Até intelectuais da burguesia nacional dos segmentos da indústria e comércio já começam a se preocupar com a volta da manifestação de um dos sintomas do fenômeno estrutural da dependência econômica, a dependência nas contas externas, à medida que, seus lucros tornam-se comprimidos devido à dupla macroeconômica que extraí excedente interno para os capitais internacionais, taxa de juros básicas cronicamente alta e câmbio permanentemente sobrevalorizado. | |
A volta da dependência :: Carlos Thadeu de Freitas Gomes
O Globo,quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Déficits nas transações correntes demonstram níveis de investimento superiores ao da poupança doméstica.
Também pode ser visto como a ocorrência de uma demanda agregada maior que o produto do país.
O ano de 2003 marcou a mudança no resultado das transações correntes brasileiras, tendo um superávit de US$ 4,2 bilhões. Estes se sucederam até 2008, quando ocorreu um déficit de US$ 28,2 bilhões.
Até o ano de 2008 o Brasil era um exportador de poupanças. O acumulado em 12 meses até junho de 2010 constatou um déficit de US$ 40,9 bilhões, 2,1% do PIB.
O desenvolvimento da economia brasileira pode ser sustentável, mesmo com o déficit, pois o país tem condições de continuar atraindo capital estrangeiro, visto que o Brasil conseguiu ultrapassar a crise relativamente intacto, enquanto outros países, já maduros, não foram tão bem-sucedidos. A incerteza nas economias desenvolvidas, a demanda por reformas fiscais nesses países e a expectativa de aumento nas taxas de juros internacionais podem afetar negativamente o fluxo de capital estrangeiro.
Portanto, apesar da alta atratividade brasileira, não há garantias de que os investimentos poderão compensar os déficits caso estes se tornem constantes.
O ritmo de crescimento das importações é superior ao das exportações e deve permanecer assim.
Comparando o primeiro semestre de 2010 com o mesmo período de 2009, verifica-se que as importações aumentaram 44,7%, enquanto as exportações cresceram 26,5%. O aquecimento da economia dá maior poder de compra à população, gerando mais consumidores e maior necessidade de importação.
Uma das formas de se impedir que o déficit aumente é incentivando a poupança doméstica, para que esta possa ser uma fonte de financiamento interno.
Como o déficit é a relação entre o produto e a demanda agregada, ao se reduzir esta última pode-se controlar as transações correntes. Para tanto, é necessário reduzir os gastos do governo.
O real tornou-se uma das commodities monetárias mais desejadas, dada a sua trajetória esperada de valorização. Entusiasmado pelo interesse dos investidores pelo real, o Tesouro alongou a dívida interna, mesmo sem a existência de mercados secundários líquidos.
Logo, quando da ocorrência dos primeiros sintomas da desvalorização dos ativos denominados em real, sem portas de saída imediatas, a ansiedade dos investidores é potencializada pelos sucessivos aumentos da cotação do dólar e das taxas de juros futuras.
Os investimentos dos não residentes em títulos públicos já alcançam 8,95% do total da dívida pública mobiliária. Apesar de os títulos serem nominalmente de longo prazo, sua liquidez os transforma em ativos de curto prazo. Qualquer sinal de aumento das taxas de juros que recaem sobre os títulos da dívida pública americana pode estimular a saída de capitais investidos nesses ativos. Como consequência, as taxas de juros que recaem sobre os títulos emitidos pelo Tesouro do Brasil voltariam a subir, e a saída de recursos acarretaria volatilidade cambial.
Em 2005, dadas as expectativas de aumento da taxa de juros americana, os investidores não residentes nos títulos brasileiros, os quais representavam um pequeno percentual, liquidaram suas posições, obrigando o Tesouro a recomprá-las via leilões.
Os investidores que aplicam em ações sofrem perdas de capital ao tentarem sair de suas posições, já que os preços desses ativos refletem essas mudanças. Os investidores não residentes em renda fixa, contudo, não sofrem perdas de capitais em reais ao saírem de suas posições, já que, dada a pouca liquidez do mercado de títulos públicos, o Tesouro garante, via leilões, a recompra desses papéis, ainda que com prejuízo. Logo, todo cuidado é pouco na volta dos capitais voláteis para financiamento dos déficits nas transações correntes do balanço de pagamentos.
