segunda-feira, 28 de maio de 2012

Itaboraí, cidade em mudanças pelo Comperj. Nem todas boas para os trabalhadores.

por Almir Cezar*

Itaboraí, a  cidade-sede do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), prepara-se a dar um salto econômico e social. Contudo, nem tudo são flores, muito pelo contrário. Há e haverá muito impacto negativo, desde alta nos preços dos imóveis e aluguéis, ampliação da criminalidade urbana e da precariedade do trabalho. Antes mesmo do início do funcionamento do Comperj.

O Comperj mudará o panorama não só de Itaboraí, mas de toda a região Leste Fluminense, que agrega os municípios de Niterói, São Gonçalo, Maricá, e outros até a região dos Lagos. Situado em uma área de 45 quilômetros quadrados do município, o empreendimento é o maior investimento da história da Petrobras e o maior na área industrial em andamento no país.

A cidade está na 66ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre os 92 municípios fluminenses, e possui um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 1,7 bilhão e, por conta do Comperj e das indústrias que irão se instalar na região, a previsão é que o PIB se eleve 10 vezes, levando Itaboraí para o segundo lugar no Estado, atrás apenas da capital. Para os próximos 10 anos, a expectativa do município é que a população saia de 218 mil, segundo dados levantados pelo último censo do IBGE, para 1 milhão de habitantes.

Contudo, nem tudo são flores para a cidade com o advento do Comperj, muito pelo contrário. Há e haverá muito impacto negativo. Antes mesmo do início do funcionamento do Comperj, a cidade passa por sérios problemas, desde alta nos preços dos imóveis e aluguéis, ampliação da criminalidade urbana e precariedade do trabalho. Resultantes inclusive,do impacto da suas obras, agravado pelo péssimo tratamento dado pelas empreiteiras aos operários, cujo sindicato e CUT os abandona sistematicamente, e a Petrobras ignora. Recentemente, o canteiro das duas refinárias e central petroquímica passou por intensas e radicalizadas greves.

O Comperj
O complexo petroquímico terá duas refinarias, cada uma vai processar 165 mil barris/dia de diesel, gasolina, querosene de aviação e gás liquefeito de petróleo, e uma central petroquímica. Haverá ainda uma Central de Utilidades (UTIL) responsável pelo fornecimento de água, vapor e energia elétrica para a operação de todo o complexo. Além das refinarias em Itaboraí, o município de São Gonçalo terá instalada uma central de Escoamento de Produtos Líquidos do complexo e o Centro de Integração do Comperj, já inaugurado.

Segundo expectativas da Petrobras, o Comperj deve gerar um faturamento anual em torno de US$ 5,8 bilhões. O polo deve ser totalmente concluído em 2018 e tem capacidade prevista para processar 330 mil barris de petróleo por dia.

Segundo a Petrobras atualmente cerca de 15 mil operários trabalham na construção do polo. No pico das obras a previsão é que mais de 25 mil pessoas trabalhem para erguer o complexo. Espera-se que esses trabalhadores sejam absorvidos no mercado local após as obras. O polo deve gerar entre empregos diretos, indiretos, e efeito renda, 200 mil postos de trabalho.

(*) Texto e dados com base a seguintes fontes: Jornal O Fluminense (21/05/2012) - "Cidade de Itaboraí a um passo de se tornar a segunda economia do estado"; Portal do IBGE; Portal do Conleste.

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Comperj em greve: “Já que o sindicato não pára, nós paramos”

Trabalhador em greve do Comperj fala ao Portal do PSTU durante do Congresso da CSP-Conlutas



Portal do PSTU

Buca
Operários em greve no Comperj

• Como tantos outros da cidade de Itaboraí (RJ), C.D.O (manteremos apenas as iniciais a fim de evitar represálias por parte das empresas) largou o antigo emprego em busca de um salário melhor com o início das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), uma gigantesca estrutura que abrange duas refinarias e uma plataforma petroquímica, com previsão para começar a operar a partir de 2014. Será a maior petroquímica da América Latina.

A obra, uma das principais do PAC, é de responsabilidade da Petrobrás, mas reúne mais de duas dezenas de grandes consórcios. Está parada desde o dia 9 de abril, quando os cerca de 15 mil trabalhadores resolveram cruzar os braços.

Assim como ocorre em outras grandes obras do PAC, os operários exigem melhores salários e condições de trabalho, e batem de frente com a direção do sindicato e a intransigência das empreiteiras. Durante o congresso da CSP-Conlutas, o Portal do PSTU conversou com C.D.O., que relatou o sentimento de revolta dos trabalhadores, tanto em relação aos consórcios quanto à atuação do sindicato, atrelado às empresas.

Explica como começou essa greve no Comperj
Desde novembro nós vínhamos fazendo paralisações, reivindicando melhores salários, aumento do nosso visa-vale, a contratação de mulheres e homossexuais, que hoje não são contratados no Comperj. Mulher lá só para limpar o chão. Mas existem mulheres na construção civil, mulheres carpinteiras... mas lá eles não contratam. São questões que, juntamente com o alojamento para quem vem de fora, vínhamos reivindicando. Mas em novembro essa nossa paralisação foi considerada ilegal. Fizemos outra em janeiro, que também foi considerada ilegal. Em fevereiro, antes do carnaval havia uma assembleia marcada, mas o sindicato não quis realizá-la. O sindicato lá é um sindicato que joga contra nós. É um sindicato da CUT, dirigido por seu Manuel Vaz, conhecida como “Manuelzim”, que não está do nosso lado, mas do lado da Petrobrás.

