No ultimo dia 06 de junho, no IFCS/RJ, foi realizada a primeira RAC (Reunião Ampliada de Comunicadores/as) do coletivo Pela Moradia. O objetivo do encontro foi debater a importância da comunicação para o fortalecimento da luta por moradia e ampliação das mobilizações em torno desta bandeira. A reunião contou com a presença de diversos militantes ligados à luta pela democratização da comunicação e por uma cidade mais justa, como o Centro de Mídia Independente, Espaço IP, Justiça Global, Jornal Cidadão, Blog Limiar e Transformação, Agência Pulsar, Fase, MNLM, Universidade Nômade, Rádio Madame Satã, Radio Pulga entre outros.
No encontro foi debatida a importância da criação de uma agência de notícias sobre as lutas ao redor do direito à moradia. Foi encaminhado também a construção de cartografias que sirvam para a denúncia dos impactos sobre a moradia popular e as mobilizações que têm foco nesse tema. Além de questões internas visando a organização do embrião dessa agência de notícias, foram divididas também algumas atividades a serem cobertas.
O blog Pela Moradia – http://pelamoradia.wordpress.com – surgiu para denunciar as atrocidades cometidas pelo poder público em conjunto com as empreiteiras contra a população pobre e prestar apoio e solidariedade às ocupações urbanas. O eixo central é, portanto, a luta por moradia. E não se trata de sobrepôr o blog a outros importantes canais de comunicação alternativa que já existem. Longe disso, a proposta do Pela Moradia é, por um lado, agregar e documentar as produções e denúncias de ataque a esse direito fundamental. Por outro, empenhar-se na produção própria de informação – inclusive como estratégia de divulgação e incentivo à comunicação independente e popular. Buscar fazer, afinal, com que a comunicação rompa as amarras da simples divulgação e passe a cooperar mais diretamente para os processos de mobilização.
A “questão da habitação” no Brasil diz respeito diretamente ao grande déficit habitacional do país. Também não é novidade alguma o fato desse déficit atingir principalmente as classes populares. Assim, o “problema da moradia” da população de baixa renda sempre dependeu de alternativas populares para ser resolvido. Nunca houve e ainda não existe qualquer projeto de habitação popular que efetivamente dê conta de sanar esse crescente problema. Para ocupar a cidade, as soluções históricas têm sido conquistadas através da ocupação de encostas, áreas alagáveis e terrenos risco para a construção de casas. Durante bom tempo, as habitações coletivas nas áreas centrais da cidade também cumpriram esse papel (os famosos “cortiços”). E mais recentemente a ocupação de prédios abandonados no Centro e áreas próximas do Rio de Janeiro também veio se juntar às alternativas de moradia das classes populares.
Estas opções estão atualmente sendo ameaçadas por um feroz mercado imobiliário, recentemente impulsionado de ao menos três maneiras: pelas mais recentes crises econômicas dos países “do norte” (concomitante à emergência das novas centralidades mundiais, como o próprio Brasil), o que redirecionou o foco dos investimentos internacionais; pelos incentivos públicos diretos do governo Brasileiro a essa fração do mercado (em especial através do programa “Minha Casa, Minha Vida”); e pelos grandes eventos, modalidade de produção do espaço urbano que não só acirra a fragmentação social e espacial da cidade como também garante o repasse de verbas públicas à iniciativa privada (aumentando a concentração de renda). A intensificação dos despejos e remoções, não só de casas em área de risco, como de comunidades inteiras, com o objetivo de maquiar a cidade para os megaeventos, gerou um aumento das demandas sociais e políticas na cidade – em especial no que envolve a moradia. No mesmo contexto está a alta valorização imobiliária recente, responsável também pela famosa “expulsão branca” da população de baixa renda de áreas da cidade de maior interesse para o mercado. Hoje o déficit habitacional no Brasil é de cerca de 8 milhões de residências. Em 2020, segundo a Fundação Getúlio Vargas, esse número pode chegar a 28 milhões.
Porém, bem se sabe que o grande papel dos meios de comunicação nesse processo vem acompanhado da sua enorme concentração nas mãos de poucos empresários do setor. Uma realidade que se repete das mais amplas às mais próximas escalas, guardadas as proporções e particularidades. O controle das comunicações por pouquíssimas empresas (um verdadeiro oligopólio midiático) é mais um fator que engrossa a justificativa da construção de veículos de mídia alternativa e independentes de amarras econômicas e político-partidárias. Este é o caso do Pela Moradia e de tantos outros canais, engrossando as fileiras das exceções que se levantam contra o silêncio que a mídia comercial acaba impondo.
Para ajudar nesse caminho, são necessárias e urgentes mais cabeças, mãos, sonhos e vontades de fazer. Por isso, convidamos todas as pessoas interessadas e que se identificam com a proposta para a 2º RAC – Pela Moradia, marcada para o dia 4 de julho, às 18:30, no IFCS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário