sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Coalizão da Rússia na Síria, um prólogo de algo pior por vir

por Almir Cezar

Três semanas de ataques aéreos e por mísseis na Síria deram aos governos e aos militares do Ocidente uma apreciação mais profunda da transformação da estratégia  de política externa e militar da Rússia do presidente Vladimir Putin. A ação militar da coalizão liderada pela Rússia com Irã, Iraque e Hezbollah, e até China, sobre a Síria contra o Estado Islâmico (ISIS).  Interesses entre-imperialistas em jogo. Tendo de tudo para ser uma espécie de prólogo da Terceira Guerra Mundial.

Os ministros das Relações Exteriores dos Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e Rússia participarão nesta sexta-feira (23/10) em Viena de conversações inéditas sobre a guerra na Síria, com posições antagônicas sobre o futuro do regime de Damasco. Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia e Rússia estão em lado oposto ao de Moscou, no conflito sírio.


Washington e seus aliados integram uma coalizão militar internacional contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e apoiam os rebeldes sírios inimigos do regime do presidente Bashar al-Assad. Encontro é a confirmação da internacionalização de uma guerra iniciada em 2011 e que provocou mais de 250 mil mortos. Moscou, aliado do governo de Damasco, iniciou há três semanas uma campanha aérea para lutar contra o "terrorismo", mas que segundo o governo americano e seus aliados tem como objetivo primordial defender o regime sírio. O encontro é a confirmação da internacionalização de uma guerra iniciada em 2011 e que provocou mais de 250 mil mortos.

Atualmente, restam duas potências não subordinadas plenamente ao imperialismo (um condomínio composto EUA, como sócio majoritário, seguido por UE e Japão), que são China e Rússia, capazes de propiciar uma situação na balança do poder mundial. Sem esse equilíbrio, não há como país algum no mundo desenvolver-se. Mas a China vem ganhando poder em vastos campos, e a Rússia reafirma-se, a partir de seu espólio ex-URSS, como potência nuclear e balística de grande porte. Isso lhes dá a cada autonomia nas decisões políticas e econômicas, e limita um pouco a tirania exercida pelo imperialismo, se não em âmbito global, ao menos em seu próprio país e área de influência. Se se tivessem mantido abertos à influência do império, não teriam alcançado o status de potências mundiais. Para tanto, precisaram de regime centralizado e fechado - ditaduras.

Na Síria e no Iraque assistimos, estupefatos, a consolidação do Estado Islâmico, cujo líder, Abu Bakr al-Bagdadi, se autoproclama califa, ou seja, um sucessor do profeta Maomé. Isto lhe confere o título de autoridade máxima nas esferas política, militar e religiosa de todos os muçulmanos no mundo.

A ofensiva terrestre contra as forças que querem derrubar o governo desfechada por Bashar Al-Assad, apoiada pelos ataques aéreos da Rússia, assim como a determinação dos Estados Unidos de enviar mais armas aos “rebeldes”, mostra a real situação do conflito na Síria, em que o Estado Islâmico é usado como desculpa para a escalada da disputa entre as potências na região.

As forças da oposição acusam a Rússia de fazer ataques em uma série de cidades controladas pelos rebeldes, de forma a pavimentar a entrada das forças do governo. A ação russa seria um espelho da intervenção norte-americana no norte da Síria.

O resultado poderá ser visto na Europa, com novas e maiores levas de refugiados. Só a Alemanha prevê receber 800 mil pessoas este ano, quatro vezes mais que em 2014. Mas o jornal alemão Bild, citando um relatório secreto, diz que o número de refugiados pode atingir 1,5 milhão.

É um campo relacionado, profundamente, com o controle de extraordinária importância geoestratégica e geopolítica na região do Grande Oriente Médio no que diz respeito as fontes energéticas e os itinerários de transporte de petróleo e gás natural. É um campo, cujo controle, muito oportunamente, sob a denominação Eurasia, o Zbigniew Brzezinski, desde o final da década de 1990, havia caracterizado “crítico” para a conservação da “pantocracia” dos EUA, considerando que, somente assim poderiam controlar o desenvolvimento e o fortalecimento de outras pretensas forças adversárias como são a Rússia e a China. É um campo, no qual, definem-se interesses de alcance mundial, a possibilidade de controle de mercados e países e, a consolidação do poderio.

Atualizado às 10h41

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