Estudo do FMI prevê: embora desigualdades perdurem,
periferia do planeta cresce mais e produzirá, pela primeira vez,
maior parte da riqueza econômica mundial
Por José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate
O ano de 2013 vai marcar um acontecimento histórico. Pela primeira vez, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países em desenvolvimento vai ultrapassar o PIB dos países desenvolvidos, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O PIB mundial em 2012 era de 71,3 trilhões de dólares em dólares correntes e de 82,8 trilhões de dólares internacionais, quando se usa a metodologia do poder de paridade de compra (ppp). As economia avançadas (ricas) representavam 50,2% do total da economia mundial com uma população de 1,1 bilhão de habitantes e uma renda per capita anual de 40,3 mil dólares (ppp). As economias em desenvolvimento representavam 49,8% do PIB mundial, com uma população de 6 bilhões de habitantes e uma renda per capita de 7 mil dólares (ppp).
Em 2013 o PIB mundial deve atingir 74,1 trilhões de dólares correntes e 86,8 trilhões de dólares internacionais (ppp). As economia avançadas devem cair para 49,2% do total da economia mundial com uma população de 1,1 bilhão de habitantes. Mas a renda per capita anual deve subir, em valores correntes, para 41,2 mil dólares (ppp). As economias em desenvolvimento devem chegar a 50,8% do PIB mundial, com uma população de cerca de 6 bilhões de habitantes e uma renda per capita de 7,4 mil dólares (ppp).
Portanto, os países em desenvolvimento (do “Sul econômico”) devem aumentar cerca de 1% do PIB mundial no espaço de um ano, ultrapassando pela primeira vez os países ricos (do “Norte econômico”) na divisão do bolo da economia internacional (é o chamado “rise of the rest”). Isto acontece porque os países em desenvolvimento, embora muito mais pobres em termos de renda per capita, estão apresentando taxas de crescimento anual mais elevadas. Em 2012, o PIB
dos países ricos cresceu somente 1,3% e as previsões apontam para 1,5% em 2013. No mesmo período o crescimento anual da economia dos países em desenvolvimento deve ficar nas seguintes percentagens: 5,3% em 2012 e 5,6% em 2013.
Aparentemente, o mapa mundi está virando de ponta cabeça, com os países em desenvolvimento indo de baixo para cima. Porém, alguns autores, mesmo reconhecendo um certo processo de convergência, consideram que são poucos os países que estão conseguindo avanços significativos no longo prazo. Outros tendem a ficar presos na chamada “armadilha da renda média”. É pequeno o número de países que se capacitam para sair de um grupo para o outro, mas pelo menos as desigualdades não estão aumentando como no século passado.
Evidentemente, qualquer redução das desigualdades de renda entre as regiões desenvolvidas e em desenvolvimento – processo de convergência – é uma boa notícia. A média da renda dos países ricos tem crescido a um ritmo lento, enquanto a renda média dos países em desenvolvimento (liderados pela China e um pouco menos pela Índia) tem crescido a um ritmo bastante acelerado. Neste ritmo, os países em desenvolvimento devem alcançar dois terços do PIB mundial antes de 2030. A OCDE prevê que, até 2025, o PIB (em ppp) da China e da Índia irá ultrapassar o PIB do G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá). Contudo, as grandes diferenças na renda per capita entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, mesmo que em menor dimensão, devem continuar ao longo das próximas décadas e uma parcela grande de países muito pobres continuam sem perspectivas à vista.
Do ponto de vista do meio ambiente, o baixo crescimento dos países ricos é uma boa noticia, pois já existe um déficit ambiental muito grande entre a pegada ecológica e a biocapacidade das economias avançadas. O fim do crescimento econômico nestes países pode contribuir para reduzir as inúmeras agressões aos ecosistemas naturais e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Do ponto de vista da redução da pobreza o alto crescimento econômico de alguns países em desenvolvimento pode ser considerado uma boa notícia. Contudo,
o crescimento populacional e econômico dos países em desenvolvimento vai colocar um grande pressão sobre o meio ambiente. E para agravar a situação, diversos países – como a China – estão transformando suas tradicionais economias agrárias e rurais (de baixo consumo) em economias urbano-industriais altamente dependentes de carros e energia fóssil, com alto consumo conspícuo e elevada emissão de gases de efeito estufa.
Esta nova realidade da economia internacional apressa a necessidade de se avançar com as seguintes tarefas mundiais: reduzir os níveis de pobreza e desigualdade social, proteger a biodiversidade, prosseguir na transição demográfica (da alta prole para taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição), garantir a transição da matriz energética (do uso intenso de combustíveis fósseis para fontes renováveis. limpas e de baixo carbono) e reduzir o nível de consumo médio mundial, diminuindo o luxo e o lixo.
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José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
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