Agrava-se a crise em toda a Europa
Monitor Mercantil, 28/06/2011
Bruxelas - "A crise diz respeito aos EUA e não a nós", foi a primeira avaliação de "Frau" Angela Merkel após a "armação" que resultou na derrocada do Lehman Brothers, em outubro de 2008. Em continuação, a crise parecia contagiar a Grécia, para em alguns meses depois atingir Irlanda, Portugal, Espanha e pôr na alça de mira os próximos elos fracos, Itália e Bélgica.
Assim, a crise tende a ser apresentada como problema apenas do Sul europeu, tanto em nível de administração fiscal, quanto de disciplina social e convergência política, um quadro que este também é por sua vez enganoso. Muito simples: no sul da Europa apresentam-se com forte gravidade problemas comuns do total dos países integrantes da Zona do Euro.
O volume total da dívida pública dos países integrantes da Zona do Euro atinge hoje 7,5 trilhões de euros, um volume de recursos situado em níveis invisíveis, cujo total é muitas vezes mais inviável do que em separado é o total da dívida pública da Grécia ou da Irlanda.
A inovação tecnológica e a pesquisa, que são as únicas premissas para a sobrevivência da Zona do Euro e da União Européia em meio à turbulência da competição econômica mundial, não permitem otimismo de longo prazo para se garantirem os necessários superávits primários para o Velho Continente.
Se em tudo isso for somado o elevado custo social e político das políticas de saneamento que já começou a onerar, principalmente, o Sul europeu, então o horizonte estratégico da Zona do Euro é preocupante, principalmente se seus 17 países integrantes continuarem evoluindo em suas opções atuais.
Entende-se, então, que a convulsão social e a desestabilização política serão múltiplas em países como a Alemanha e a França, se existirem tentativas de contração do nível de vida em escala considerável.
Com estas premissas, as receitas de saneamento que, com responsabilidade principalmente alemã, impõem-se aos problematismos fiscais, agravam a crise. Primeiro, a restrição de demanda não demorará a atingir duramente as exportações e os superávits da Alemanha.
Segundo, conforme já é certo que, após a Grécia, Irlanda e Portugal serão necessários adicionais pacotes de salvação, a Alemanha conclui que deverá devolver parte de seus superávits sob condições muito piores e custo extremamente alto daquilo de um aumento da demanda interna no país, a fim de ser reconstituído um certo equilíbrio entre Norte e Sul.
É algo mais do que certo que dentro deste cenário não existem estratégias periféricas separadas e muito mais estratégias nacionais de sobrevivência. Nem a Alemanha e, muito menos os demais países superavitários podem fugir do custo de salvação do Sul, muito menos o Sul pode buscar soluções fora da Zona do Euro.
Dispender massa cinzenta em busca da forma com a qual tornar-se-á viável - principalmente, para os mercados - a dívida pública grega é esbanjar tempo. "É a raiz da árvore que está podre".
Acrescentem aos 7,5 trilhões de euros da dívida pública atual dos países integrantes da Zona do Euro os cerca de 10 trilhões da dívida pública dos EUA: É algo mais de que claro que, em um futuro não muito distante, os líderes empoados da Europa e dos EUA colocarão sobre a mesa das negociações o desafio do enfrentamento total do problema.
Em outras palavras, a crise da dívida pública dos países integrantes da Zona do Euro e dos EUA resultará em total apodrecimento do status quo que havia sido conformado na primeira década de existência da Zona do Euro. Assim, quanto mais rápido forem compreendidas as reais dimensões da crise, tanto menor será o custo que serão convocados a pagar a Alemanha e outros países superavitários.
Monitor Mercantil, 11/07/2011
Em meio aos temores de que a Itália possa ser a próxima vítima da contaminação da crise na Zona do Euro, os ministros do setor de finanças da União Européia (Eurogroupo) fizeram uma reunião de emergência, nesta segunda-feira. Oficialmente, iria se discutir um pacote de ajuda financeira à Grécia.
O principal índice da Bolsa de Valores de Milão caiu 3,96%, após ter perdido 3,5% na sexta-feira. As bolsas européias ficaram no vermelho: o índice DAX, de Frankfurt, caiu 2,33% e a Bolsa de Lisboa perdeu 4,4%.
As quedas, segundo analistas, foram provocadas pela especulação em torno do enfraquecimento do governo italiano por escândalos políticos. Assim, a Itália não conseguiria implementar um plano de cortes de gastos, exigido pelos credores para terem garantia de que receberão seus empréstimos.
O ministro das Finanças italiano, Giulio Tremonti, apresentou um plano de cortes orçamentários de 48 bilhões de euros (quase R$ 107 bilhões) para os próximos três anos. Os títulos da dívida pública italiana se desvalorizaram e as agências de classificação de risco já alertaram que podem rebaixar a nota dos papéis emitidos pelo governo de Roma.
"É a típica irracionalidade dos mercados. Os títulos italianos hoje pagam juros de alto risco, mas em nenhum momento o país teve dificuldade para fazer frente a seus compromissos", disse um analista à BBC.
