terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nobel de Economia 2011: "Manter o moral da tropa" neoliberal

Entra para o campo da guerra ideológica o prêmio dado pelo ortodoxo Banco Central da Suécia - que, de forma oportunista, se autodenomina Nobel de Economia - para os neoliberais norte-americanos Thomas Sargent e Christopher Sims. Os dois desenvolveram métodos para responder a questões sobre como o crescimento econômico e a inflação são afetados por um aumento temporário na taxa de juros ou por cortes de impostos. Em um momento em que as teses neoliberais desabam, agraciar tal tipo de pesquisa tem o objetivo similar ao de "manter o moral da tropa", quando é cada vez maior o risco de debandada.

O Nobel 2011

Foi anunciada na última segunda-feira que o prêmio Nobel de Economia 2011 que será entregue a Thomas J. Sargent, da Universidade de Nova York, e Christopher A. Sims, da Universidade de Princeton, ambos com 68 anos, por sua “pesquisa empírica sobre causa e efeito na macroeconomia”. Os estudos de Sargent e Sims contribuem para encontrar respostas a diversas questões contemporâneas, num momento em que o mundo vive uma nova crise e os líderes vêem se às voltas com a necessidade de influir na atividade econômica.

Como o PIB e a inflação são afetados por um temporário aumento dos juros e por um corte desta taxa? O que acontece se um banco central faz uma mudança permanente em sua meta de inflação ou quando um governo modifica seus objetivos de política fiscal? Os pesquisadores americanos, agraciados com o Nobel, debruçaram-se sobre essas e outras questões e desenvolveram métodos para respondê-las. Para isso, extraíram as relações causais (causa e efeito) entre política econômica e as diferentes variáveis macroeconômicas como o PIB, a inflação, o emprego e o investimento.

Sargent e Sims realizaram suas pesquisas de modo independente, nos anos 1970 e 1980. Os acadêmicos defendem que essas ocorrências (políticas econômicas e eventos macro) são geralmente relações bilaterais. Em outras palavras, ainda que o governo afete a economia, este também é afetado por ela. As expectativas futuras são os primeiros aspectos desta relação futura. O que o setor privado espera da atividade e das políticas econômicas influenciam suas decisões sobre salários, poupança e investimento. Ao mesmo tempo, as decisões dos governos na economia são influenciadas pelas expectativas sobre o que fará a iniciativa privada no longo prazo. Os métodos de Sargent e Sims podem ser aplicados para identificar essas relações, além de explicar o importante papel das expectativas para um país. Isto torna possível averiguar os efeitos de medidas inesperadas por parte do poder público bem como mudanças nas políticas econômicas.

A distinção na área da Economia não está entre as originais criadas por Nobel, mas foi estabelecida em 1968 pelo Banco Central da Suécia.

 Nobel para ideias sob ataque


José Paulo Kupfer - 10 de outubro de 2011

O Prêmio Nobel de Economia deste ano foi concedido, curiosamente, a dois professores americanos filiados a uma linha de pensamento que anda sob ataque desde o eclodir da crise global em 2008. Thomas J. Sargent, da Universidade de Nova York, e Christopher A. Sims, de Princeton, fazem parte do grupo de economistas teóricos conhecidos como “novos clássicos”, que, a partir de fins dos anos 70, desenvolveu a teoria das expectativas racionais – linha teórica que, aliás, já deu o Nobel a outros expoentes do grupo,  Robert E. Lucas Jr., em 1995, e Edward C. Prescott, em 2004.

Sem divergir inteiramente dos “neoclássicos”, encabeçados por outro Nobel e ícone do pensamento econômico ortodoxo, Milton Friedman, os “novos clássicos” avançaram num daqueles infindáveis e inconclusivos debates econômicos, no caso, o dos impactos da política monetária na economia real. A neutralidade ou não da política monetária em relação ao emprego, no curto prazo ou no longo prazo, e suas relações com a inflação, já deu pano para muito manga e certamente continuará dando.

