sábado, 21 de março de 2009

Após cortes, Embraer nega pagar bônus de R$ 50 mi

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Portal Terra 18:14 - 21/03/2009


BRASÍLIA - Mesmo após ter anunciado, no final de fevereiro, a demissão de mais de 4,2 mil funcionários, a Embraer foi beneficiada, nas últimas duas semanas, com seis contratos firmados com o governo federal que, juntos, totalizam R$ 102,73 milhões. Para o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, além da manutenção desses contratos junto à Força Aérea Brasileira (FAB), a empresa, mesmo com a queda de demanda de aviões, teria reservado bônus de R$ 50 milhões a um grupo de 25 diretores, à semelhança do que fez a seguradora americana AIG.

Nos Estados Unidos, a AIG, alvo do plano de ajuda do governo Barack Obama, admitiu ter mantido os bônus para seus diretores, ainda que a empresa tenha ameaçado estar à beira do colapso.

Quarta maior fabricante de aviões no mundo, a Embraer anunciou a demissão de 4.270 funcionários no Brasil, Cingapura, França e Estados Unidos, argumentando que o corte de pessoal ocorria "em decorrência da crise sem precedentes que afeta a economia global, em particular o setor de transporte aéreo".

Após as demissões, a cúpula da empresa e representantes do sindicato em São José dos Campos foram convocados para audiências com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu, inclusive, telefonar à diretoria da companhia em busca de negociação. Na última quarta-feira, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas manteve as demissões.

- Não tem crise econômica na Embraer, a Justiça sabe disso e manteve os postos de trabalho (provisoriamente, por meio de uma liminar). Esses contratos assinados também provam isso - alega Adílson dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

- Estamos achando isso tudo uma farra. Hoje, essa empresa serve para dar dinheiro para banqueiro e para gerência, que vai receber bônus de R$ 50 milhões - critica o dirigente.

Para Adílson, que defende a estatização da Embraer, "não tem porque assistir a tudo isso (demissões) e o governo continuar colocando dinheiro".

- São José dos Campos tem um pólo industrial muito importante e, tendo o governo como dono da empresa, ele tem como determinar para quem vai vender e não deixar o negócio nas mãos de diretores (da iniciativa privada) - disse.

Embraer rebate acusações

Em nota divulgada neste sábado, a Embraer negou o pagamento do bônus e afirmou que o patamar indicado pelos sindicalistas diz respeito ao "valor limite definido pelos acionistas para dispêndio com seus administradores no período de maio de 2008 a abril de 2009".

A empresa destaca ainda que os R$ 50 milhões não são bônus, mas uma reserva para pagamento dos honorários dos conselheiros de administração e de seus encargos trabalhistas. A verba também serve, diz a Embraer, para garantir os honorários dos diretores, participação deles nos lucros da empresa e despesas com assistência médica, planos de aposentadoria complementar e encargos trabalhistas sobre as indenizações e verbas rescisórias de ex-administradores.

- É absolutamente inverídica a informação de que diretores e conselheiros da Administração da Embraer receberam R$ 50 milhões de bônus da empresa - diz a nota, acrescentando que a participação nos lucros, a assistência médica e o plano de aposentadoria complementar não são benefícios exclusivos dos administradores, mas de todos os empregados.

Conforme apurou o Terra junto à ONG Contas Abertas, desde o início de março foram feitos empenhos (compromisso de pagamento) da União à Embraer no valor de R$ 102,73 milhões, sendo que, na lista de compras da União, estão duas aeronaves descritas como "para transporte presidencial", ao custo de R$ 10,3 milhões e R$ 28,4 milhões cada uma das parcelas nos dois contratos, cujo valor total ultrapassa os R$ 210 milhões.

As demais operações incluem parcelas para o fornecimento de 99 aeronaves do tipo Super Tucano, no valor de R$ 8,43 milhões cada; parte da modernização de 46 aeronaves F-5 E/F, em uma conta de R$ 25,76 milhões; a prestação de serviços e modernização de 53 aeronaves A-1 e suporte logístico, no valor de R$ 22,81 milhões; e a aquisição de materiais aeronáuticos não especificados ao custo de R$ 7 milhões. A Força Aérea Brasileira (FAB) não soube informar o número de parcelas que ainda faltam para o governo quitar o débito.

Procurada, a Embraer disse que os contratos são antigos e continuam mantidos, independentemente da crise financeira mundial.

- A FAB é um dos principais clientes (da empresa) no mercado interno, independentemente (das demissões) das últimas semanas - diz o comunicado.

A empresa ressalta que este ano teve de reduzir a previsão mundial de fabricação de aeronaves de 350 unidades para 242, uma vez que alguns clientes pediram para adiar as entregas de aviões e outros chegaram a cancelar contratos. A conseqüência imediata, informou a Embraer, foi a redução de 20% do efetivo de funcionários.

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Comentário:

Que os acionistas e executivos da Embraer paguem pela crise, pois durante a fase de bonança não repartiram os ganhos com os trabalhadores.

Dizem que tem que demitir pois não há grana em caixa para mantê-los, mas reservam um grande quantia para seus bônus. Vergonhoso essa postura da cúpula da empresa. O vergonhoso também é que o Governo Lula não faz nada, justifica as ações da cupula da empresa. Pelo menos lá nos EUA Obama, pressionado, deve que publicamente correr atrás da AIG. Veja a cara-de-pau dos executivos, recorreram ao Tesouro para salvar a empresa, que eles quebraram, mas na sequência tugam esses recursos, na forma de "bônus contratuais".

Continua insistindo: a causa das demissões não é crise na empresa.

Reduções salariais e demissões não ajudam a empresa a repor seus lucros, muito pelo contrário, reduz ainda mais a sua taxa de lucro, pelo efeito queda da demanda efetiva e da produtividade do trabalho. Além disso, durante anos a empresa acumulou capital, com grandes lucros, transferindo-os aos acionistas e executivos na forma de bonus e dividendos, que muito bem agora poderiam ser revertidos. Esses ao invés de diminuir o número de trabalhadores na empresa, deveriam fazer um aporte de capital de seu bolso para sanear/socorrer a empresa no atual momento de suposta queda brusca nas vendas. Mas não o farão. Eles querem é "tirar" dinheiro, nunca por.

Contudo, reafirmo, a causa das demissões na Embraer é sim uma estratégia para arrancar do Governo mais incentivos fiscais e enfraquecer o sindicato local, ou, no muito, frear a formação de estoques. Como no Brasil é fácil demitir - o custo de demissão é baixa - é mole adotar esse tipo de postura.

O socorro real a empresa, ao meu ver, é a estatização. Ainda mais à medida que essa empresa é estratégica para cadeia industrial da região e do Brasil. É preciso retirar a empresa da mão dessas pessoas que atualmente a gerem, que só sugam e nada a ajudam, e transferir democraticamente sua gestão, sob supervisão do Governo, para aos seus trabalhadores.

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