por Almir Cezar Filho
O economista russo tornou-se famoso pelas análises da relação entre inflação e industrialização em economias agrárias atrasadas e em estado de isolamento internacional, como a Rússia revolucionária. A posição contrária que fez à implantação da NEP era resultado de seu diagnóstico que a industrialização russa passava por uma forte necessidade de investimentos, cujos efeitos (por exemplo, geração de renda) se sentiriam antes do aumento da produção. Logo, uma onda inflacionária colocaria em risco a aliança operário-camponesa. Era preciso criar condições para que a economia soviética, que ainda estava na etapa primária do socialismo, pudesse se desenvolver sem essas ameaças.
Preobrajenski foi o primeiro a se referir a uma chamada "etapa primária do socialismo", sendo depois uma categoria amplamente empregada por outros revolucionários, até mesmo Lênin e Trotski. Para Preobrajenski a acumulação socialista primitiva garantiria que a “etapa primária do socialismo” no desenvolvimento da superestrutura e infra-estrutura na formação social da URSS se desse de forma harmônica.
A acumulação socialista primitiva - alcunhada propositalmente em analogia ao processo de acumulação capitalista primitiva, descrito por Marx no final do Livro I de O Capital – partia do princípio de que o processo de financiamento do desenvolvimento da economia soviética seria impossível nos quadros de uma economia isolada (impossibilidade de acumular divisas estrangeiras), logo a indústria (setor socializado) por si só se via sem condições de “puxar” o processo de acumulação e financiamento.
Assim, a acumulação socialista primitiva, em Preobrajenski, seria faria nos marcos de trocas desiguais entre a agricultura e a indústria, entre o setor sobre-acumulado e dominado pela pequena-propriedade capitalista e o setor subdesenvolvido e dominado pela propriedade estatal. Os problemas de inflação e do financiamento do investimento que a URSS vivenciara ao longo da década de 1920 seriam resolvidos transferindo o excedente da agricultura e do pequeno comércio, pelo desvio desse capital que acabaria no consumo da pequena-burguesia em investimento industrial. Esse processo seria viabilizado pelo planejamento central (que ditaria preços, impostos diferenciados e orçamento para projetos estatais) e pela própria industrialização acelerada da economia.
Esse processo econômico, descrito superficialmente no receituário de Preobrajenski para a URSS dos anos 1920, convencionou-se chamar posteriormente no Ocidente de “modelo soviético de desenvolvimento”, principalmente depois que o regime stalinista implantou no fim da década de 1920 a coletivização forçada através do I Plano Quinquenal, adotando assim de maneira deturpada as teses de Preobrajenski. A conseqüência lógica da teoria da acumulação socialista primitiva, ao defender a industrialização acelerada e o planejamento central, é que seria evitável qualquer hipótese de coletivização forçada, que consiste numa acumulação de capitais pela apropriação não-econômica de recursos dos camponeses e dos pequenos comerciantes, obtidos pelas expropriações das suas propriedades e bens, como acabou empreendendo o stalinismo no fim do ano de 1929, quando reverteu sua política anterior. O próprio Preobrajenski criticou em um artigo de 1931 essa via stalinista para a industrialização.
O artigo tomou como referência e contém enxertos do texto no Wikipédia em Português sobre Ievguêni Preobrajenski sobre etapa primária do socialismo e acumulação socialista primitiva.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ievgu%C3%AAni_Preobrajenski
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