terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dilma e Agnelo são cúmplices da limpeza étnica no Cerrado


Dilma e Agnelo são cúmplices da limpeza étnica no Cerrado
Para entender a luta pelo Santuário dos Pajés, assistam:
Sagrada Terra Especulada - http://www.sagradaterraespeculada.blogspot.com/ (filme premiado no Festival de Cinema de Brasília)
Depois de sugar suas veias, eliminam-se os índios
Já se passaram quase quinhentos e vinte anos após o desembarque do explorador Colombo no continente americano e até hoje não fomos capazes de pensar, enquanto um só povo, uma solução para a coexistência pacífica, respeitosa e cordial com aqueles que habitavam esta terra muito antes da conquista. Já sabemos que o holocausto cometido contra os povos originários deste continente e o saque às suas riquezas naturais foram as grandes alavancas do desenvolvimento dos países do norte, tendo sua revolução industrial financiada pela prata de Potosí, o ouro de Vila Rica e Veracruz. Além disso, o petróleo de Maracaibo, o gás natural e a coca andina, o cobre chileno, o pau-brasil, o charque, a cana, o café, a borracha e inúmeros outros frutos de nosso continente, seguem sendo alvo do grande capital, em sua busca para manter a insustentável máquina de devastação e exploração capitalista que, ou devora a si própria, ou destrói todo o mundo com ela.
Neste sentido, a luta pela preservação da Terra Indígena Santuário dos Pajés assume um caráter ainda mais importante, pois, no coração de Brasília, no centro de nosso continente, um santuário indígena de 50 anos inserido no bioma mais agredido do planeta luta para sobreviver contra os tratores da especulação imobiliária e da corrupção institucional, que não possuem nenhum compromisso com a sustentabilidade de nosso planeta ou com a própria população que desavergonhadamente exploram e escravizam, criminalizando todos aqueles que não compactuam com seu projeto parasita de consumo desenfreado e destruição planetária.
Em plena capital federal, com o apoio de sucessivos governos notoriamente corruptos, as construtoras se aproximaram cada vez mais da Terra Indígena, destruindo o cerrado nativo, impermeabilizando o solo em zonas de recarga hídrica, destruindo nascentes, derrubando árvores ameaçadas, matando animais e ameaçando todos que se colocaram em seu caminho. A cada quilômetro que avançam, os especuladores iniciam prédios superfaturados, com o metro quadrado mais caro do país e nomeando o projeto de “primeiro bairro ecológico do Brasil”.

Brasília: a Meca da especulação e a batalha institucional viciada
A luta institucional iniciou-se há vários anos, quando representantes da população indígena do local, militantes sociais e ambientalistas buscaram o Ministério Público, a Funai (Fundação que deveria defender os indígneas), o Ibama (que deveria defender o meio-ambiente), a Polícia Federal, o Legislativo e o Executivo para impedir a destruição da última área de cerrado nativo dentro do Plano Piloto. No entanto, a ação destes órgãos sempre foi a de deliberadamente ignorar a demanda social e ambiental da população, ou, em louváveis exceções em que tentaram buscar uma solução que preservaria a área, foram afastados ou reprimidos pelas grandes especuladoras (financiadores de campanhas e um dos maiores anunciantes dos meios de comunicação). O Ministério Público bem que tentou parar as obras ilegais, mas tinha suas ações anuladas pelo corrupto ministro Gilmar Mendes (o mesmo que emitiu dois habeas corpus seguidos para o banqueiro Daniel Dantas). A Funai (inexplicavelmente, sempre contra os indígenas) não entregava sequer o laudo antropológico onde estudos comprovavam a legitimidade da reivindicação dos indígenas do Santuário. Os órgãos ambientais Ibama e Ibram tiveram seus relatórios comprados vergonhosamente, enquanto o Legislativo e o Executivo só agravaram a situação, ficando ao lado do grande capital, enquanto os deputados foram flagrados recebendo em 2008 150 mil reais do governador José Roberto Arruda para aprovar o PDOT - Plano Diretor de Ordenamento Territorial. Até hoje, mesmo após a comprovação da corrupção, cassação de deputados e a prisão do ex-governador, o PDOT não foi revogado, nem revisado.
Embasados neste PDOT, as construtoras rasgaram a terra e devastaram centenas de hectares da última área de cerrado nativo no DF para a construção do bairro verde, o Setor Noroeste. As ameaças aos indígenas, incêndios criminosos sucessivos e a tentativa de grilagem de suas terras custaram muito às famílias dos indígenas, que viram seus filhos e suas esposas irem embora para outras regiões para fugirem do assédio e das violações dos direitos humanos ali perpetrados.

Um novo governo com os mesmos métodos
Com a promessa de “um novo caminho”, Agnelo Queiroz lançou-se candidato ao governo do DF pelo PT, utilizando como arma um vice-governador que é um dos mais históricos corruptos da cidade: Tadeu Filipelli, do PMDB, em uma convenção eleitoral que foi um golpe contra a própria militância combativa da juventude do PT (que tentou, sem sucesso, ocupar o palanque da própria convenção do partido). Com o apoio do grande capital, do cartel do transporte público, dos meios de comunicação e da candidata Dilma, Agnelo foi eleito e, desde o início manteve a mesma política, embora tentasse, sem sucesso, algumas medidas de gestão melhorada, sem modificar em nada o modelo discriminatório, segregador e corrupto que governa Brasília há 50 anos.
Seguindo os mesmos métodos do governo neoliberal anterior (gastos exorbitantes em propaganda, subserviência às empreiteiras e às grandes empresas, mantendo o processo de especulação imobiliária), Agnelo no início de seu governo já mostrou a que veio e tratou com truculência a ocupação feita pelo MTST – Movimento dos(as) Trabalhadores(as) Sem Teto, onde cerca de 600 famílias reivindicavam acesso a seus direitos de moradia digna e universal. Ao contrário de ouvir as demandas da população, Agnelo enviou a Polícia para desocupar, prender e ameaçar as famílias sem-teto. Mesmo após dias acorrentados no saguão do Ministério das Cidades, o governador se recusou a recebê-los e, alguns meses depois, Edson, um de seus dirigentes (ameaçado de morte pelos especuladores), foi alvejado com 18 tiros por assassinos, que felizmente não conseguiram cumprir a ordem de exterminar mais este lutador de um movimento que, diferente da CUT e de outros movimentos compromissados com o governo, não se calou diante da traição e ineficácia do auto intitulado Partido dos “Trabalhadores”.
Na questão da moradia, o entreguismo e a cumplicidade com as empreiteiras fez do governo um participante ativo da especulação, com o Minha Casa, Minha Vida inflacionando ainda mais o preço da moradia digna para a população. Além disso, as moradias populares que deveriam ser construídas ficaram sob o controle de Geraldo Magela, outro corrupto do DF, famoso por sua ambição sempre frustrada de ser um dia governador do DF, nunca foram nem serão entregues à população, ficando nas mãos de seus protegidos políticos, na repetição da estratégia rorizista de curral eleitoral.
Este modelo, igual ao do ex-governador que acabou indo parar na penitenciária foi explicitado principalmente na semana passada, quando Agnelo, envergonhando sua própria base e militância, anunciou como novo presidente da Terracap (instituição que cuida da questão fundiária no DF) o mesmo ocupante do cargo no governo anterior, o famigerado Antônio Gomes, advogado das construtoras e um dos mais ferrenhos inimigos da resistência indígena no Santuário dos Pajés. Além disso, foi nomeado como diretor comercial da Terracap também o advogado pessoal de Agnelo, mostrando o quão íntimo ele é da questão e como acompanha atentamente tudo que acontece por lá.

Outubro decisivo para a Resistência no Santuário dos Pajés
Após o governo e as especuladoras tentarem de todas as formas boicotar a presença do filme “Sagrada Terra Especulada”, que conta a história do Santuário e denuncia o Setor Noroeste, no Festival de Cinema de Brasília (tirando da programação impressa, exibindo quarta-feira no meio da tarde e avisando apenas no site), a população se manifestou e o filme acabou sendo premiado no Festival, recebendo muitos aplausos e reverências da população do DF, que sabe que o projeto de cidade do governo e das empreiteiras só beneficiam aos corruptos. Esta vitória no Festival de Cinema trouxe uma legitimidade e projeção ainda maior na luta contra a especulação.
Infelizmente, esta vitória foi abafada pela nomeação de Antônio Gomes para retornar à presidência da Terracap. Após este anúncio, era esperado que o governo e as construtoras atacassem com todas as forças o Santuário, então, na segunda-feira, 03 de outubro de 2011, a Emplavi (construtora que tem o novo presidente da Terracap como advogado) invadiu a área do Santuário dos Pajés com tratores, caminhões, trabalhadores e 17 homens armados com pistolas, cassetetes e sprays de pimenta, em uma verdadeira operação paramilitar ilegal contra o cerrado, os indígenas e toda a população do DF. Foi destruída uma área de cerrado onde encontravam-se pequizeiros, aroeiras e diversas espécies de árvores protegidas, em um claro desrespeito às leis ambientais (mas uma reverência à lei do dinheiro, que impera na capital).
Após manifestação dos indígenas, estudantes e cidadãos indignados, a Emplavi e a Polícia Militar do DF se comprometeram em parar a obra até que a situação jurídica de demarcação da Terra Indígena fosse resolvida. Foram embora os caminhões, tratores e containers, embora os danos que foram feitos ao bioma levem mais de 50 anos para serem recuperados. Ao cair da noite já não haviam mais funcionários da empresa nem policiais, nem máquinas ou tratores. Restavam apenas estacas com arame farpado denunciando o crime e a palavra deles de que as agressões cessariam até que a situação fosse resolvida na justiça.
Na quarta-feira, 05 de outubro de 2011, dois dias após o acordo de não-intervenção na área, a Emplavi invade novamente a área com tratores, caminhões, arame farpado, muros com placas de ferro e sua milícia paramilitar privada. Imediatamente são iniciadas as obras e os gritos de protesto dos indígenas conseguiram reunir apenas alguns corajosos cidadãos, que protestaram em frente ao local, pararam tratores, removeram cercas e conseguiram, após novo acordo (e agressão da milícia com cassetetes e spray de pimenta), que o cerrado não fosse agredido até solucionarem a questão. Mesmo após o primeiro acordo descumprido, era importante buscar uma forma pacífica de retirada da construtora da área, para que a justiça depois pudesse avaliar os danos causados e devolver a terra aos indígenas, que a preservaram por tantas décadas.
A mentira da construtora covarde e a corajosa resposta à agressão

O sol mal tinha iluminado o Planalto Central na quinta-feira, 06 de outubro de 2011, quando as máquinas da Emplavi, descumprindo novamente o acordo, começaram o saque ao cerrado. Desta vez, as torres de segurança estavam ficando maiores, o arame farpado estava sendo substituído por um muro sólido de aço, enquanto tratores destruíam o que restava de recurso natural na área. Esta era mais uma demonstração de que não se pode confiar no grande capital. Com a presença da Polícia Federal na área, a empresa cometia este crime em plena luz do dia, sem se preocupar com as implicações legais de tal ato. Infelizmente, este é um comportamento comum e esperado por parte das construtoras, acostumadas a invadir, destruir, construir e depois buscarem alguma brecha jurídica para seus empreendimentos, sempre baseados na teoria do “fato consumado”. A resposta governamental a estas agressões é sempre a mesma: a legalização, anistia de dívidas em troca de financiamento político para campanhas e pagamentos aos líderes desta política vergonhosa, escandalosa, porém, tristemente previsível no Distrito Federal.
A única coisa que não tinha sido prevista no plano da Emplavi, era a resistência heróica dos indígenas e da população. Tal resistência pode ser vista no seguinte vídeo: http://www.youtube.com/user/santuariodospajes#p/a/u/0/9v9AGCvup3Y
Armados com coragem e senso inalienável de justiça, os indígenas, estudantes, militantes, ambientalistas e a população indignada do DF ocuparam a obra, parando mais uma vez as máquinas e derrubando cada resquício daquela obra ilegal, imoral e anti-ecológica. Com os gritos de “O Santuário não se Move!” e “Noroeste = Faroeste”, os manifestantes resistiram ao ataque no cerrado, apesar das agressões da milícia paramilitar da Emplavi, que defendeu ferrenhamente cada pedaço daquele empreendimento ilegal com seus cassetetes, jatos de água, agressões físicas covardes e até ameaças de morte. Nesta batalha vitoriosa, apesar do sangue e exaustão física, os indígenas e manifestantes ainda buscaram forças para começar a reconstituição do cerrado, replantando mudas de pequi e outras árvores do cerrado, que servirão para a preservação da área e se tornarão um grande monumento à resistência dos povos originários no coração da capital do país.

O Santuário continua sendo atacado neste momento, e Agnelo e Dilma são cúmplices
Com a abertura do precedente, teme-se que outras empresas, com o auxílio do governador tentem a mesma forma criminosa de invasão, violação e saque ao Santuário dos Pajés, cujo laudo antropológico já comprovou a tradicionalidade da terra e a necessidade de demarcação da área. A estratégia das construtoras e do governo cúmplice é a de destruir estas evidências antropológicas e o cerrado, para que não haja mais o que preservar e a área seja entregue de bandeja às negociatas e à Terracap, que é onde deságua toda a corrupção no Distrito Federal.
Este processo nos deixa algumas lições claras sobre a forma de agir do grande capital, através da invasão, grilagem, devastação, agressão e ameaças. Além disso, nos mostrou que não é possível confiar em um governo que foi financiado pela máfia das empreiteiras e agora é cúmplice delas. Na Caixa de Pandora que ainda precisa ser aberta no Distrito Federal, o governador Agnelo cumpre um papel fundamental, principalmente agora como novo mantenedor do status quo.
O silêncio cúmplice do governo federal também não pode deixar de ser notado nesta questão, pois, é de um significado enorme que, a menos de 15 quilômetros do Palácio Presidencial do Brasil, não possa existir um lugar de preservação da cultura indígena. Será uma mancha vergonhosa para Dilma e o governo do PT que, justo em seu governo, seja perpetrada mais esta limpeza étnica contra os povos originários. O Santuário é o Belo Monte em plena capital federal, e permitir sua destruição é entregar-se para sempre aos mandos do grande capital no governo e em nossas vidas. Se este crime for aceito bem debaixo de seu nariz, não haverá esperança para os indígenas do restante do Brasil.

Os indígenas do Santuário possuem a receita de nosso futuro
Uma coisa é certa: a resistência segue na Terra Indígena Santuário dos Pajés. Não cederemos nem um milímetro à sede de lucro das empreiteiras e dos corruptos históricos da cidade e de fora (agora até o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, entrou na fila para saquear o cerrado do DF). Pararemos todas as máquinas e ferramentas que tentarem mais uma vez violar o solo sagrado do cerrado. Este é o compromisso de todos da resistência com nossos filhos, netos e bisnetos, que precisarão de um mundo livre, preservado e em paz com justiça social para viverem.
Sonhamos em um local onde nossos filhos irão em passeios da escola para conhecer o que ainda resta de cerrado no centro do país. Um local onde eles descubram o que é uma mandioca orgânica e um pé de pequi. Um local onde possam olhar os pássaros e macaquinhos do cerrado vivendo soltos, livres e felizes. Sonhamos com um local onde sejam respeitados os costumes dos indígenas, que dançam para Tupã pedindo chuva da mesma forma que outras pessoas pedem aos seus deuses.
Sonhamos com um mundo onde os povos originários não sejam escravizados, explorados ou humilhados, mas sim reverenciados e cultuados, pois possuem a sabedoria que é cada dia mais importante no mundo de hoje. Diferente de nós, os indígenas sabem como viver em paz. Eles lembram nosso passado e, ao mesmo tempo, possuem a receita de nosso futuro, onde humanos e a natureza coexistirão pacificamente ou devorarão uns aos outros.
Assim como fizeram os indígenas na área devastada pela Emplavi, reconstruindo, trazendo de volta a vida e o amor para aquela área, devemos fazer em todos os locais onde o lucro desumaniza, aliena e destrói. Não tenham dúvidas de que, assim como os índios colherão os frutos replantados desta resistência, os frutos colhidos por nós nesse processo serão doces, emancipadores e capazes de ecoar através dos continentes e da história, mudando para sempre o destino de nosso planeta.
O Santuário Não Se Move!!!

“O importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos, e este mundo injusto, que devemos transformar” – Oscar Niemeyer

Nenhum comentário:

Postar um comentário