A tese de que o Brasil viveria um superaquecimento da economia implica a remoção do período mais agudo da crise das estatísticas da economia do país. Enquanto muitos economistas projetem que a indústria teria crescimento de 11% a 13% em 2010, pouco ressalvam que esse incremento se dará sobre uma base comprimida, pelo encolhimento de 7,4%, em 2009. Feito o desconto, tem-se uma indústria que avançaria 5% a 6%, avanço longe de poder ser considerado espetacular.
"Os progressistas"
Com o Governo Lula aproximando-se do fim, cresce o número de economistas que, se reivindicando desenvolvimentistas, defendem cortes drásticos nos gastos públicos como uma espécie de swap com a nova escalada da taxa básica de juros (Selic) que o Banco Central ameaça perpetrar. Argumentam que, além de substituir com vantagens o aumento dos juros, a tesourada nos gastos teria efeito mais imediato para inibir o crescimento. Ao aceitarem a condução do debate nesses termos, consciente ou inconscientemente, reforçam o argumento meirelliano de que o Brasil estaria fadado a taxas de crescimento medíocres, contrariando as médias históricas atingidas durante meio século, entre 1930 e 1980; a partir desta década, a adesão a políticas anticrescimento cresceu no país.
Não é preciso ter lido Keynes para, como ensina um homem prático, como o vice-presidente José Alencar, entender que nosso país padece de subconsumo e não de crescimento excessivo. Com carências seculares e produção constrangida por um mercado interno de baixa elasticidade, é natural que qualquer estímulo ao aumento do consumo, via alta real do salário mínimo ou da expansão do crédito, tenha respostas imediatas da demanda. Tal incremento, no entanto, é bastante distinto do observado em mercados maduros, nos quais grande parte das necessidades básicas e mesmo de consumo de bens duráveis estão, em essência, atendidos - noves fora, claro, os bolsões de pobreza mantidos longe dos olhos do público interno e externo.
Quando economistas do mercado financeiro defendem a patuscada de que, via alta do juros e/ou do corte de gastos públicos, o crescimento brasileiro deve ser limitado a suposto PIB potencial de 3%, cumprem um script a serviço de interesses bastante bem definidos: limitar o avanço do setor produtivo, para que continue a cevar rentistas e especuladores, que, anualmente, amealham um Bolsa Juros na faixa de R$ 160 bilhões. Qualquer avanço acima desse patamar, bem como a ampliação dos gastos públicos em infra-estrutura e políticas sociais, representa uma trava na transferência de recursos para o setor financeiro.
E quando economistas que se reivindicam progressistas argumentam que essa equação seja mantida via cortes de gastos públicos? Qual é sua intenção? Capitulação ideológica ou manutenção das franjas que ocupam distantes do centro decisório do governo?
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