Em meio a onda de mobilizações que varre o Brasil, em que os manifestantes até mesmo criticam os velhos aparatos organizativos da classe trabalhadora, é preciso analisar cientificamente como ocorreu a degeneração desses importantes instrumentos das últimas 3 décadas, como a CUT, UNE, MST, a partir de como era sua dinâmica interna. Assim, é pertinente o lançamento do livro “Novo sindicalismo no Brasil – histórico de uma desconstrução”, de Teones Pimenta de França (editora Cortez), que busca através da análise, essencialmente, sobre as visões de algumas correntes internas à CUT nos anos 1988-2000 (Articulação, Cut Pela Base/ASS, Corrente Sindical Classista e Convergência/MTS) desconstruir a propalada crise do sindicalismo que surgiu em fins da década de setenta do século passado se autointitulando como “novo”.
Assim, procura-se observar como esse sindicalismo transmuta-se de uma postura crítica ao capital e ao Estado em seu nascedouro para uma postura conformada diante de ambos a partir da chegada ao Brasil das recentes transformações na produção, após Collor, e da sua gradativa institucionalização à ordem vigente. Nesse retorno ao nosso passado recente conseguimos verificar a formação de certas propostas políticas que serão colocadas em prática pelo Executivo brasileiro nos últimos dez anos de governo petista.
Seguem abaixo a orelha e apresentação do livro escritas, respectivamente, pelos professores Marcelo Badaró e Ricardo Antunes.
Transcorridas três décadas depois do nascimento do novo sindicalismo no Brasil, cujo marco pode ser datado com a criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983, muitas foram as suas metamorfoses e mutações. O projeto inicial estruturado com base no sindicalismo de classe, autônomo em relação à estrutura sindical e independente em relação ao ideário dominante, deu lugar a algo que, em muitas de suas dimensões, é quase o seu oposto.
Preservou-se muito da velha estrutura sindical atrelada ao estado, com sua feição burocratizada e cada vez mais verticalizada; manteve-se sua dependência em relação às verbas estatais (como o imposto sindical e FATs), para não falar da sua conversão em participes dos fundos de pensão e seu mercado de capitais.
Um sindicalismo negocial, cada vez mais baseado nas parcerias, acabou, finalmente, tornando-se dominante. Foi exatamente para procurar auxiliar na compreensão deste fenômeno que Teones França oferece o seu livro NOVO SINDICALISMO NO BRASIL: histórico de uma desconstrução.
Voltar “ao passado e tentar encontrar pistas para a explicação de indagações postas pelo presente” foi, como diz o autor, seu objetivo primeiro. Empreitada necessária para todo/as que querem fazer florescer outro tipo de sindicalismo.
Aqueles que como eu conheceram o sindicalismo brasileiro nos anos 1980 acostumaram-se a ver um polo mais combativo, com um discurso fortemente marcado pela defesa da autonomia de classe perante o Estado e os interesses patronais. Aquele polo, responsável por milhares de greves, tinha uma direção claramente identificada na CUT. Isso deve ser difícil de acreditar para um observador que só tenha sido apresentado ao sindicalismo cutista nestes nossos tempos de comportamento “colaborativo” com o governo e os patrões. O livro de Teones França é uma leitura obrigatória para quem quer entender as razões de tal contraste. Das condições materiais da chamada reestruturação produtiva, aos fatores da subjetividade política das lideranças que explicam a mudança nas relações com o Estado, sem descuidar dos referenciais que o ajudam a entender o potencial e os limites do sindicalismo, Teones nos apresenta um roteiro fundamental para compreendermos para onde foi o novo sindicalismo.
Marcelo Badaró Mattos
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