Para os clássicos, a política monetária é neutra em relação ao emprego, só lhe cabendo lidar com a inflação. Para Friedman e os “neoclássicos”, embora ela possa repercutir na economia real, no curto prazo, a moeda é neutra no longo prazo, pois a economia tende a uma taxa “natural” de desemprego. O mestre monetarista da Universidade de Chicago baseava suas conclusões nos princípios da “expectativa adaptativa”, que recorre ao passado para projetar o futuro.

Seus discípulos “novos clássicos”, porém, tiveram de se haver com o fracasso do regime de metas monetárias (estimativa e fixação de limites para a expansão da base monetária), ao longo dos anos 70, época ainda da digestão da quebra do padrão-dólar estabelecido em Bretton Woods, em 1971, e os tumultos produzidos pela reciclagem dos petrodólares. Guerras no Golfo Pérsico e a ação do cartel dos produtores reunidos na OPEP levaram os preços do petróleo às alturas, espalhando excesso de liquidez e pressão inflacionária pelo mundo.

A estagflação registrada no período serviu de estímulo para novas pesquisas e reflexões sobre o papel da política monetária na economia. Daí resultou a teoria das “expectativas racionais”, que, embora filha da mesma matriz teórica do monetarismo de Friedman, focava numa nova regra de expectativas.

Esta regra baseava-se em projeções do comportamento esperado dos agentes econômicos – e não em relação ao que já ocorrera. O problema, como se viu com o colapso e a contração pós-2008, é que a teoria dependia de um alto grau de previsibilidade do comportamento dos agentes e confiava, talvez em excesso, na eficiência dos mercados. Além da regra de expectativa, o esquema teórico dos “novos clássicos” admitia que, no longo prazo, a política monetária, mesmo não afetando a taxa natural de desemprego, poderia produzir um “viés inflacionário”.

De uma maneira simplificada, é essa “constatação” que estará por trás do desenvolvimento do regime de metas de inflação e do princípio da autonomia dos bancos centrais. Para garantir a “neutralidade” da política monetária e controlar a inflação, sem, em tese, afetar o emprego, os bancos centrais deverão se guiar por regras – o regime de metas – e, com elas, alcançar um objetivo inflacionário publicamente anunciado.

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Quem são os premiados com o Nobel 2011 em Economia:

Thomas Sargent- Sargent nasceu em julho de 1943 e se formou bacharel em 1964 na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e tornou-se PhD em 1968 da Universidade Harvard.
-- Ele se especializou no campo da macroeconomia, economia monetária e econometria de séries temporais. Ele é conhecido como 'um dos líderes da revolução de expectativas racionais' e autor de numerosos artigos que romperam barreiras.
-- Em uma série de artigos escritos durante os anos 1970, Sargent mostrou como os modelos macroeconômicos estruturais podem ser construídos, resolvidos e estimados. Sua abordagem acabou sendo particularmente útil na análise de política econômica, mas também é utilizada em outras áreas de macroeconometria e pesquisa econômica.
-- Sargent mostrou como a macroeconometria estrutural pode ser utilizada para analisar mudanças permanentes na política econômica. Esse método pode ser aplicado para estudar relações macroeconômicas quando famílias e empresas ajustam suas expectativas simultaneamente com os desenvolvimentos econômicos.
-- Atualmente, ele é professor de Economia e Negócios na Universidade de Nova York.

Cristopher Sims- Sims nasceu em outubro de 1942 e tornou-se PhD em Economia em 1968 na Universidade de Harvard. Ele foi professor em Harvard, na Universidade de Minnesota, Universidade de Yale e, desde 1999, em Princeton.

-- Sims é membro da Academia Nacional de Ciências (desde 1989) e da Academia Americana de Artes e Ciências (desde 1988).
-- Em seu artigo 'Macroeconomia e Realidade' (1980), Sims introduziu uma nova maneira de analisar dados macroeconômicos. Ele também concordou com Sargent na ênfase da importância das expectativas.
-- Sims propôs um novo método de identificar e interpretar choques econômicos em dados históricos e analisar como tais choques são gradualmente transmitidos para diferentes variáveis econômicas.
-- Sims desenvolveu um método baseado na chamada auto-regressão vetorial para analisar como a economia é afetada por mudanças temporárias na política econômica e outros fatores.
-- Atualmente, ele é Professor de Economia e Bancos na Universidade Princeton.

(Com informações da Reuters e da AFP)

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