá como trajetória homogênea ou universal, mas como expressão de múltiplos modos de produção articulados desigualmente dentro de um sistema global hierarquizado. Essa heterogeneidade é constitutiva do capitalismo, que, ao se expandir e buscar sua autorreprodução, incorpora formas sociais e produtivas distintas em escalas nacional e internacional. Portanto, a teoria do desenvolvimento deve partir da totalidade concreta, reconhecendo as mediações entre as estruturas econômicas nacionais, as lutas de classe e a inserção no sistema interestatal capitalista.

A revolução — entendida como salto histórico, ruptura da continuidade evolutiva e precipitação de contradições não resolvidas — é um elemento essencial para compreender tanto as mutações estruturais do capitalismo quanto as possibilidades de sua superação. Mais do que consequência de crises econômicas, a revolução pode ser seu motor. A história do século XX oferece múltiplas expressões dessa dinâmica: do Estado operário burocratizado à social-democracia do bem-estar, passando pelos nacionalismos desenvolvimentistas da periferia. Tais experiências, ainda que marcadas por limites e derrotas, alteraram profundamente as formas de organização produtiva, o papel do Estado e as mentalidades sociais — elementos que permanecem decisivos na configuração do presente.

Este texto parte, portanto, da premissa de que o capitalismo deve ser apreendido como totalidade contraditória, cuja estrutura e dinâmica são determinadas por leis econômicas internas (como a lei do valor e da acumulação) e por determinações extraeconômicas (como a política, a ideologia, a moral, o direito e as relações interestatais). A análise da conjuntura, das flutuações cíclicas, da política econômica e da inserção internacional de cada país não pode ser feita sem essa perspectiva de longa duração, que recusa o imediatismo da análise econômica convencional e resgata o horizonte da transformação revolucionária como categoria estratégica e analítica.

1. O Conceito de Desenvolvimento Econômico na Tradição Marxista

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Da Ucrânia a Gaza, do G7 ao STF | ECONOMIA É FÁCIL

🔗Link para assistir: https://youtube.com/live/qed6bDgkQkg

📺 ECONOMIA É FÁCIL #ConjunturaMensal | Com Cyro Garcia 🌍 O mundo está em chamas — e o Brasil no centro de disputas cada vez mais intensas. Nesta edição de Economia É Fácil, o historiador, professor e militante de esquerda Cyro Garcia analisa conosco os principais fatos da conjuntura nacional e internacional:

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Lula amigo de Xi e Putin? Articulações geopolíticas do Brasil na Rússia e na China

 🔗https://youtu.be/5r__AlWS_DM

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terça-feira, 3 de junho de 2025

Coerência Motivacional Retroativa - Infográfico Conceitual

Por Almir Cezar Filho


1️⃣ Problema: O Sentido da Ação Histórica

❓ O que justifica uma ação política ou histórica?
✔️ Vencer uma batalha é suficiente?
✔️ Impedir uma medida regressiva basta?
🔑 Ou precisamos garantir que a vitória preserve a razão pela qual lutamos?


2️⃣ Hipótese Central

🌀 Coerência Motivacional Retroativa

Alterar o passado é possível, desde que o novo futuro justifique a motivação original da ação.

Síntese:
✔️ O tempo pode mudar → mas não pode perder o sentido que o impulsionou.
✔️ A ação só é válida se manter ou recriar a motivação que a originou.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

A guerra comercial EUA vs. China esconde uma luta pela ordem global capitalista, por Cyro Garcia

 https://youtu.be/ALJCqgBu-Ho?si=tK0L2YqRnOFj43fw


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domingo, 1 de junho de 2025

Ucrânia e Gaza: Duas guerras, um mesmo interesse do imperialismo

🔗https://youtu.be/9fJZHzvcDlw?si=QbtKJvD9cGcs3rUG


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quinta-feira, 29 de maio de 2025

TEMPO, PLANEJAMENTO E TRANSFORMAÇÃO: A coerência motivacional retroativa como princípio para a teoria econômica, a política pública e o fomento ao desenvolvimento

Um ensaio heurístico-dialético aplicada à Economia


Por Almir Cezar Filho


Vivemos em um tempo de incertezas profundas, marcado por choques externos, transições tecnológicas aceleradas e limites ambientais. Nesse contexto, cresce a exigência por políticas públicas que não apenas resolvam problemas imediatos, mas que preservem a coerência estratégica e histórica de seus objetivos. Este ensaio propõe uma lente alternativa para pensar a racionalidade econômica e a ação governamental no tempo: a coerência motivacional retroativa.