Aí então os funcionários de uma firma lá de dentro, chamada Alusa, fez um manifesto e uma paralisação e com isso foi atingindo outros canteiros para parar também. Já que o sindicato não pára, nós paramos. Aí parou o canteiro do consórcio da SPE. Com isso foi aumentando o movimento, até chegar à TEAG (maior consórcio). Lá teve umas pessoas que aderiram ao movimento, e outras não, houve até uma pancadaria que morreram dois. A Petrobrás abafou e o sindicato nem toca nesse assunto. Não chegou na mídia. Ninguém viu a Globo ou a Record falando. Mas morreram dois trabalhadores em fevereiro.

Como essa paralisação cresceu até parar totalmente o Comperj?
Como nossa paralisação começou lá dentro, o sindicato teve que apoiar o nosso manifesto. Mas aí a nossa paralisação foi novamente considerada ilegal. Mas dia 9 paramos novamente, publicamos em edital, e essa é considerada legal. Está tendo piquete todos os dias, está tudo parado lá. E a gente não volta enquanto não tiver o nosso aumento de 12%, o aumento do visa-vale, alojamento para quem vem de fora e a contratação de mulheres e homossexuais.

Como são as condições de trabalho e moradia lá?
O que o sindicato fala é que as firmas lá são obrigadas a colocar alojamento para quem vem de fora. Mas esses alojamentos não comportam tanta gente. Vem gente do Nordeste, de São Paulo, do país todo. Então, muitas firmas não dão alojamento e a pessoa é obrigada a pagar aluguel. Chegam a morar vinte em uma kitinete. Tem gente dormindo no quintal. E os imóveis de Itaboraí , com essa procura, aumentou demais. Um aluguel de uma kit não sai por menos de mil reais! Outro direito que deveriam dar ao funcionário que vem de fora era passagem para ele visitar sua família. Tem firma que até dá isso, mas só para quem está no alojamento. E quem foi obrigado a alugar uma kitinete? Por que esse não tem direito? Tem que ter também. E aí é difícil você chegar e falar ‘o sindicato vai lutar por isso’. O sindicato joga contra! Vai lá em cima, fala um monte de coisa e nada sai no papel. Desce do carro de som e vai falar com a Petrobrás. É piquete sendo vendido...

Como os consórcios vem tratando as reivindicações?
Quando tem assembleia, eles mandam ônibus só na ida. Pra voltar, tem que ir a pé. O pessoal de Niterói não está podendo ir à assembleia porque não estão botando ônibus pra voltarem. Eu por exemplo moro no centro de Itaboraí. A assembleia é na ‘Reta’, caminho para o Comperj. Preciso voltar a pé. Eles descontam nosso salário por causa da greve, acaba faltando dinheiro para pagar passagem pra voltar. Além disso tudo, somos obrigados a chegar lá e ouvir as mentiras do sindicato, nada resolvido, e ainda voltar a pé? Agora, não era para o sindicato bater em cima disso daí? Exigir ônibus? Às vezes tem uns motoristas que são legais e levam a gente, mas essa não é a ordem lá.

Qual é o sentimento dos operários lá, tanto em relação ao sindicato quanto às empresas?
Em relação ao sindicato é só revolta. Porque nosso movimento vem desde novembro e até hoje não foi nada resolvido. Cinco meses cara! A gente só vem levando! No começo pedíamos 18% de aumento, o sindicato sem consultar ninguém baixou para 12%, mas as empresas só querem dar 9%. Agora vou te dizer, se eles aceitarem dar 12% o pessoal só entra porque se não vai ter desconto, demissão, por que se não..

Houve demissões nessas paralisações que já aconteceram desde novembro?
Rapaz, houve demissões inclusive de pessoas que eram da comissão de negociação. E o sindicato nada fez! Tem um rapaz lá chamado ‘Mineiro’, que era da comissão, uma das pessoas que mais falavam no carro de som. Ele era da TEAG e foi mandado por embora por justa causa. E o sindicato nada fez pelo Mineiro. Por que o sindicato não luta pelo coitado do Mineiro? E o cara está lá desempregado...

Houve alguma manifestação do governo em meio a esses conflitos?
Nenhum político do Rio ou Itaboraí se manifesta. Nenhum! A nossa esperança é que agora tem algumas pessoas da CSP-Conlutas que estão indo lá. Tem o Buca (André Bucaresky, dirigente do Sindipetro/RJ), o Atnágoras foi lá. Isso aí levantou uma esperança. Com essas pessoas aí, o sindicato já fica com medo, pois sabe que nós não estamos sozinhos. Tem gente do PSTU que está ajudando a gente. Gente da CSP-Conlutas que sobe no carro de som. Tem gente ali lutando por nós. Isso amedronta o sindicato.


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Sugestão de leitura:

Niterói, da "re-qualificação" aos dilemas da re-industrialização

Um comentário:

  1. Fico indignado com tanta mentira. Amo o Brasil. Faria de tudo por ele, mas por nossos compatriotas, tenho vergonha de ser brasileiro.
    Queria saber porque eles dizem que irão abrir vagas locais, se eu sou prova viva, que ñ é bem assim. Fiz curso de caldeireiro pelo próprio promimp, estimulado pelo governo. Entre 3 outros cursos na área de metalurgia. Vou ver vagas e dizem: tem experiência, esta dentro. Do contrário, está fora. Me ajudem ai pô. Ai vem gente de outros estados,nada contra, e tomam as vagas. Meu numero da oi:8597=2895
    Vivo:7679-8746 Um abraço

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