“A Economia e a Revolução”:
Uma teoria da crise e do desenvolvimento econômico
por Almir Cezar Filho*
Introdução
Nessas quase uma década e meia, a crise econômica mundial surgida pelo estouro da bolha imobiliária estadunidense (2008) lembrou ao mundo que o Capitalismo sempre viveu imerso (ou sob a ameaça) a recorrentes crises. A relação entre crise e ciclos econômicos e o desenvolvimento do capitalismo é um tema palpitante, especialmente no período de uma crise.
Por sua vez, todos aqueles que sonham e lutam contra esse regime social de produção sabem que nessas circunstâncias de fragilidade este fica mais vulnerável a questionamentos e ataques. Contudo, a superação do Capitalismo segundo o marxismo se faz no sentido de edificar a sociedade socialista e através da revolução proletária. Contudo, apesar dessa compreensão, um contingente de marxistas estabelece uma vinculação equivocada entre a crise e a revolução.
Esta compreensão gera, com certeza, distintas caracterizações sobre o momento histórico em que vivemos. Ainda mais, à medida que, apesar da conjuntura internacional ser de franca instabilidade, o cenário a favor dos socialistas aparentemente caminha no sentido oposto. Apesar de sabermos que em algum momento essas trajetórias se convergiram, fica aberto, por um lado, saber se a situação seria propícia a revolução ou não, e por outro lado, se as circunstâncias existentes atualmente no plano internacional abriram à perspectiva da revolução pelo mundo.
O revolucionário León Trótski sempre expressou a questão sobre a estabilidade e o equilíbrio dinâmico do Capitalismo e o papel dialético da crise e da revolução na dinâmica do desenvolvimento econômico e social desse. Em seus textos, particularmente nos anos subsequentes ao ano de 1921, momento em que parecia que o Capitalismo estava recuperando-se da Grande Guerra e da vaga revolucionária ao seu fim, ali ele exprime sua preocupação entre os rumos do Capitalismo Mundial e a relação dialética entre luta de classes, ciclos industriais e possibilidades de longo prazo do desenvolvimento capitalista.
Os textos da década de 1920 dão uma compreensão distinta do que a militância socialista costuma supor entre a natureza da crise capitalista, a relação entre crise e boom, crise e revolução e o próprio papel da luta e organização proletária como deflagradora das crises (na trajetória inversa que o socialismo vulgar sempre supõe ser).
Nesse sentido, é importante apresentar metodologicamente a partir das passagens apanhadas dos vários textos, a análise mais abstrata de Trótski a respeito do equilíbrio dinâmico do capitalismo, o processo revolucionário e a circunstância do desenvolvimento econômico, e a partir daí possibilitar em um segundo momento uma análise mais concreta da presente situação mundial e nacional e de suas perspectivas a luta revolucionária.
I. Flutuações, ciclos e tendências no sistema socioeconômico
Uma abordagem marxista sobre crise capitalista sempre encontrou tratamento no fenômeno dos ciclos econômicos. Explicava-se assim que as flutuações da dinâmica do sistema se dão de maneira cíclica, numa sucessão de crise e boom, que ocorrem periodicamente. Dentro dessa perspectiva cíclica, a raiz encontra-se nas próprias obras de Marx e Engels. Mas como tudo desses dois autores, abre-se a interpretações, complementações, revisões, atualizações, e esse tema não seria diferente, muito pelo contrário.