Este ensaio propõe uma lente alternativa para pensar a racionalidade econômica e a ação governamental no tempo: a coerência motivacional retroativa.

Trata-se de uma heurística — ou seja, uma regra prática orientadora que ajuda a pensar e agir em cenários complexos, instáveis ou incertos. Heurísticas não pretendem fornecer soluções fechadas, mas sim guiar decisões eficazes quando os modelos tradicionais não dão conta da realidade. No planejamento e na formulação de políticas públicas, esse tipo de ferramenta é essencial, pois permite alinhar intenção e efeito mesmo quando as condições mudam e os resultados são parcialmente imprevisíveis.

Originalmente inspirada por reflexões filosóficas e paradoxos da literatura de ficção científica, essa noção assume aqui um novo papel: o de princípio heurístico para o planejamento e o fomento ao desenvolvimento. Ela parte de uma pergunta fundamental: uma política continua justificável quando seus efeitos anulam ou distorcem os fins que a motivaram? Em outras palavras, os resultados de uma intervenção pública ainda legitimam a motivação que a originou?

A Economia contemporânea já opera com modelos baseados em expectativas retroalimentadas, como no caso das expectativas racionais. Entretanto, a teoria da coerência motivacional retroativa sugere um passo além: considerar não apenas as consequências econômicas previstas, mas a manutenção ou transformação da motivação que justifica as decisões.

Políticas econômicas ou movimentos de mercado só se sustentam historicamente se os efeitos retroativos dessas ações reproduzem ou atualizam a motivação que as impulsionou.

Exemplo: Um país adota uma política de juros altos para conter a inflação. Se, de fato, a inflação cai, mas ao custo de uma recessão prolongada, desemprego em massa e precarização social, a motivação original — estabilizar a economia — pode perder sua legitimidade.

Nesse caso, os sujeitos sociais/agentes econômicos exigem mudanças, ou até reversão, na política econômica, mesmo que ainda esteja em curso ou até nem tenha completado/finalizado a sua atuação. Isto é, a ação entra em contradição retroativa: os meios deslegitimam o fim.

Esse critério permite uma avaliação histórica da legitimidade das políticas econômicas, não apenas em termos de eficácia técnica, mas de coerência estratégica ao longo do tempo.


1. A Crise da Causalidade Linear nas Políticas Econômicas

Grande parte da teoria econômica moderna opera com um modelo de causalidade linear: políticas geram efeitos que, por sua vez, são avaliados por indicadores. Entretanto, crises sucessivas — como a estagflação, o colapso financeiro de 2008, ou os efeitos distributivos regressivos de reformas estruturais — mostraram que resultados econômicos podem deslegitimar a intenção original de uma política.

A lógica da coerência motivacional retroativa propõe, nesse cenário, um teste de consistência estratégica ao longo do tempo. Uma ação econômica ou institucional só se sustenta se os contextos que ela gera ainda justificam a sua adoção — ou reconfiguram, de forma coerente, sua motivação inicial.

Esse problema decorre, em parte, da persistência do raciocínio causal linear e do uso sistemático do ceteris paribus nos modelos econômicos, que isolam variáveis como se o restante do sistema permanecesse inalterado. No mundo real, porém, as políticas públicas e as decisões econômicas operam em contextos dinâmicos e interativos, onde cada ação modifica as condições iniciais e afeta outras variáveis relevantes. A coerência motivacional retroativa se apresenta, nesse cenário, como uma alternativa mais adequada: ela rejeita a fixação artificial de parâmetros e propõe um critério de causalidade histórico-dinâmica, em que a ação só se justifica se seus efeitos preservarem — ou reconfigurarem de modo legítimo — a motivação que a originou.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Uma teoria dialética da coerência temporal com implicações para a economia, a história, a luta social (…e a ficção científica)

Por Almir Cezar Filho


Vivemos um tempo em que a realidade parece escapar pelas frestas e o futuro se dissolve em incertezas. Talvez, diante disso, devêssemos pausar e encarar uma pergunta incômoda: o que realmente justifica uma ação política ou histórica? Basta vencer uma batalha? Impedir uma medida regressiva é suficiente? Ou é preciso mais: garantir que nossas vitórias preservem, no tempo, a razão pela qual lutamos?

Hoje, a ação parece cada vez mais desconectada de suas consequências. O futuro, quando não é temido, é descartado. Crises superpostas, decisões apressadas, mobilizações frustradas e retrocessos disfarçados de avanços formam o pano de fundo deste cenário. O que, então, justifica uma ação histórica? Basta o êxito imediato ou devemos considerar se a vitória mantém viva a coerência com o projeto que a motivou?

Este ensaio propõe uma reflexão filosófica que parte de uma especulação provocadora — a hipótese da viagem no tempo — para propor uma teoria com implicações políticas, históricas e éticas: a da coerência motivacional retroativa. Inspirada nos paradoxos clássicos da ficção científica, essa hipótese convida a pensar não apenas sobre os limites da causalidade, mas sobre o próprio sentido das transformações que buscamos. O tempo, aqui, não é mero cenário das ações humanas, mas um espelho crítico que interroga: nossas ações ainda fazem sentido, depois de realizadas?

O paradoxo temporal — a possibilidade de uma viagem ao passado alterar o futuro a ponto de impedir a própria viagem — tornou-se um tema recorrente na ficção científica moderna. De O Exterminador do Futuro a Dark, de Looper a Interestelar, a obsessão narrativa por curvar, refazer ou corrigir o tempo expressa uma ansiedade histórica profunda da nossa era. Em tempos de colapso ambiental, instabilidade democrática e avanços tecnológicos acelerados, o desejo de voltar atrás e refazer bifurcações perdidas transformou-se num anseio coletivo, mascarado de entretenimento.

Porém, a ficção científica nunca foi apenas escapismo. Ela funciona como um laboratório filosófico da razão humana, onde hipóteses radicais são testadas em cenários simbólicos. Em um mundo que parece girar mais rápido do que nossa capacidade de compreendê-lo, a sci-fi fornece não apenas metáforas potentes, mas estruturas lógicas alternativas para pensar tempo, causalidade, responsabilidade e agência. Ao encenar paradoxos temporais, a arte nos ensina a enfrentar as contradições do presente com rigor e, quem sabe, a encontrar saídas.

Mais que um gênero, a ficção científica opera como dispositivo epistemológico e estratégico. Ela antecipa tecnologias, projeta sistemas sociais, modelos econômicos alternativos, cenários de escassez, colapso ou utopia — oferecendo ferramentas heurísticas a campos como a economia, a sociologia, o urbanismo, a engenharia e o planejamento político. Modelos econômicos pós-trabalho, sociedades baseadas em inteligência artificial, crises de recursos ou reorganizações estatais: tudo isso foi primeiramente explorado pela ficção, antes de se tornar pauta nos fóruns da política global.

Nesse sentido, a ficção científica também é um instrumento de luta para os movimentos sociais. Ao imaginar futuros possíveis — e, às vezes, futuros a evitar — rompe com o fatalismo histórico e o estreitamento do imaginário imposto pelas ideologias dominantes. Permite que os movimentos populares formulem estratégias de longo prazo, reconstruam narrativas e visualizem o impacto sistêmico de suas ações — inclusive em termos temporais: coerência entre meios e fins, entre causas e efeitos. O tempo, nesse contexto, deixa de ser fluxo linear e passa a ser campo simbólico e estratégico a ser disputado.

Falo também de um lugar pessoal. Desde a infância fui marcado pelas sagas de Star Wars e Star Trek. Em suas galáxias distantes e futuros especulativos, não vi apenas naves e batalhas, mas projetos de sociedade. Star Trek me apresentou, ainda criança, a ideia de uma federação interplanetária onde o conhecimento e a cooperação superam a escassez. Star Wars, por outro lado, me ensinou que impérios caem — mas apenas quando a resistência se organiza e ousa imaginar alternativas. Essas obras, embora distintas, foram decisivas para meu despertar intelectual, moldando meu interesse pela economia e meu posicionamento político à esquerda: crítico às desigualdades, atento às estruturas de poder e comprometido com a ideia de que outros futuros são possíveis — mas que é preciso agir com coerência entre o que se sonha e o que se constrói no tempo.

