Marcos Oliveira e Sergio Souto, 09/12/2010 - 13/12/2010
Democracia colombiana
A pretexto de combate a guerrilha, em ação no país há quase 50 anos, sucessivas administrações da Colômbia, ao lado de forças paramilitares, têm eliminado, de forma sistemática, opositores que optaram pela luta política legal. Segundo dados apresentados por José Luciano Vasquez, da Escola Nacional Sindical da Colômbia, durante a conferência da Internacional do Serviço Público (ISP), realizada este ano, desde 1986 2.840 sindicalistas foram assassinados na América do Sul. Isso representa um assassinato a cada três dias. Desse total, 63% eram colombianos. Esse número é acompanhado, e incentivado, pela impunidade generalizada. Dos 11.096 atos de violência contra sindicalistas, que incluem ameaças, desaparecimento e mortes, só 118 casos tiveram sentença judicial. Ou seja, em 99% dos casos, a impunidade imperou.
Exclusão feminina
Diante desse nível de intimidação e barbárie, apenas 810 mil trabalhadores do país são filiados a algum dos 2.900 sindicatos existentes na Colômbia. Destes, 2.500 possuem menos de 200 filiados, segundo os dados mostrados na ISP. Essa política de extermínio manifesta-se de forma mais gritante contra as mulheres, já que elas são 50% dos afiliados aos sindicatos, mas apenas 2% ocupam cargos de direção nas entidades.
Intimidar para reinar
A sistemática política de intimidação e assassinatos de sindicalistas na Colômbia, noticiada na coluna sexta-feira passada, encontra correspondência no processo de concentração de renda no país. Segundo o pesquisador José Luciano Vasquez, da Escola Nacional Sindical da Colômbia, em 2003, os 20% mais ricos da população detinham 62,7% do
rendimento/consumo do país, cabendo aos 20% mais pobres apenas 2,5%. Além disso, naquele ano, 17,8% dos colombianos viviam com menos de US$ 2 por dia. Esses dados não contabilizam todo o período da presidência de Álvaro Uribe (2002-2010).
A culpa é dos sindicatos
Apesar dessa situação de concentração de renda, segundo Vasquez, os sindicatos colombianos, que existem há cerca de 100 anos, são rejeitados por 63% da população e o 50% têm uma imagem negativa deles. O pesquisador atribui essa contradição entre a piora da situação dos trabalhadores e seu afastamento das entidades que poderiam defendê-los às sistemáticas campanhas contra os líderes sindicais, que, desde 1986, resultou em 11.096 atos de violência, incluindo ameaças, desaparecimento e mortes, dos quais apenas 118 casos tiveram sentença judicial.
Sem defesa, sem emprego
A combinação de concentração de renda e desmobilização social resulta no elevado desemprego, que vitima 20 milhões de trabalhadores, dos quais 12 milhões estão na economia informal, dois milhões, desempregados, além de um milhão de jovens, e dois terços não possuem Previdência Social.
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