O Eurogrupo vai apresentar em breve propostas para alargar os prazos dos empréstimos aos países europeus, bem como para reduzir as taxas de juro associadas a esses empréstimos. Os ministros das Finanças reafirmaram o seu empenho em salvaguardar a estabilidade da Zona Euro e afirmaram estar prontos a adotar mais medidas para melhorar a capacidade sistêmica da Zona Euro para reagir a contágios, o que inclui aumentar a flexibilidade e a capacidade do fundo europeu de estabilização financeira (FEEF).
A reunião fora convocada no fim de semana pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Além dele, participaram da reunião em Bruxelas o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, o chefe dos ministros das Finanças da Zona do Euro, Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, e o comissário da União Européia para Assuntos Econômicos, Olli Rehn.
O novo pacote de ajuda à Grécia vem sendo negociado há várias semanas, mas até agora não houve um consenso entre os países da zona do euro e representantes dos credores sobre as condições para a sua aprovação. Autoridades européias temem que um atraso grande na aprovação do plano possa prejudicar a situação de outros países da região que também enfrentam dificuldades financeiras, como Portugal, a Espanha e a Irlanda, além da Itália.
A Itália tem uma das economias menos dinâmicas da Europa. Em 2010, o PIB italiano ficou em US$ 2,05 trilhões, já ultrapassado pelo do Brasil, de US$ 2,09 trilhões, segundo dados do FMI. A dívida pública italiana equivale a 120% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Entre os países da Zona do Euro, esse percentual só é menor que o da Grécia, cujo endividamento atinge 150%. FMI adverte para um novo "crash" de créditoMonitor Mercantil, 28/06/2011
Zurique - Sonoro sinal de alarme para a economia mundial soou o Fundo Monetário Internacional (FMI), advertindo que os riscos por um novo crash de crédito têm aumentado e destacou que "EUA e Europa brincam com o fogo se não tomarem urgentemente medidas para redução de seus déficits fiscais".
Ainda, o FMI salienta que "a atividade econômica em escala mundial tem sido desacelerada desde o início deste ano e os riscos têm aumentado por causa da ameaça de uma crise política na periferia da Zona do Euro que poderá disseminar-se em outras regiões".
"Os políticos deverão trabalhar duramente para atingir rápido progresso no que diz respeito o fortalecimento do sistema financeiro", aconselha o FMI em seu relatório semestral (revisto), sobre as perspectivas da economia mundial".
"A mensagem-chave é que estamos ingressando em uma fase da crise - a denominada fase política da crise - e já é hora para serem tomadas as decisões políticas necessárias, a fim de serem evitados outros problemas", disse apresentando o relatório o responsável para temas monetários e os mercados de capitais do FMI, José Viñals.
"A oportunidade que apresenta-se hoje para se preparar o sistema econômico e financeiro (...) proporcionando, principalmente, transparência no que diz respeito a soluções no campo da Zona do Euro, poderá ser perdida inesperadamente. Poderá ser perdida por causa de algum evento nos mercados, se um salto repentino para se evitar o risco (que seria provocado por razões alheias) levaria os investidores a limitarem sua tolerância contra as inconsequentes soluções políticas."
"Poderia, também, se perder por causa de eventos políticos, ou porque os programas de adequação perderiam seu apoio político dos países endividados, ou porque a opinião pública dos países credores se mostraria fadigada de tanto continuar finanaciando estes programas", lê-se no relatório.
Grécia
"Particularmente para a Grécia, a situação nos mercados não deixou de agravar-se, por causa das preocupações sobre o grau de decisão política que será necessária para que seja posta em execução a adequação e ser garantido o financiamento". De acordo sempre com o relatório do FMI, "no caso de um sério evento de crédito, o choque poderá ser disseminado além da Zona do Euro, tanto pela exposição interfronteiriça dos bancos que têm sido expostos à dívida dos países, quanto também, pela generalizada aversão por risco".
Entretanto, o FMI soa o sinal de alarme também para os EUA, afirmando que "deverão estruturar, urgentemente, um programa de médio prazo para enfrentarem seus problemas fiscais".
Nos EUA a feição política da crise deve-se na queda de braço que é travada no Congresso sobre se será permitido ou não o aumento do limite máximo de dívida pública. Uma queda de braço política que ameaça levar o país até inclusive uma provisória interrupção de pagamentos, em uma "falência técnica", conforme não perdeu tempo para alertar a agência internacional de rating Fitch, que advertiu, ainda, os EUA de que "correm o risco de perder sua classificação de capacidade de endividamento AAA".
Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, declarou que "enquanto o risco de uma queda dupla para os EUA é pequeno, o crescimento da economia norte-americana, avalia-se, não será acelerado, a fim de reduzir o percentual de desemprego que já atingiu 9,1%". Contudo, o FMI assinalou que o déficit fiscal norte-americano mostra-se, ligeiramente, melhorado este ano por causa, principalmente, do aumento das arrecadações.
Já o déficit de orçamento, avalia-se, se conformará em 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB) - isto é, permanecerá novamente em níveis altos, mas terá melhorado em comparação com 10,8% do PIB previstos em abril deste ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário