(atualizado em 02/02/2011, às 16h)
Efeito Dominó no mundo Árabe
A Revolução corre pelos países árabes igual efeito dominó
Manifestantes têm protestado contra o alto custo de vida e a falta de liberdades políticas no país. Depois de Tunísia e Egito, a revolta popular árabe contra regimes ditatoriais, conhecida como "Revolução de Jasmim", chegou a Jordânia e Argélia.
Começou na Tunísia, onde a "Revolução de Jasmim" com afastamento do governo do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu do país. Em seguida chegou com força no Egito. Os protestos que tomam conta do Egito desde o dia 25 de janeiro e exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak foram inspirados nas manifestações na Tunísia.
Agora a "onda" chegou à Argélia, Iêmen, Jordânia, Síria, Sudão, que são alguns dos países nos quais os cidadãos saíram às ruas para exigir seus direitos sociais, econômicos e políticos. Todas as manifestações seguem o padrão que têm abalado o mundo árabe: é organizada pela internet e busca maior liberdade de expressão, respeito aos direitos humanos e melhora no padrão de vida. O povo da Tunísia rompeu o costume do medo e mostrou que era possível - com uma velocidade surpreendente - derrubar um regime, com uma dificuldade menor do que a imaginada
Crise econômica e não religião como fermento da revolução
Esta revolta popular que atinge grande parte do mundo árabe é laica, e nada tem haver com o que a grande mídia e o imperialismo, que tenta divulgar ou passar a imagem como um processo com viés islâmico, na tentativa de aterrorizar a opinião pública do Ocidente. Vale lembrar que, esses ditadores laicos são aliado dos países imperialistas, são muito responsável, em relação ao interesse geopolítico na região, por controle (eufemisticamente chamado de "esforços de paz") no Oriente Médio. Por sua vez, a ideologia imperialista cínica defende que os países árabes o senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo. Embora verdade que, o vazio deixado pelo pan-arabismo (tão combatido pelo Ocidente) acabou sendo ocupado pelos movimentos islâmicos que tiveram e têm setores não sectários que são antiimperialistas como o caso do Hezbolah no Líbano e o Hamas na Palestina e outras mais sectárias e fundamentalistas que não tem cumprido este papel. Porém, a revolução vem provando como errada tal ideologia.
O caso exemplar dessa tendência laica e deflagrada pela crise econômica é do incidente que iniciou a primeira onda de protestos na Tunísia. Um vendedor de frutas,que ao atear fogo em seu corpo em 17 de dezembro passado, incendiou seu país até que derrubou o ditador Ben Ali. O caso é realmente exemplar: Bouazizi revoltou-se porque policiais confiscaram sua banca, o espancaram e não devolveram seu negócio que lhe rendia 75 dólares mensais que sustentavam sua mãe e irmã. Seu pai morreu quando ele tinha 3 anos e desde os 10 ele vendia nas ruas depois do colégio.
O jovem que se lançou às chamas, era, na verdade, um universitário graduado que, como tantos outros, não encontrava um emprego apropriado. Ele tentou sobreviver com dificuldades vendendo frutas e legumes, mas até mesmo isso se tornou impossível quando a polícia o deteve por vender sem licença. Em desespero, ele decidiu pôr fim à sua vida em gesto dramático. Ele faleceu algumas semanas mais tarde. Esse incidente provocou uma onda massiva de manifestações e protestos.
Caréstia e desemprego, combustível da revolta
O aumento no preço das commodities, em especial os alimentos, leva à fome, à carestia ou à forte perda no poder de compra, uma das causas das revoltas populares na Tunísia, no Egito e outros países. Esse aumento se deve à especulação financeira, com os alimentos sendo considerados mercadorias e negociados nas bolsas dos mercados e futuros, e não à falta de terras ou capacidade para cultivar.
A carestia dos artigos de primeira necessidade, a consequente fome, e a perda do poder de compra dos salários pela elevação dos preços, associada ao desemprego que explodiu após a crise mundial de 2008, são "combustíveis" que acabam obrigando as populações a assumirem condutas mais críticas e duras contra os governos anti-democráticos.
Os ditadores não ditam, eles obedecem ordens. "Ditadores são sempre fantoches políticos. Os ditadores não decidem." O presidente Hosni Mubarak do Egito, assim como era Ben Ali da Tunísia, é o fiel servidor dos interesses económicos tanto das elites locais como das multinacionais ocidentais. E na crise esses governos,a té mais que os pseudo-democráticos (democráticos burgueses) se veem mais obrigados a atender esses interesses, impondo aos trabalhadores às perdas com a crise e aumento da exploração.
O levante começou como movimento contra o desemprego e a carestia, sobretudo contra o preço dos alimentos, mas rapidamente converteu-se em revolução que exigia liberdades civis e a deposição do homem que a população via como responsável por suas tragédias. As multidões gritavam “Pão, água e sem Ben Ali”.
O regime da Tunísia comprometeu a velha base produtiva da economia, seguindo à risca por anos a fio as recomendações de sempre do FMI e do Banco Mundial, para privatizar indústrias e cooperativas agrícolas do setor público. Em lugar do que antes havia, cresceu uma economia muito mais contingente, de empresas têxteis e call centers operados por investidores estrangeiros, que só ofereciam empregos e subempregos temporários e mal remunerados, e resorts e spas para atrair turistas às ensolaradas praias do país. Turismo e call centers, nos quais os tunisinos trabalhavam como empregados de consumidores ocidentais, são os dois principais itens da lista de exportações recomendada pelo Banco Mundial. Com a crise de 2008 tudo isso veio abaixo.
É por isso, que a grande massa nas ruas denuncia a ilegitimidade também do governo de transição iniciado com a queda de Ben Ali e exige “um novo Parlamento, uma nova constituição e uma nova República”. A revolução na Tunísia é precedente que fez ver no mundo árabe a possibilidade de democratização, é de sua única possibilidade de construção de baixo para cima, e como esta é necessidade primária para lutar contra as consequências do capitalismo.
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