Cássia Almeida | O Globo - 05/11/2012
Após eleições, tarifa de ônibus deve subir 10% em 2013, o dobro do reajuste deste ano
Já virou um padrão, as tarifas de ônibus urbanos sobem pouco ou não sofrem qualquer reajuste em ano de eleições municipais. Dia de pouco, véspera de muito. E assim é. Este ano, as tarifas subiram 5,26% até setembro no país e devem fechar o ano em 5,3%. As projeções para 2013 são de que esse item da cesta de produtos e serviços dos brasileiros encareça 10%. Quase o dobro do que pagamos a mais este ano.
Nas eleições municipais anteriores, esse fenômeno se repetiu. Em 2008, ano de escolha de prefeitos e vereadores, a inflação de ônibus fora de 3,08%; em 2009, 5,33%. A expectativa maior é com a Região Metropolitana de São Paulo, que responde por 33% do peso dos transportes urbanos no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e onde não há reajuste nos preços das passagens desde janeiro de 2011. Além de São Paulo, Fortaleza e Brasília também mantiveram as tarifas. Essas três cidades somam quase 40% daquele item. Na capital federal, não há reajuste desde 2006. E, no Rio, apesar da correção de 10% que já houve este ano, haverá outro em 2013, conforme já anunciou o prefeito Eduardo Paes.
- É um padrão histórico muito claro. Será uma das principais fontes de pressão inflacionária no próximo ano. O IGP (Índice Geral de Preços, medido pela Fundação Getulio Vargas) está acima de 8% em 12 meses. O índice ainda serve de referência em algumas regiões para o reajuste. O óleo diesel subiu em meados de julho. A magnitude do reajuste também deve ser alta, por estar acumulando dois anos sem correção - afirma Thiago Curado, economista da Consultoria Tendências.
Curado projeta que as tarifas tenham reajuste médio de 10,2% no próximo ano, ante 5,2% em 2012. A inflação média prevista para os dois anos está em torno de 5,5%. A contribuição do ônibus urbano na inflação total será de 0,28 ponto percentual, caso os 10% sejam confirmados.
André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), responsável pelos índices de preços ao consumidor da fundação, lembra o elevado peso desse serviço no orçamento doméstico. Na média, o gasto com ônibus urbano representa 3,44% das despesas da casa:
- É o principal meio de transporte e de maior cobertura nas áreas mais pobres. Na baixa renda (famílias com renda domiciliar de até dois salários mínimos) o peso chega a 7,75%.
No Rio, houve reajuste de 10% em 2012. O percentual para 2013 ainda não foi definido pela prefeitura. Se o aumento concedido este ano se repetir, a passagem subirá para R$ 3,02. Será, então, a tarifa mais alta entre as regiões acompanhadas pelo IBGE (Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Brasília, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Goiânia). Atualmente, as mais elevadas são as de São Paulo e Brasília (R$ 3,00).
- Desde 2006, a tarifa em Brasília não é reajustada. O último aumento foi de 21% - diz Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE.
Menos pressão de energia e alimentos
Não existe unidade nos reajustes nas regiões metropolitanas. Enquanto o Rio impôs alta de 10% em janeiro deste ano, Porto Alegre autorizou aumento de 5,5% um mês depois. Curitiba, por sua vez, elevou o valor em 4% em março. E em Salvador a tarifa foi elevada em 12% em junho.
Elson Teles, economista do Itaú Unibanco, ficou surpreso com a quantidade de regiões que reajustaram o preço do ônibus. O economista também prevê alta de 10% nas passagens em 2013, principalmente por causa de São Paulo, onde há dois anos não há aumento.
- Esperamos o dobro do reajuste para o ano que vem.
Para compensar a pressão maior no transporte urbano, Teles cita a redução nas tarifas de energia, que deve fazer a inflação ficar 0,5 ponto percentual menor. A alimentação também deve dar um trégua. Não se espera uma seca tão forte como a que aconteceu este ano e afetou preços de produtos agrícolas importantes, como soja e milho. Usados também na ração animal, o reajuste dos grãos elevou o preço das carnes bovinas e de frango. Os serviços, no entanto, podem sofrer reajustes maiores, diante da esperada expansão maior da economia no ano que vem.
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