Nos últimos meses vários analistas da velha lógica burguesa já admitiam, aquilo que economistas das escolas críticas na época apontavam. Mas agora o próprio o Fundo Monetário Internacional (FMI) admite "falhas notáveis" no plano de resgate da Grécia promovido pela instituição em conjunto com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE), a chamada Troica, que superou 100 bilhões de euros. Em documento divulgado na quarta-feira (04/06), o Fundo reconhece que "a confiança dos mercados não foi restabelecida, o sistema bancário perdeu 30% dos seus depósitos e a economia teve uma recessão mais profunda que a esperada, com desemprego excepcionalmente alto". A instituição reconheceu que a reestruturação da dívida deveria ter ocorrido antes.
Em 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) grego estava num nível 17% inferior ao registrado em 2009, muito abaixo dos 5,5% projetados originalmente pelo programa em 2010. As projeções para o desemprego também se mostraram otimistas demais. Em 2012, a taxa ficou em 25%, 10 pontos percentuais a mais do que os 15% estimados inicialmente. Hoje, está em 27%, atingindo mais de 60% entre os jovens.
O FMI observa que "a dívida pública prosseguiu alta e no fim teve que ser reestruturada, com danos para os balanços dos bancos que já estavam enfraquecidos pela recessão. A competitividade melhorou um pouco devido aos salários em queda, mas reformas estruturais pararam e os ganhos de produtividade se mostraram ilusórios". Mesmo assim, o FMI considera que, dado o risco de contágio, o programa foi uma necessidade, dado o risco de contágio, apesar dos receios da instituição quanto à sustentabilidade da dívida.
Apesar do "mea culpa", o FMI também aponta o que avalia como "sucessos notáveis" do programa. "Uma forte consolidação fiscal foi alcançada e colocou-se o sistema de previdência num caminho viável. A Grécia continuou na zona do euro, o que era a sua preferência política. Transbordamentos que poderiam ter provocado um efeito grave sobre a economia global foram relativamente bem contidos, ajudados por esforços multilaterais para construção de uma blindagem", aponta o documento.
O relatório ressalta ainda "possíveis lições" com a experiência do pacote grego. Entre elas, destacam-se a importância de uma melhor adaptação das políticas de empréstimo do FMI às circunstâncias de uniões monetárias, assim como evitar atrasos indevidos na reestruturação da dívida. Maior atenção à economia política do ajuste e mais parcimônia em reformas fiscais estruturais também são vistas como lições do caso grego. Para este ano, o FMI estima uma contração de 4,2% para o PIB da Grécia, depois de encolher 6,4% no ano passado.
Na reunião mais recente da diretoria do Fundo sobre a situação da economia grega, a diretoria-executiva do Brasil e de mais dez países no FMI apresentou um documento com críticas ao programa para a Grécia. Segundo a diretoria comandada por Paulo Nogueira Batista Jr., um caminho mais gradual de consolidação fiscal, com menos peso sobre o crescimento, teria sido possível, "especialmente se atrasos indevidos na reestruturação da dívida tivessem sido evitados".
O documento lembra que a diretoria-executiva do Brasil e dos outros dez países havia defendido anteriormente que o envolvimento do setor privado desde o começo teria sido preferível. "Apesar disso, levou mais de um ano e mais de € 100 bilhões de dívida grega acumulada pelo BCE, governos da zona do euro e do FMI para que as autoridades europeias e o FMI finalmente admitissem a necessidade desse envolvimento", diz o documento, ressaltando ainda ter tido desde o começo uma visão crítica sobre "a aplicação dos critérios excepcionais de acesso no caso da Grécia".
Com informações:
"FMI admite erros no socorro à Grécia" | por Sergio Lamucci | jornal Valor Econômico (06/06/2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário