Sem cair no economicismo ou no marxismo vulgar é possível dizer que a revolução no mundo árabe é produto da economia. A revolução é consequência à medida que em grande parte é resultado direto daquilo que levou às ondas de protestos em dezenas de países: a opção pelo neoliberalismo dos governantes da região, a insegurança alimentar regional provocada pela elevação dos preços das commodities agrícolas no mercados mundiais desde 2008 em países eminentemente importadores de alimentos e os milhões de desempregados, sub-empregados e pobres, legião ampliada ainda mais após a recente crise mundial.
Liberalismo levou a revoltas dos árabes
Monitor Mercantil, 04/02/2011
ABERTURA DE MERCADOS E CORTES DE SUBSÍDIOS ACIRRARAM EFEITOS DA CRISE
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Williams Gonçalves, a crise política que abala, não apenas o Egito, mas grande parcela do mundo árabe, tem origem bem definida: a opção de alguns governantes da região pelo neoliberalismo.
"Esta crise é produto da economia. O Egito tinha um modelo semi-estatizado desde os anos 50, quando Nasser (Gamal Abdel Nasser, que governou o país entre 1952 e 1971) promoveu forte política nacionalista, fomentando o movimento pan-arabista, começou a modernização da indústria local, falando, inclusive, em socialismo árabe, mas que, na verdade, era um capitalismo de Estado", recorda Gonçalves, acrescentando que o algodão e a indústria têxtil são a base da produção egípcia.
Já Adhemar Mineiro, observador da Rede Brasileira Pela Integração dos Povos (Rebrip), sublinha que há elementos estruturais na crise, mas para entendê-la em profundidade não se pode perder de vista a rejeição popular às medidas liberalizantes: "Na Tunísia, a Central Sindical (IGBT) teve papel importante na derrubada do governo, que retirara subsídios à alimentação e aos combustíveis neste momento em que os preços das commodities dispararam", conta.
No Egito, o economista ressalta as mudanças liberalizantes feitas, especialmente, neste último período de Mubarak no poder, cuja inversão pode trazer conseqüências até para o Brasil. "A corrente de comércio entre Brasil e Egito totalizou US$ 2 bilhões, em 2010. Não é um valor muito alto, mas é concentrado em commodities alimentares, como carne vermelha e frango, e minerais, como minério de ferro. Para esses setores, especificamente, é um volume bastante expressivo."
Alimentando a crise
Marcos Oliveira e Sergio Souto, Monitor Mercantil, 03/02/2011
Os países árabes importam cerca de 60% dos alimentos que consomem e já são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. A informação, publicada em relatório do Banco Mundial (Bird), em 2009, é lembrada pelo professor de Relações Internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser em artigo na edição eletrônica da Agência Carta Maior, para observar como a elevação dos preços das commodities agrícolas no mercados mundiais, desde 2008, levou a "ondas de protestos em dezenas de países e milhões de desempregados e pobres nos países árabes". Ele cita Argélia , em 1988, e Jordânia em 1989, para acrescentar: "Um exemplo mais recente, além da região árabe, é o Quirguistão, onde um aumento da eletricidade e tarifas de celulares causaram manifestações com dezenas de mortos e milhares de feridos."
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