por Almir Cezar
Depois de duas ondas de crise, os analistas esperavam uma reação da economia mundial, mas não é isso o que se está vendo, em especial na Europa. Por sua vez, uma terceira onda de turbulências está prestes a varrer o planeta. Desta vez, serão as questões sociais a dar o tom da crise mundial capitalista.
A primeira onda de problemas envolveu os bancos. O estouro da bolha imobiliária nos EUA levou para o buraco o gigante Lehman Brothers, que arrastou instituições financeiras de várias parte do globo. A segunda, engolfou os governos que, para evitar o desastre total, socorreram os bancos a um custo pesadíssimo e, agora, estão atolados em dívidas monstruosas e, para fechar as contas, sacrificam os trabalhadores. Um em cada dois jovens espanhóis estão sem trabalho, fora os cortes de salários e aposentadorias, e o desmonte do estado de bem-estar social europeu construído ao longo de décadas.
Por um lado, a convulsão social dificulta a estabilização econômica, a retomada das margens de lucro e o re-equilíbrio da acumulação capitalista. Por outro, leva-se à Europa às vésperas de uma “Primavera Árabe” - em referência ao movimento liderado pelos jovens os países árabes contra o desemprego - que levou a derrocada dos governos locais. A Espanha a convulsão social, e a chama autonomista, varrem esse que é atualmente o maior elo fraco da União Europeia.
Espanha encontra-se à beira da explosão
Maria Segre | Jornal Monitor Mercantil | 08/11/2012
Milão - Enquanto o foco da imprensa centraliza-se sobre a Grécia, por causa da nova greve de dois dias que parou totalmente o país, relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta a Espanha como o maior elo fraco da Zona do Euro. Com seus colossos bancários no vermelho e as dívidas das regiões periféricas autônomas tendo evoluído para verdadeiros buracos negros, o primeiro-ministro (de centro-direita) Mariano Rajoy disse que "provavelmente" pedirá socorro total no início do ano que vem.
Sua Excelência está brincando de esconde-esconde, enquanto o desemprego no país já supera 25% e a economia continua contraindo-se. A previsível entrada do povo espanhol no vale das lágrimas do memorando municia a explosão de grave convulsão social.
Greves e manifestações encontram-se na ordem do dia. E embora, frequentemente, sejam acompanhadas por violentos choques com as forças da repressão, recente pesquisa mostra que 77% dos cidadãos é favorável à manutenção do clima de revolta. As duas maiores confederações de trabalhadores da Espanha decretaram para a próxima quarta-feira (14) greve geral em toda a Península Ibérica, em conjunto com os sindicatos de trabalhadores de Portugal.
A inflamação social ameaça com derrocada o sistema político espanhol. Após seu triunfo eleitoral, o Partido Popular já perdeu mais de 1/3 de sua força, segundo revelam as pesquisas. O outro vetor do bipartidarismo, o Partido Socialista, despenca em queda livre e, favorecida pela hemorragia dos partidos tradicionais no poder, emerge cada vez mais forte a esquerda. Contudo, a maior dor de cabeça para o establishment político de Madri é consequência da febre autonomista, principalmente da Catalunha.
Os jogos do Campeonato de Futebol da Espanha e, especificamente, os realizados em Barcelona transformam-se em grandiosas manifestações a favor da separação de Catalunha do Estado espanhol. Milhões de espectadores no mundo inteiro vêem a gigantesca "Estelada", a bandeira dos autonomistas catalães com a característica estrela, sendo desfraldada em Camp Nou, enquanto dezenas de milhares gritam a favor da independência.
Até recentemente, os inconformados autonomistas eram limitados a uma pequena minoria, principalmente, de catalães da esquerda, herança da dura repressão do Estado de Castilha, durante a ditadura de Franco. Em 2005, os favoráveis à separação totalizavam apenas 13,6% dos catalães. Hoje, segundo todas as pesquisas, 71% dos catalães estão preparados para votar "sim" em plebiscito com a pergunta da independência.
Autonomia tributária
A Catalunha, que produz 1/5 do Produto Interno Bruto da Espanha (PIB) e é, obviamente, tributada mais do que a média nacional, não concorda por qual razão deve sofrer cortes em suas escolas e hospitais, por um governo central que adota políticas de severa frugalidade, verdadeiros becos sem saída.
Não destituído de todas as razões deste mundo, Artur Mas, governador de Catalunha, pediu a Mariano Rajoy autonomia tributária para sua região, e, quando este recusou-se, Artur Mas dissolveu o Parlamento, convocou eleições "emergenciais" para o dia 25 deste mês e, prometeu realizar plebiscito com a pergunta da independência. Ao que tudo indica, o governador vencerá com maioria absoluta, fato que sinaliza evoluções imprevisíveis.
Há alguns dias, o The News York Times escreveu: "A Catalunha poderá comprovar-se catalisador de uma nova onda separatista na União Européia. Imitando o exemplo de Artur Mas, o primeiro-ministro (local) da Escócia, Alex Salmond, anunciou a realização de plebiscito em 2014, o qual, aliás, coincidirá com 700° aniversário de uma histórica batalha pela independência da Escócia.
Já desde abril deste ano sopram fortes ventos autonomistas no sul do Tirol italiano. No momento em que a União Européia (UE) e a Comissão Européia (seu órgão executivo) vivem repetindo à exaustão a famosa "fuga para a frente", rumo a uma Europa mais unida econômica e politicamente, as forças centrífugas no interior da UE ameaçam seus Estados nacionais fortes.
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