CARLOS THADEU DE FREITAS GOMES é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e foi diretor do Banco Central.
Também pode ser visto como a ocorrência de uma demanda agregada maior que o produto do país.
O ano de 2003 marcou a mudança no resultado das transações correntes brasileiras, tendo um superávit de US$ 4,2 bilhões. Estes se sucederam até 2008, quando ocorreu um déficit de US$ 28,2 bilhões.
Até o ano de 2008 o Brasil era um exportador de poupanças. O acumulado em 12 meses até junho de 2010 constatou um déficit de US$ 40,9 bilhões, 2,1% do PIB.
O desenvolvimento da economia brasileira pode ser sustentável, mesmo com o déficit, pois o país tem condições de continuar atraindo capital estrangeiro, visto que o Brasil conseguiu ultrapassar a crise relativamente intacto, enquanto outros países, já maduros, não foram tão bem-sucedidos. A incerteza nas economias desenvolvidas, a demanda por reformas fiscais nesses países e a expectativa de aumento nas taxas de juros internacionais podem afetar negativamente o fluxo de capital estrangeiro.
Portanto, apesar da alta atratividade brasileira, não há garantias de que os investimentos poderão compensar os déficits caso estes se tornem constantes.
O ritmo de crescimento das importações é superior ao das exportações e deve permanecer assim.
Comparando o primeiro semestre de 2010 com o mesmo período de 2009, verifica-se que as importações aumentaram 44,7%, enquanto as exportações cresceram 26,5%. O aquecimento da economia dá maior poder de compra à população, gerando mais consumidores e maior necessidade de importação.
Uma das formas de se impedir que o déficit aumente é incentivando a poupança doméstica, para que esta possa ser uma fonte de financiamento interno.
Como o déficit é a relação entre o produto e a demanda agregada, ao se reduzir esta última pode-se controlar as transações correntes. Para tanto, é necessário reduzir os gastos do governo.
O real tornou-se uma das commodities monetárias mais desejadas, dada a sua trajetória esperada de valorização. Entusiasmado pelo interesse dos investidores pelo real, o Tesouro alongou a dívida interna, mesmo sem a existência de mercados secundários líquidos.
Logo, quando da ocorrência dos primeiros sintomas da desvalorização dos ativos denominados em real, sem portas de saída imediatas, a ansiedade dos investidores é potencializada pelos sucessivos aumentos da cotação do dólar e das taxas de juros futuras.
Os investimentos dos não residentes em títulos públicos já alcançam 8,95% do total da dívida pública mobiliária. Apesar de os títulos serem nominalmente de longo prazo, sua liquidez os transforma em ativos de curto prazo. Qualquer sinal de aumento das taxas de juros que recaem sobre os títulos da dívida pública americana pode estimular a saída de capitais investidos nesses ativos. Como consequência, as taxas de juros que recaem sobre os títulos emitidos pelo Tesouro do Brasil voltariam a subir, e a saída de recursos acarretaria volatilidade cambial.
Em 2005, dadas as expectativas de aumento da taxa de juros americana, os investidores não residentes nos títulos brasileiros, os quais representavam um pequeno percentual, liquidaram suas posições, obrigando o Tesouro a recomprá-las via leilões.
Os investidores que aplicam em ações sofrem perdas de capital ao tentarem sair de suas posições, já que os preços desses ativos refletem essas mudanças. Os investidores não residentes em renda fixa, contudo, não sofrem perdas de capitais em reais ao saírem de suas posições, já que, dada a pouca liquidez do mercado de títulos públicos, o Tesouro garante, via leilões, a recompra desses papéis, ainda que com prejuízo. Logo, todo cuidado é pouco na volta dos capitais voláteis para financiamento dos déficits nas transações correntes do balanço de pagamentos.
CARLOS THADEU DE FREITAS GOMES é economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e foi diretor do Banco Central.
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