Assim, proponho uma provocação filosófica com consequências muito concretas: e se fosse possível voltar no tempo e mudar o passado, mas apenas se o novo futuro ainda justificasse a viagem no tempo que o provocou? Esse princípio evitaria os famigerados paradoxos temporais e preservaria uma lógica: o tempo pode mudar, mas não pode perder o sentido que o impulsionou. A coerência motivacional retroativa não precisa ficar restrita ao domínio dos paradoxos: ela oferece uma lente original para pensar a história, a economia e a conjuntura política.

VI. Conclusões

[...]

4. Tempo, sentido e compromisso

A metáfora clássica do tempo como uma linha reta já não dá conta da complexidade histórica contemporânea. A História não anda em linha: ela gira, bifurca, se dobra, e, frequentemente, nos obriga a retornar — se não fisicamente, como nas narrativas de ficção científica, ao menos simbolicamente, para corrigir, reavaliar e recolocar sentido onde ele se perdeu.

Talvez esta seja a verdadeira tarefa da política em tempos de crise:
agir com a consciência de que o tempo exige coerência.
Não é o futuro que redime o passado, mas a capacidade de manter viva a motivação histórica da ação, mesmo após os seus efeitos.

A coerência motivacional retroativa nos oferece mais do que uma teoria especulativa: oferece um critério ético e estratégico para evitar tanto o cinismo do poder quanto a ingenuidade do ativismo vazio.

Ela nos ensina que transformar o mundo não basta:
é preciso transformá-lo de tal modo que, ao olharmos para trás, ainda nos reconheçamos no gesto que o fez possível.


PARADOXOS TEMPORAIS: Causalidade retroativa, plasticidade do tempo e preservação motivacional



Uma Teoria Dialética heurística da Coerência Temporal com usos para a Economia, História, Luta Social (…e Sci-Fi)

Por Almir Cezar Filho

Assista também: https://youtube.com/shorts/MVdN4IDnXzM

Vivemos um tempo em que a realidade parece escapar pelas frestas e o futuro se dissolve em incertezas. Talvez, diante disso, devêssemos pausar e encarar uma pergunta incômoda: o que realmente justifica uma ação política ou histórica? Basta vencer uma batalha? Impedir uma medida regressiva é suficiente? Ou é preciso mais: garantir que nossas vitórias preservem, no tempo, a razão pela qual lutamos?

Hoje, a ação parece cada vez mais desconectada de suas consequências. O futuro, quando não é temido, é descartado. Crises superpostas, decisões apressadas, mobilizações frustradas e retrocessos disfarçados de avanços formam o pano de fundo deste cenário. O que, então, justifica uma ação histórica? Basta o êxito imediato ou devemos considerar se a vitória mantém viva a coerência com o projeto que a motivou?

Este ensaio propõe uma reflexão filosófica que parte de uma especulação provocadora — a hipótese da viagem no tempo — para propor uma teoria com implicações políticas, históricas e éticas: a da coerência motivacional retroativa. Inspirada nos paradoxos clássicos da ficção científica, esta hipótese convida a pensar não apenas sobre os limites da causalidade, mas sobre o próprio sentido das transformações que buscamos. O tempo, aqui, não é mero cenário das ações humanas, mas um espelho crítico que interroga: nossas ações ainda fazem sentido, depois de realizadas?

O paradoxo temporal — a possibilidade de uma viagem ao passado alterar o futuro a ponto de impedir a própria viagem — tornou-se um tema recorrente na ficção científica moderna. De O Exterminador do Futuro a Dark, de Looper a Interestelar, a obsessão narrativa por curvar, refazer ou corrigir o tempo expressa uma ansiedade histórica profunda da nossa era. Em tempos de colapso ambiental, instabilidade democrática e avanços tecnológicos acelerados, o desejo de voltar atrás e refazer bifurcações perdidas transformou-se num anseio coletivo, mascarado de entretenimento.

Porém, a ficção científica nunca foi apenas escapismo. Ela funciona como um laboratório filosófico da razão humana, onde hipóteses radicais são testadas em cenários simbólicos. Em um mundo que parece girar mais rápido do que nossa capacidade de compreendê-lo, a sci-fi fornece não apenas metáforas potentes, mas estruturas lógicas alternativas para pensar tempo, causalidade, responsabilidade e agência. Ao encenar paradoxos temporais, a arte nos ensina a enfrentar as contradições do presente com rigor e, quem sabe, a encontrar saídas.