O discurso apartidário minoritário, mas frequente pelas recentes marchas pelas cidades brasileiras, tem ajudado os setores ligados ao anarquismo a se fortalecer em algumas mobilizações. Infelizmente esse novo anarquismo não tem relação com a honrada tradição anarquista do fim do século XIX e início do XX. O novo anarquismo é burocrático e autoritário no trato com as entidades e organizações partidárias da classe trabalhadora. Nas passeatas e atos, em vez do enfrentamento com a polícia, alguns setores anarquistas preferem o enfrentamento com os ativistas que carregam bandeiras de partidos. Não raros são os casos de aliança desses setores com a direita apartidária, não apenas nas marchas, mas também no cotidiano político nas entidades estudantis e sindicais.
Sugerimos aos companheiros leitores do blog um livro (infelizmente em espanhol), gratuito na internet, escrita pelo economista bolchevique Evgene Preobrazhenski, Anarquismo e Comunismo, escrito em 1921 bem no calor dos enfrentamentos entre os comunistas e anarquistas pelo comando e rumos da Revolução Russa. Em meio as polêmicas surgidas em torno à Revolta de Kronstadt, o livro polemiza com o movimento anarquista sobre transição ao socialismo.
A revolta era um forte movimento operário-popular em reação às políticas econômicas realizados no período do Comunismo de Guerra. Os anarquistas, conduziram a insatisfação das massas com a penúria econômica vivida naquele momento, associando-a a uma crítica à condução e organização da transição ao socialismo empreendida pelo governo bolchevique dos Sovietes.
Eugene Preobrazhenski |
Os bolcheviques, que logo mudariam seu nome para "comunistas", seguiam a tradição marxista. Preobrazhenski, um dos diretores da Academia de Ciências, era da equipe de formação do partido, e escreve nesse momento para capacitar os membros do Partido Comunista contra os ataques políticos e ideológicos realizados pelos anarquistas em virtude da reação do governo soviético, dirigido pelo Partido.
O livro analisa aspecto-a-aspecto as concepções econômica, moral e política entre os anarquistas e os comunistas, especialmente entre as diferenças de política e direção econômica expressa na literatura anarquista. Preobrazhenski recorre ao exame de autores clássicos anarquistas como Kropotkin, Bakunin e Prodhoun, confrontando-a com a literatura marxista, e também com a realidade concreta soviética daqueles anos.
Preobrazhenski ainda recapitula, que três anos antes (1917), os anarquistas, devido o seu individualismo metodológico, programático e organizativo e o idealismo teórico, ficaram oscilando entre o centrismo e o radicalismo intransigente, que se não fosse a liderança dos bolcheviques-comunistas à frente dos Sovietes, teriam posto à Revolução Russa a perder. E que nesse novo momento, à revolução deveria seguir o programa político e econômico dos comunistas, muito mais consequente na construção do socialismo na Rússia, e sustentar o país enquanto a revolução pelo restante no mundo ainda não triunfara.
Para ler o livro acesse aqui:
Nenhum comentário:
Postar um comentário